Testemunha liga Bola e GRE ao desaparecimento de duas
pessoas
O envolvimento de Marcos Aparecido dos Santos, o
"Bola", e de integrantes do Grupo de Resposta Especial (GRE) da
Polícia Civil no desaparecimento de dois homens em maio de 2008 foi
denunciado por uma testemunha em reunião da Comissão de Direitos
Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta terça-feira
(13/7/10). Bola é suspeito de envolvimento no desaparecimento de
Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno.
Requerida pelo presidente da comissão, deputado
Durval Ângelo (PT), a reunião teve como objetivo discutir as
providências tomadas pela Polícia Civil diante de denúncias
apresentadas em novembro de 2009 à corregedoria da corporação, que
relatavam o envolvimento do homens do GRE no desaparecimento de
Paulo César Ferreira e Marildo Dias.
Presente na reunião desta terça (13) usando um
capuz para não ser identificada, a testemunha reiterou as denúncias.
O homem relatou que, na noite do dia 5 de maio de 2008, estava preso
em estabelecimento prisional de Sete Lagoas quando presenciou a
chegada de Paulo César Ferreira e Marildo Dias, conduzidos por uma
viatura do GRE. Os dois homens teriam permanecido no estabelecimento
por 20 minutos e seguido para outro local na viatura do GRE. O homem
relatou que, após denunciar o caso, começou a ser vigiado, inclusive
pelo Bola.
Início das suspeitas - No
início da reunião, Durval Ângelo fez um relato de como começaram, em
2009, as suspeitas da comissão sobre a atuação de policiais do GRE.
Segundo ele, havia indícios de que policiais do grupo estariam
envolvidos em fraudes na compra de veículos.
O deputado contou que na mesma época, foi procurado
pelo inspetor Júlio César Monteiro, que denunciou a existência de um
grupo de extermínio atuando dentro do GRE. Segundo o relato do
investigador, esse grupo atuaria com requintes de crueldade, fazendo
uso de cachorros para torturar as pessoas e depois queimando as
vítimas. Ainda de acordo com o parlamentar, o inspetor teria dito
que Bola, proprietário do sítio onde seriam feitos os treinamentos
do GRE, seria um bandido perigoso, capaz de fazer um corpo
desaparecer para sempre.
Depois disso Durval Ângelo foi procurado por duas
senhoras, que denunciaram o desaparecimento de seus maridos, Paulo
César Ferreira e Marildo Dias, na região onde fica o sítio de
treinamento do GRE. Segundo o deputado, as famílias relataram que os
dois desaparecidos estariam interessados em adquirir terrenos
próximos ao sítio de treinamento. Por causa disso eles teriam sido
torturados e assassinados por policiais.
Durval Ângelo destacou que os relatos eram muito
consistentes e as denúncias foram encaminhadas para a Corregedoria
da Polícia Civil. Segundo o parlamentar, após as denúncias, as
testemunhas foram vítimas de ameaças.
Inquérito que investiga desaparecimentos ainda está
em andamento
O corregedor-geral da Polícia Civil, Geraldo de
Morais Júnior, informou que o inquérito sobre o desaparecimento de
Paulo César Ferreira e Marildo Dias ainda não foi concluído. Ele
explicou que, após receber a denúncia da Comissão de Direitos
Humanos em novembro de 2009, as investigações foram iniciadas.
Entretanto, como os dois homens já haviam desaparecido há mais de um
ano, a perícia não conseguiu encontrar indícios de sangue ou dos
corpos.
"Já ouvimos mais de 40 pessoas no inquérito e
estamos no momento fazendo a análise de todas as informações,
inclusive o cruzamento de ligações telefônicas. É uma investigação
criteriosa, que está sendo acompanhada pelo Ministério Público",
destacou.
O subcorregeddor da Polícia Civil e delegado
responsável pela investigação, Alexandre França Campbell,
acrescentou que o inquérito já tem mais de três volumes de
documentos. Questionado por Durval Ângelo pela demora na conclusão
do trabalho, Alexandre Campbell afirmou que não há como estipular
prazo para finalizar uma investigação.
