Profissionais da assistência social comemoram redução de jornada

A redução da carga horária de trabalho dos assistentes sociais para 30 horas foi comemorada pelos participantes do de...

27/08/2010 - 00:04
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Profissionais da assistência social comemoram redução de jornada

A redução da carga horária de trabalho dos assistentes sociais para 30 horas foi comemorada pelos participantes do debate público realizado nesta sexta-feira (27/8/10), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, para debater o papel dos trabalhadores sociais na consolidação do Sistema Único de Assistência Social (Suas). O anúncio da sanção da lei pelo presidente Lula foi feito pelo presidente da Comissão de Participação Popular e autor do requerimento para a realização do debate, deputado André Quintão (PT). Ele explicou que a redução da jornada é resultado de uma longa luta da categoria. O debate público foi proposto pelos Conselhos Regionais de Psicologia e de Assistência Social, em outro evento realizado na ALMG, em julho, sobre o Suas. "O foco das discussões agora são os trabalhadores", explicou o parlamentar. Duas especialistas convidadas mostraram os avanços e os desafios nessa área.

O deputado aproveitou para cumprimentar os psicólogos pelo seu dia e ressaltou a importância desses profissionais para a consolidação do Suas. Ele também falou da necessidade de valorização de outros profissionais no sistema, como sociólogos, pedagogos, nutricionistas e auxiliares administrativos. "Nenhuma política pública pode ser exclusiva de um grupo profissional, ainda mais quando o que se busca é a intersetorialidade", argumentou. André Quintão ainda manifestou sua indignação com a contratação de assistentes sociais por meio de pregão eletrônico por algumas prefeituras de Minas Gerais e defendeu a realização de concursos públicos. "Assistentes sociais não são como detergente", concluiu.

A precarização das condições de trabalho também foi levantada pela presidente do Conselho Regional de Serviço Social de Minas Gerais, Maria Rosângela Pinheiro Dâmaso. Os agentes da assistência social, segundo ela expôs, são viabilizadores de direitos, atores ativos. "É preciso que eles sejam reconhecidos assim e se reconheçam dessa forma também, comprometendo-se com esse projeto", explicou. Em relação à Norma Operacional Básica (NOB), que está em fase de aperfeiçoamento, a presidente do conselho acredita que é fundamental superar limites corporativistas e criar unidade entre os trabalhadores da assistência social. "É preciso lutar por concurso público e salários compatíveis com a carga horária", afirmou, lembrando que a sanção da redução da jornada é um passo importante, mas a lei precisa ainda de regulamentação.

Flexibilização de contratos ameaça direitos trabalhistas

O presidente do Conselho Estadual de Assistência Social de Minas Gerais, Geraldo Gonçalves de Oliveira Filho, acrescentou que é preciso garantir o cumprimento dos direitos trabalhistas dos profissionais que atuam no Suas. Ele ressaltou que a flexibilização dos contratos de trabalho e as contratações temporárias são uma ameaça a esses direitos. O papel essencial dos profissionais que atuam na assistência social também foi destacado pelo conselheiro do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, Rogério de Oliveira Silva. "Quem leva adiante os projetos, que são de Estado e não de governo, são os profissionais que estão na ponta do processo", afirmou. Ele ainda afirmou que as políticas públicas de assistência social é que permitem que o cidadão acesse as demais políticas públicas, como saúde, educação e emprego.

A diretora de Gestão do Suas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Simone Aparecida Albuquerque, disse que o debate público é um momento oportuno para o ministério avaliar se as políticas que tem adotado estão no caminho certo. A resposta veio da titular da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte, Elizabeth de Almeida Leitão, para quem o MDS é responsável por importantes mudanças no Brasil. "A redução da pobreza e das desigualdades sociais por meio de alianças vincula, hoje, todos os movimentos da assistência social", acrescentou. Em relação a Belo Horizonte, ela considera que seu desafio como gestora é afinar o diálogo dos trabalhadores, que demandam melhores condições de trabalho, com as necessidades dos usuários do sistema. "Não se faz política pública sem valorização do usuário e do trabalhador", concluiu.

