Participantes de debate público defendem aprimoramento do Suas

O foco na qualidade dos serviços prestados, na valorização do profissional, em uma gestão intersetorial e no monitora...

09/07/2010 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Participantes de debate público defendem aprimoramento do Suas

O foco na qualidade dos serviços prestados, na valorização do profissional, em uma gestão intersetorial e no monitoramento e controle social foram os principais pontos que devem ser aprofundados para o aprimoramento e fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social (Suas). Esses pontos foram defendidos, nesta sexta-feira (9/7/10), pelos participantes do Debate Público Consolidando o Sistema Único de Assistência Social, promovido pela Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O evento teve como objetivo lançar o Fórum Mineiro de Defesa e Fortalecimento do Suas e rever a sua Norma Operacional Básica (NOB).

Na abertura do evento, o presidente da Comissão de Participação Popular e autor do requerimento para o debate, deputado André Quintão (PT), considerou que o Suas, mesmo sendo uma política nova e inovadora, já necessita de um momento de reflexão para reavaliação e aprimoramento. Ele reconheceu que a universalização e a cobertura do Suas têm avançado rapidamente em Minas Gerais e no Brasil, apesar de ainda existirem municípios mineiros que não contam com sua presença.

André Quintão destacou quatro pontos principais que devem ser foco de aprimoramento: a qualidade dos serviços prestados, a valorização do profissional, a gestão intersetorial e o monitoramento e controle social. No que tange à qualidade dos serviços, ele considerou que de nada adianta a universalização da cobertura do Suas se a qualidade do serviço prestado for ruim e o usuário não for atendido. Sobre a valorização do profissional, o parlamentar defendeu a realização de concursos públicos para contratação de profissionais qualificados, além da necessidade de constante capacitação.

Em relação à gestão intersetorial, ele explicou que o sistema não pode ficar fechado e seus resultados dependem de uma gestão integrada com outras áreas. "É preciso dialogar com outros segmentos, como saúde, cultura, esportes e educação, para que a política gere de fato resultados na vida das pessoas", afirmou. Outro ponto destacado por André Quintão foi o aprimoramento dos mecanismos de avaliação das políticas públicas e o monitoramento dos seus resultados. "A avaliação das políticas também é um mecanismo fundamental para verificar a eficiência das ações desenvolvidas", considerou.

Conselhos - O fortalecimento dos conselhos estaduais e municipais foi defendido pelo presidente do Conselho Estadual de Assistência Social, Geraldo Gonçalves de Oliveira Filho, como uma forma de aprimoramento dos mecanismos de controle social da aplicação das políticas públicas. "A administração pública somente será mais eficiente se puder ser cobrada e controlada pela sociedade", considerou. Nesse sentido, a diretora de Gestão do Suas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Simone Albuquerque, disse que as novas regras que serão implantadas no Suas a partir de 2010 oferecerão mais recursos para os conselhos.

Já secretária de Estado de Desenvolvimento Social, Ana Lúcia Gazzola, considerou que o Suas é hoje um eficaz instrumento de consolidação da cidadania e de combate à desigualdade social. Ela ressaltou a importância do aprimoramento. "A assistência social não é só o acesso a benefícios sociais, mas inclui o desenvolvimento de uma agenda proativa, gerando novos direitos a serem conquistados".

Segundo ela, Minas Gerais serve como um laboratório para o Brasil, na medida em que possui 853 municípios com problemas e realidades que podem ser encontrados em todo o País. "Diante dessa variedade de realidades, é preciso compreender que não existe uma solução única, sendo necessário pensar na realidade e na especificidade de cada município", considerou. Nesse sentido, Ana Lúcia Gazzola destacou a importância da criação do Fórum Mineiro, que deverá se consolidar como um espaço de troca de experiências, aprimoramento da política pública e correção de eventuais erros.

Fórum Mineiro defende aprovação de projeto que fortalece o Suas

A aprovação do Projeto de Lei Federal 3.077/08, que tramita no Congresso Nacional, incorpora o Suas à Lei Orgânica de Assistência Social (Loas) e promove uma maior regulamentação do sistema, foi apresentada como a principal reivindicação do Fórum Mineiro de Defesa e Fortalecimento do Suas. Durante o debate público foi realizado o lançamento oficial do fórum, que tem como objetivo manter em pauta na sociedade assuntos ligados à consolidação do Suas como uma política pública. Em nome da Comissão de Participação Popular, o deputado André Quintão recebeu dos organizadores um informativo sobre o fórum.

A presidente do Conselho Regional de Serviço Social, Maria Rosângela Pinheiro Dâmaso, considerou que o lançamento do fórum representa um momento histórico. Ela explicou que, na verdade, o fórum teve importante atuação no passado, em especial na década de 90, e o resultado foi a institucionalização da assistência social como política pública, combatendo a cultura do clientelismo e assistencialismo existente no Brasil. "Agora estamos de volta, nos reunimos novamente, contando com uma participação mais ampla de outros segmentos da sociedade, como os psicólogos", afirmou.