Ouvidoria - O ouvidor de
Polícia, Paulo Vaz Alkmin, informou que também foi acionado pela
Comissão de Direitos Humanos no final de 2009. Segundo ele, após as
denúncias apresentadas por Durval Ângelo, foram ouvidos os
familiares dos dois homens desaparecidos, quando então foram
constatados indícios fortes de participação de policiais. "Os dados
apurados foram suficientes para que encaminhássemos uma solicitação
de abertura de inquérito pela corregedoria para que os fatos fossem
investigados", afirmou.
Corregedoria desconhecia participação de Bola nos
treinamentos do GRE
Em relação às denúncias de que o ex-policial Bola
participaria de cursos de treinamento oferecidos a policiais do GRE,
o corregedor-geral Geraldo de Morais Júnior afirmou que desconhecia
esse fato. Ele disse ter tomado conhecimento da situação apenas com
a divulgação dos vídeos pela imprensa, em que Bola aparenta estar
participando dos cursos. "Até então apenas tínhamos conhecimento de
que Bola alugava o sítio para os treinamentos do GRE", afirmou.
Geraldo de Morais Júnior informou que já determinou
a abertura de procedimento para investigar a participação de Bola
nos cursos. Segundo ele, as informações obtidas até o momento
indicam que os vídeos veiculados teriam sido gravados em 2007 ou
2008. O ouvidor de Polícia Paulo Vaz Alkmin afirmou que também já
solicitou informações para a Academia de Polícia sobre a realização
dos cursos no sítio de Bola.
Já o promotor Rodrigo Filgueira de Oliveira
questionou os critérios utilizados pela Polícia Civil na escolha dos
policiais que participam do GRE. Ele também questionou o fato do
sítio de Bola ter sido escolhido como local de treinamento, o que
indicaria uma informalidade descabida em cursos destinados ao grupo
de elite da Polícia Civil. Por fim, o promotor afirmou que ainda não
há provas da existência de um grupo de extermínio ligado ao GRE, mas
considerou que, com o andamento das investigações, muitos fatos
ainda podem aparecer.
Agentes penitenciários também fizeram curso
Outro assunto debatido na reunião foi a
participação de agentes penitenciários nos cursos oferecidos pelo
GRE. O deputado Durval Ângelo questionou o motivo da participação
desses servidores nos cursos. O superintendente de Segurança
Prisional, Hamilton Mitre, explicou que esses cursos não fizeram
parte dos treinamentos oferecidos pela Secretaria de Estado de
Defesa Social.
"Era uma atividade extracurricular, cujos
certificados foram assinados pela Polícia Civil mas não foram
considerados na pasta funcional dos servidores", afirmou. Segundo
Hamilton Mitre, cerca de 50 agentes penitenciários fizeram o curso
em 2008. Ele ainda garantiu que os agentes que participaram do curso
informaram que o Bola não participava como instrutor, apenas filmava
as atividades.
Durval Ângelo defende o fim do GRE
O deputado Durval Ângelo defendeu a extinção do
GRE, que, segundo ele, já havia sido defendida pela Comissão de
Direitos Humanos no final de 2009, quando as primeiras denúncias
sobre a atuação do grupo apareceram. Ele destacou que não faz
sentido a existência de um grupo de elite na estrutura da Polícia
Civil, que exerce a função de polícia judiciária.
O parlamentar leu na reunião uma carta enviada
pelos policiais que integram o GRE, na qual eles defendem a
manutenção do grupo e consideram que a sua extinção representaria um
retrocesso. Os policiais destacam que o grupo desenvolve um papel
essencial e sua criação representou um aprimoramento dos serviços
prestados pela Polícia Civil.
Na carta, os integrantes do GRE também criticam a
atuação da imprensa nas investigações do caso do goleiro Bruno. Para
eles, as informações divulgadas ligam os policiais do GRE aos
crimes, sem que as investigações e processos judiciais tenham sido
concluídos. Também criticam o fato de que a abordagem da imprensa
acaba por incriminar todos os policiais do grupo, o que vem causando
grandes constrangimentos a seus integrantes.
Presenças - Deputado
Durval Ângelo (PT), presidente. Também participaram da reunião o
delegado Luiz Fernando da Silva Leitão e o subcorregedor da Polícia
Civil, Antônio Gama Júnior.
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