Conceição do Pará: inquérito não vê participação de PMs em
assassinato
A Polícia Civil descarta a possibilidade de
participação de policiais militares no assassinato de Webert
Francisco do Carmo, ocorrido no dia 28 de julho em Conceição do Pará
(Centro-Oeste do Estado). Na reunião da Comissão de Direitos Humanos
da Assembleia Legislativa de Minas Gerais realizada nesta
terça-feira (17/8/10), o delegado da Divisão Avançada de Homicídios
de Betim, Álvaro Homero Huertas dos Santos, disse não ver indícios
da participação de PMs no crime.
Webert Francisco do Carmo foi encontrado morto no
dia 29 de julho, amarrado dentro de um saco cheio de pedras dentro
da Lagoa da Mina, a poucos metros do centro de Conceição do Pará.
Havia suspeitas de que ele teria sido executado por policiais
militares, uma vez que há dois anos denunciou à Comissão de Direitos
Humanos ser vítima de ameaças de morte. Moradores de Conceição do
Pará acusam os PMs da cidade de participação em crimes como
extorsão, tortura, sonegação fiscal e acobertamento de roubo de
cargas.
Segundo o delegado Álvaro Santos, que preside as
investigações do assassinato, o inquérito, que já tem mais de 340
páginas, deve concluir pela não participação dos PMs. "Tudo indica
que foi um crime de mando, e sua execução não foi feita por PMs",
adiantou. A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que Webert
Francisco do Carmo tenha sido executado em função de dívidas com
traficantes de drogas. Usuário de crack, ele estaria em débito com
traficantes de Belo Horizonte e de Conceição do Pará, de acordo com
o delegado.
A promotora da comarca de Pitangui, Paloma Coutinho
Coballido, que acompanhou as investigações, corrobora a tese da
Polícia Civil. "O que se pode afirmar é que as provas não levam a
crer que os policiais militares foram os autores desse crime",
afirmou. Segundo a promotora, um dos melhores amigos de Webert,
conhecido como "Leandrinho", citou a participação de outras duas
pessoas no assassinato e desmentiu as supostas ameaças recentes de
PMs à vítima.
Mesmo sem terem participado desse homicídio, os
policiais militares de Conceição do Pará respondem a um inquérito
instaurado pela Corregedoria da PM. O sargento Regicardo Antônio
Rosa e o cabo José Geraldo da Silva estão presos no 23o
BPM de Divinópolis (Região Centro-Oeste). Outros três militares
foram transferidos para Patos de Minas (Alto Paranaíba) para não
atrapalhar as investigações.
Segundo o subcorregedor da PM, tenente-coronel
Valter Braga, os policiais estão sendo investigados por 14 delitos,
como ameaças, prevaricação, tortura e abuso de autoridade. Já foram
ouvidas 36 testemunhas, e seria necessário tomar pelos menos outros
15 depoimentos, de acordo com o subcorregedor. Após a conclusão
desse inquérito, será instaurado um processo administrativo
disciplinar, no qual os acusados têm direito a ampla defesa. Caso
eles sejam considerados culpados, podem ser punidos com advertência
e até demissão.
Deputado cobra agilidade nas investigações
O presidente da Comissão de Direitos Humanos,
deputado Durval Ângelo, que solicitou a audiência, cobrou agilidade
na conclusão do inquérito do homicídio de Webert Francisco do Carmo
e também nas investigações que vêm sendo feitas pela Corregedoria da
Polícia Militar.
O deputado relatou que viu a população de Conceição
do Pará aterrorizada pela atuação truculenta da PM. "As estatísticas
mostram que a cidade tinha índices alarmantes de criminalidade, o
que demonstra que havia conivência com o crime ou que o método da
Polícia Militar era ineficaz", comentou.
O representante da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB-MG), William dos Santos, defendeu a exclusão dos PMs da
corporação. Ele pediu providências para averiguar a denúncia de que
a Lagoa da Mina seria um local de desova de cadáveres. O deputado
Durval Ângelo disse que vai apresentar na próxima reunião da
comissão um requerimento para pedir ao Corpo de Bombeiros a
varredura da lagoa. Ele também vai pedir o encaminhamento das notas
taquigráficas da reunião às Polícias Civil e Militar e ao Ministério
Público.
Presenças - Deputado
Durval Ângelo (PT), presidente. Também participaram da reunião o
ouvidor de polícia Paulo Vaz Alkmin; os vereadores Ademilson Campos
Conceição e Geraldo Leão Câmara; o integrante da Rede Nacional de
Advogados Populares, Élcio Pacheco; e o defensor público Gustavo
Corgozinho.
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