Para Maria Rosângela Pinheiro, a volta do fórum deverá servir como um instrumento de vigilância, para que a sociedade não perca os direitos conquistados. Ela afirmou ainda que além da defesa do projeto de lei federal, o fórum pretende lutar pela aprovação de legislação nos estados e municípios para regulamentar o funcionamento do Suas e valorizar o assistente social. Por fim, ela destacou que o fórum está aberto a todos os interessados em lutar pela consolidação das políticas públicas ligas à assistência social no Brasil.

Conselho de Psicologia - A importância da participação do Conselho Regional de Psicologia no Fórum Mineiro de Defesa e Fortalecimento do Suas foi outro assunto tratado no debate público. O presidente do conselho, Rogério de Oliveira Silva, afirmou que a psicologia deve exercer um papel de destaque no aprimoramento do Suas, já que ela é fundamental para garantir que as pessoas possam de fato vivenciar o acesso aos diretos. "A assistência social vem garantindo a ampliação da cidadania e o acesso aos direitos, e a psicologia pode contribuir para que as pessoas possam viver os seus direitos", disse. Ele também considerou que o fortalecimento das políticas públicas de assistência social é importante para garantir a emancipação do cidadão e a construção de uma sociedade inclusiva.

Especialistas detalham pontos para revisão da NOB

Os pontos levantados pelo deputado André Quintão em relação à necessidade de revisão da NOB foram aprofundados pelas expositoras do painel "Novas regras para o Suas: a Norma Operacional Básica 2010". A diretora de Gestão do Suas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Simone Aparecida Albuquerque, lamentou que a assistência social no Brasil ainda conviva com a figura do assistencialismo, apesar de ter sido implantada exatamente para romper com ele. Assim, ainda vigora uma falsa visão da realidade, na qual a assistência social é muitas vezes associada a uma imagem de acomodação dos usuários e de culpabilização das famílias.

Ao informar que o debate sobre a reavaliação da NOB vem sendo realizado há quase dois anos por gestores federais, estaduais e municipais, Simone apresentou alguns números da assistência social no País. Segundo ela, 99,3% dos municípios brasileiros já aderiram ao Suas. Em Minas esse percentual chega aos 100%. O estágio inicial de implantação do sistema atinge 16,2% dos municípios brasileiros; cerca de 77% estão em estágio básico de gestão e por volta de 6% já atingiram a gestão plena.

"Os números apontam para um avanço significativo para constituirmos uma área pública na qual o Estado passa a assumir sua responsabilidade com a assistência social no Brasil", avaliou. Nesse sentido, os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, por exemplo, demonstram um forte potencial de atingir a almejada intersetorialidade entre as políticas sociais, como as ligadas à saúde e à educação, considerou a diretora.

Estrutura - Um problema a ser atacado na revisão da NOB, segundo ela, diz respeito à infraestrutura. A presidente do Colegiado de Gestores Municipais de Assistência Social de Minas Gerais, Júlia Maria Muniz Restori, defendeu que essa estrutura deve estar implantada no local onde estão as pessoas necessitadas, e não em salas de secretarias, como acontece em 40,3% dos municípios que aderiram ao Suas.

Ao defender a profissionalização dos recursos humanos, Simone afirmou que em 24% dos municípios as secretárias municipais de assistência social são as esposas dos prefeitos. Apesar desse número ter caído 20% nos últimos seis anos, ainda é necessário ficar atento a essa questão, disse ela, enfatizando que o número de profissionais cresceu 38% no mesmo período.

Outra ideia discutida pelos gestores na revisão da NOB está em criar patamares de qualidade, construídos a partir de indicadores tipificados. "Precisamos de padrões nacionais de qualidade para os serviços", afirmou, explicando que essa qualidade significa, entre outras coisas, a estrutura de gestão nos municípios, investimentos na qualificação dos servidores e a intersetorialidade do sistema com áreas que podem colaborar com a melhoria da assistência social no Brasil.

Cultura - A importância da participação ativa nesse processo foi destacada pela subsecretária de Estado de Assistência Social, Maria Albanita Roberta de Lima. "É nos municípios que se apresentam as maiores dificuldades operacionais da assistência social", disse ela, lembrando que a maioria das cidades não possui uma gestão adequada dos recursos financeiros e que elas ainda não se apropriaram da cultura do planejamento, ponto considerado fundamental por Júlia Restori.

Sobre essa questão, André Quintão afirmou que muitos dos municípios que pedem apoio parlamentar para conseguir um automóvel para o conselho tutelar gastam muito mais dinheiro para financiar uma festa. "Esse debate o município tem que fazer", cobrou.

Um desafio para a criação de patamares uniformes é a grande diversidade dos municípios na capacidade de assumir as ações necessárias, alertou a gestora de Ensino e Pesquisa da Fundação João Pinheiro, Laura da Veiga. Enquanto nas grandes cidades a gestão de sistemas de informação é algo simples, nos municípios pequenos essa tarefa constitui um obstáculo. Ela definiu o Suas no Brasil como um laboratório e um canteiro de obras ao mesmo tempo, sempre em construção e em experimentação de novas práticas positivas.

 

 

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