Carro é vilão das cidades, segundo participantes de Ciclo de Debates
O carro é o grande vilão do trânsito nas cidades, de acordo com os primeiros palestrantes do Ciclo de Debates Desafios da Mobilidade Urbana na Região Metropolitana de Belo Horizonte, aberto nesta quarta-feira (25/8/10) no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O diretor da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Rogério Belda, defendeu que os governos tratem o transporte coletivo como prioritário. O engenheiro e consultor Osias Batista disse que o automóvel é, por natureza, "indisciplinado". Por isso, deve ser alvo de fiscalização sistêmica. Ambos participaram do painel "As condições de deslocamento nas cidades e o desenvolvimento urbano", que abriu a fase de palestras do Ciclo de Debates.
"Só há uma possibilidade de garantir a mobilidade urbana: dar prioridade ao transporte público", afirmou Rogério Belda. De acordo com o diretor da ANTP, se toda a população de uma metrópole usasse o carro para se deslocar, seria necessário mudar a cidade de lugar, por falta de espaço para outras atividades. Esse cenário não está longe da realidade em locais como São Paulo, onde, segundo Belda, 50% dos deslocamentos são feitos por meio de automóveis.
Como soluções para o problema, o diretor da ANTP defendeu que sejam estudadas restrições à circulação dos carros e que pelo menos um terço dos corredores viários sejam destinados exclusivamente aos ônibus. Nas cidades maiores, de acordo com ele, isto deve ser conjugado com o investimento em transporte de massa, como o metrô.
Na opinião de Belda, a realização no Brasil da Copa do Mundo, em 2014, é uma oportunidade de o País investir em mobilidade urbana, com soluções que atendam o público durante as competições e permaneçam após seu encerramento.
Infraestrutura não acompanha demanda do tráfego
O engenheiro e consultor Osias Batista afirmou que é preciso impor limites à circulação dos carros, por meio da fiscalização sistêmica, uma vez que o crescimento da demanda do tráfego é praticamente ilimitado, enquanto a infraestrutura urbana tem duas limitações para crescer: a tecnologia e o espaço físico disponíveis. Ele deu o exemplo do bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte. Alvo de ocupação acelerada nas últimas duas décadas, o Buritis ficou célebre pelos congestionamentos. Uma série de obras viárias da prefeitura melhorou o tráfego num primeiro momento, mas acabou por valorizar o bairro e atrair novos investimentos imobiliários. O resultado é que o Buritis voltou a sofrer com os problemas de trânsito.
Como alternativa para solucionar a equação entre crescimento do tráfego e infraestrutura, Batista defendeu que o planejamento da mobilidade acompanhe a organização do uso e da ocupação do solo. Na palestra anterior, Rogério Belda havia citado o caso de Curitiba, apontada como modelo positivo de mobilidade urbana. De acordo com ele, a capital do Paraná é uma das poucas cidades do País a realizar os planejamentos de tráfego e de ocupação urbana simultaneamente.
Políticas públicas - O Ciclo de Debates tem como objetivo discutir as políticas públicas de transporte e trânsito na Capital e em seu entorno. As discussões começaram na tarde desta quarta-feira (25) e seguem na quinta-feira (26), de 9h às 18h. O evento foi solicitado pelo deputado Carlin Moura (PCdoB), que coordenou o primeiro painel, e pela deputada Maria Tereza Lara (PT). Mais informações no hotsite do Ciclo de Debates.
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