Comissão pede solução para irregularidades em processos contra PMs

Pressão de oficiais da Polícia Militar para antecipação de alta dos policiais em tratamento psiquiátrico, falhas nas ...

22/06/2010 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Comissão pede solução para irregularidades em processos contra PMs

Pressão de oficiais da Polícia Militar para antecipação de alta dos policiais em tratamento psiquiátrico, falhas nas perícias médicas e interferências nas avaliações para afastamentos por motivo de saúde foram algumas das denúncias apresentadas durante audiência pública da Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta terça-feira (22/6/10). A reunião foi solicitada pelo deputado Sargento Rodrigues (PDT) para ouvir convidados sobre possíveis irregularidades em notificações de processos administrativos de policiais internados para tratamento psiquiátrico.

O parlamentar lembrou que o artigo 44 da Lei 14.310, de 2002, que traz o Código de Ética e Disciplina dos Militares, determina que o cumprimento da sanção disciplinar por militar afastado do serviço ocorrerá após sua apresentação na unidade. Ele falou da situação do cabo PM Silvano David Ribeiro, de Uberlândia, que foi expulso da corporação durante seu tratamento na Clínica Serra Verde, em Belo Horizonte. "Esse não é o único caso em Uberlândia", afirmou o deputado. Para ele, a expulsão do militar é irregular e precisa ser revista.

O cabo Silvano garantiu que em 12 anos de serviço à PM nunca sofreu nenhuma punição ou queixa e que, em 2005, tentaram envolvê-lo como articulador da fraude em um concurso para policiais em Uberlândia. Ele disse não ter sido notificado da demissão que resultou desse episódio. O advogado do policial, Daniel Igor Mendonça, acrescentou outras denúncias contra a corporação, como a de que não teve acesso à integra do processo contra o seu cliente. Mendonça informou que recorreram à Justiça com ação anulatória de decisão e também de exibição de documentos. O advogado disse que havia partes do processo adulteradas e que, na Diretoria de Recursos Humanos da PM, tentaram dar a ele cópias de partes do processo como se fossem documentos originais.

De acordo com o advogado, o diretor da Clínica Serra Verde também teria sido coagido a assinar o documento de recebimento de notificação sob ameaça de prisão por desacato. Ele ainda comentou outros exemplos que sugerem irregularidades nos processos envolvendo policiais adoecidos, como o de um cliente que recebeu um laudo do Instituto Médico Legal concluindo pela total incapacidade do policial para os atos da vida civil e outro da Junta Central de Saúde da PM (JCS) alegando que o mesmo servidor é totalmente capaz para continuar em atividade. "Como uma pessoa pode ter diagnósticos tão discrepantes?", questionou.

Perito denuncia PM por assinar laudos sem participar da perícia

O médico perito Alexandre Augusto Vianna Costa, que trabalhou na Clínica Serra Verde por dois anos, denunciou a presidente da JCS, coronel Maria de Lourdes Ferraz, por assinar os laudos sem ter participado das perícias, o que é crime, segundo enfatizou o médico. Segundo ele, mais de 90% dos laudos têm conclusões divergentes dos diagnósticos feitos pelos médicos assistentes. Ele afirmou que a instituição tem demitido servidores com mais de 20 anos de trabalho e citou vários casos de policiais alcoólatras exonerados quando, na opinião dele, precisariam ser tratados. O perito também confirmou as denúncias recebidas pelo deputado Sargento Rodrigues de que a direção da clínica estaria sendo pressionada pelos comandantes da PM para antecipar as altas dos militares internados. Eles ameaçavam romper o convênio com a clínica caso a determinação não fosse observada.

Outra vítima - O sargento Antônio Carlos de Melo disse se considerar uma outra vítima das arbitrariedades cometidas pela Polícia Militar. Ele passou por duas internações na Clínica Serra Verde e também teve seus laudos assinados pela coronel Maria de Lourdes, embora não a conheça. De acordo com o sargento, a corporação não reconhece as doenças psicológicas dos servidores. "Problema de saúde para a PM é estar morto ou todo quebrado", desabafou. O deputado Sargento Rodrigues acrescentou que os policiais estão doentes porque ficam anos em contato com as mazelas da sociedade.

Coronel da PM nega irregularidades em processos administrativos

Para o diretor de Recursos Humanos da PM, coronel Juarez Nazareth, o processo contra o cabo Silvano, tratado na reunião, seguiu todos os procedimentos legais, tendo sido respeitado o direito de defesa do acusado em todas as etapas. Ele disse que a instituição está à disposição para receber formalmente as denúncias e tomar as providências necessárias. O coronel também afirmou desconhecer os problemas de acesso aos autos do cabo Silvano e convidou o advogado do policial a retornar à Diretoria de Recursos Humanos para consultar o processo.

O representante da PM também disse que o inquérito aberto para apurar a fraude no concurso de Uberlândia apontou a participação do cabo Silvano e, por isso, foi aberto o processo administrativo que resultou na demissão do servidor. A notificação da decisão cabe à unidade do policial punido e, segundo ele, foi por isso que um servidor do 17º Batalhão da PM foi à Clínica Serra Verde enquanto o cabo Silvano estava em tratamento. Como o diretor da clínica não concordou em comunicar a decisão ao paciente, o advogado dele foi cientificado da decisão. O recurso apresentado junto ao governador foi negado em fevereiro deste ano, mantendo a demissão.

O deputado Sargento Rodrigues questionou mais uma vez a irregularidade da notificação e também o amplo direito ao contraditório. "Se o advogado não teve acesso nem ao processo inteiro, como podemos dizer que houve amplo direito de defesa?", questionou. Ele ainda argumentou que, para a PM, os memorandos têm tido mais validade que a lei. "Tem até memorando regulamentando lei", atacou. Ele apresentou requerimento direcionado a diversos órgãos, que será votado na próxima reunião da comissão, pedindo providências para a anulação dos atos considerados irregulares e sugeriu também o afastamento da coronel Maria de Lourdes da Junta Central de Saúde. "Quantos policiais e bombeiros foram postos na rua de forma absurda e constrangedora por causa das atas assinadas por ela?", lamentou.

O deputado Délio Malheiros (PV) falou da gravidade das denúncias apresentadas e espera que o requerimento que será votado e os documentos repassados à comissão sirvam para que as falhas sejam corrigidas.

Presenças - Deputados Délio Malheiros (PV), presidente; Ivair Nogueira (PMDB), vice; e Sargento Rodrigues (PDT).

 

 

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