O representante do Fórum Mineiro de Defesa e Fortalecimento do Suas, Ronaldo José Sena Camargos, listou os temas que têm tido destaque nas discussões do fórum, que são o Projeto de Lei 3.077/08, que regulamenta o Suas em âmbito Federal; a consulta para aprimorar o processo de eleição dos representantes da sociedade civil no Conselho Nacional de Assistência Social; a revisão da NOB; e a defesa do concurso público para os trabalhadores da assistência social. "O trabalhador é a principal tecnologia dentro desse sistema", afirmou, informando que, em Minas, não há concursos desde a década de 80.

Especialistas destacam avanços e desafios

Após os pronunciamentos de abertura do debate, Simone Aparecida Albuquerque, do MDS, e a presidente do Colegiado de Gestores Municipais de Assistência Social de Minas Gerais, Júlia Restori, fizeram uma análise dos avanços obtidos desde 2005, quando foi implementada a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos (NOB-RH), bem como dos desafios a serem enfrentados pelo setor.

Entre as principais conquistas, segundo Simone, está o crescimento do percentual de prefeituras que contam com uma Secretaria Municipal de Assistência Social, que passou de 59% para 71% dos municípios brasileiros. Ela informou também que em 2009 o número de primeiras-damas identificadas como titulares dessas secretarias caiu 30% em relação a 2005, o que sinaliza para uma profissionalização da atividade. Além disso, houve, no ano passado, um aumento de 9,7% na quantidade de pessoas contratadas na área da assistência social em relação a 2008.

Júlia destacou avanços no sentido da agregação de outros profissionais no sistema, como psicólogos, nutricionistas, advogados e pessoal de apoio. Ela elogiou também a destinação de 9,1% do Orçamento federal para a área da assistência social, acima dos 5% historicamente reivindicado pelo setor. O MDS é o terceiro ministério que mais recebe verbas da União, atrás apenas das pastas da Saúde e da Educação, informou Simone Albuquerque. Júlia Restori citou ainda que houve melhorias no controle social da rede de assistência.

As dificuldades ainda a serem superadas passam, segundo as duas especialistas, principalmente pela gestão. O trabalho realizado por um governo costuma ser interrompido pelo sucessor. Além disso, é necessário garantir a capacitação e o apoio técnico aos gestores pelo Estado, o que muitas vezes não acontece. Júlia citou ainda que em muitos municípios sequer existe estrutura para que os profissionais exerçam suas atividades de maneira digna. Simone acrescentou que, a despeito da crescente profissionalização do setor, ainda é constante a prática de indicações políticas para as funções gestoras da assistência social nos municípios, pois permanece forte a ideia de que a assistência aos mais pobres pode ser feita de forma precária. André Quintão lembrou, no entanto, que muitas prefeituras alegam não ter dinheiro para promover a assistência social, mas usam verbas na contratação de bandas para animar festas. "Às vezes o problema é a falta de consciência dos administradores públicos", criticou o deputado.

Plano de carreira - A coordenadora do Fórum dos Trabalhadores da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte, Neuza Maria de Lima, chamou a atenção para a precarização do trabalho na área, principalmente em relação às desigualdades entre profissionais efetivos e contratados. Segundo Neuza, a Secretaria Municipal não realiza concurso público há mais de sete anos, o que gera necessidade de terceirização dos trabalhos. "A terceirização é um problema porque uma política pública tem que ter o quadro funcional estável, não podendo viver à mercê da rotatividade dos trabalhadores", criticou.

A falta de um plano de cargos e salários também faz parte das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores da assistência social em Minas. Segundo Neuza Lima, os salários diferentes pagos pelo exercício de funções iguais se deve à contratação de organizações não-governamentais, que têm autonomia para definir quanto os contratados vão receber pelas funções exercidas. Para Neuza, a NOB-RH pode contribuir com a resolução desse impasse se for implementada, pois "define o lugar do trabalhador, que é quem consolida a política de assistência social".

O deputado André Quintão destacou que é necessária a organização e mobilização dos trabalhadores da assistência social para que reivindicações como concurso público, plano de carreira e formação continuada sejam atendidas pelo poder público. Para o deputado, a votação de um projeto de lei nacional e quatro projetos estaduais para a assistência social deve ser acompanhada e cobrada pelos profissionais.

 

 

 

 

 

 

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