Catadores querem inclusão no Regime Especial da Previdência

No Dia Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, a Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa ...

07/06/2010 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Catadores querem inclusão no Regime Especial da Previdência

No Dia Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, a Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais abriu o debate no País sobre a inclusão dessa categoria profissional na Seguridade Social. Em debate público nesta segunda-feira (7/6/10), no Plenário, dezenas de catadores discutiram a possibilidade de serem incluídos no Regime Especial da Previdência Social, que prevê uma alíquota menor de contribuição, de 2,1% sobre a produção. O debate foi conduzido pelo presidente da comissão e autor do requerimento, deputado André Quintão (PT).

Além da inclusão no regime especial, os catadores reivindicam o direito aos demais benefícios da Previdência, como auxílios saúde, maternidade, e reclusão. Para tanto, seriam incluídos no regime especial com o reconhecimento do tempo de trabalho efetivo. Além disso, o percentual de contribuição de 2,1% seria cobrado sobre a produção, ou seja, o valor obtido com os resíduos coletados por cada catador. Esse é o teor da minuta de projeto de lei entregue à Comissão de Legislação Participativa (CLP) da Câmara dos Deputados pelo Fórum Estadual Lixo e Cidadania. A alteração seria feita nas Leis 8.212 e 8.213, de 1991, que dispõem, respectivamente, sobre a Seguridade Social e sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social.

As modificações dos artigos 12 e 55 das duas leis foram esclarecidas pelo professor Teodoro Adriano Costa Zanardi, da PUC-Minas e representante do Fórum Estadual Lixo e Cidadania. Ele é o autor da minuta já entregue ao deputado federal Leonardo Monteiro (PT-MG), da CLP. A Câmara dos Deputados já está analisando o Projeto de Lei 6.039/9, do deputado Rodrigo Rollemberg (PSD-DF), que inclui o catador de material reciclável entre os segurados especiais da Previdência Social.

Contribuição - Atualmente quem trabalha com coleta pode optar por pagar a previdência pelo plano simplificado, que prevê alíquota de 11% sobre o salário mínimo; ou pelo plano convencional, com pagamento de 20% sobre o salário recebido. O coordenador regional de Educação Previdenciária do Ministério da Previdência Social, Mário Borges do Amaral, explica que, no plano simplificado, o contribuinte só pode se aposentar por idade, ao atingir 65 anos, no caso do homem e 60, para a mulher, no meio urbano. Já na área rural, as idades para a aposentadoria são 60 anos para o homem e 55 para a mulher.

O que difere o PL 6.039/09 da minuta do Fórum Lixo e Cidadania é que essa última, além de prever a alíquota diferenciada, que só beneficiaria os que estão entrando no regime atualmente, reconheceria o tempo já trabalhado, comprovado por testemunhas e documentos, possibilitando a aposentadoria de quem já está na atividade há décadas, segundo Teodoro Zanardi.

Movimento de inclusão dos catadores começa em Minas

Segundo o deputado André Quintão, o movimento para a inclusão dos catadores de materiais recicláveis na Previdência Social começa em Minas, onde surgiu a primeira associação do setor, a Associação dos Catadores de Material Reaproveitável (Asmare). Quintão é o representante da Assembleia no Fórum Estadual Lixo e Cidadania. O deputado destacou a importância da atividade para o meio ambiente e para a economia das cidades, "já que a coleta é mais barata para os cofres públicos".

O deputado Eros Biondini (PTB) declarou seu apoio à luta dos recicladores. E destacou como vitória nessa área a Lei 18.511, de 2009, fruto de um projeto de sua autoria. A lei prevê a coleta seletiva em shopping centers e empreendimentos que congregam mais de 50 lojas. Ele elogiou a inclusão na lei de sugestão do deputado André Quintão, que prevê a doação do material coletado a associações de catadores.

O secretário executivo da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Social do Ministério Público, Fernando Tadeu Davi, disse que a luta pela inclusão da categoria na Seguridade Social já dura dois anos e que este é o momento propício para a concretização desse objetivo. Maria Madalena Duarte Lima, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCMR), destacou as décadas de luta nas ruas, cooperativas e associações, lamentando que ainda existam muitas pessoas trabalhando nos lixões, sem qualquer amparo.

Insalubridade - Gilberto Warley das Chagas, também do MNCMR, acrescentou que os catadores contribuem com 80% do material reciclado no Brasil. "Tudo isso sai do nosso lombo! E por isso, nós, catadores, vivemos menos. Um companheiro de 50 anos parece ter 60, porque exerce uma atividade insalubre", disse. Ele também reclamou da falta de apoio do poder público municipal. "A lei federal fala que as prefeituras podem contratar serviços de associações de catadores sem licitação. Mas das mais de 5 mil prefeituras, podemos contar nos dedos aquelas que contratam esses serviços", lamentou.

Segundo o movimento, estima-se que no Brasil 1 milhão de pessoas trabalhem com a coleta de recicláveis para sobreviver. Em Minas, a remuneração dos trabalhadores varia conforme o local. No Norte do Estado, por exemplo, um dia de trabalho rende entre R$ 2,00 e R$ 5,00, dependendo da quantidade e do tipo de material recolhido. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), no Sul e no Triângulo, a remuneração pode chegar a R$ 30,00. No Estado, há apenas 85 empreendimentos organizados de catadores.

De cada dez trabalhadores, seis são cobertos pela Previdência

O representante do Ministério da Previdência Social, Mário Borges do Amaral, afirmou que o órgão vem atuando no sentido de incorporar cada vez mais trabalhadores ao regime de previdência social. Nesse sentido, vêm ocorrendo avanços, segundo ele: em 2000, de cada 10 trabalhadores, apenas 4 estavam cobertos pela previdência; atualmente, já são 6 em cada 10. Ele também explicou que os pescadores e produtores da agricultura familiar são algumas das categorias já enquadradas como segurados especiais.

Mário Borges considerou justa a demanda dos catadores e acrescentou que eles trabalham expostos a agentes nocivos, como o sol e o contato com o lixo. E informou que há legislação prevendo aposentadoria especial para trabalhadores sujeitos a agentes nocivos, com a possibilidade de aposentadoria, em alguns casos, com apenas 15 anos de trabalho.

A chefe da Divisão de Atendimento e Orientação ao Trabalhador da Delegacia Regional do Trabalho, Norma Valentina de Almeida, deu seu apoio ao movimento dos catadores e destacou que a DRT-MG vem participando do Fórum Lixo e Cidadania desde 2007. Segundo ela, o foco do órgão é incluir esses trabalhadores no regime de previdência social, como ocorreu com os trabalhadores rurais e as empregadas domésticas.

Economia solidária - Norma Almeida disse que atualmente há no País 22 mil empreendimentos de economia solidária, formados por trabalhadores excluídos do mercado formal. São associações e cooperativas que atuam em ramos como agricultura, pecuária, pesca, serviços, artesanato, e é claro, reciclagem de resíduos sólidos.

O deputado federal Leonardo Monteiro (PT-MG), membro da CLP da Câmara dos Deputados, explicou que essa comissão abre uma janela para que uma entidade apresente um projeto de lei, substituindo a iniciativa do deputado. Ele mostrou-se otimista em relação a possibilidade de aprovação do projeto que beneficia os catadores. "Os projetos que entram pela Comissão de Legislação Participativa chegam com mais força, uma vez que vêm respaldados pelas discussões das categorias". Monteiro sugeriu ainda a realização de uma audiência pública na Câmara dos Deputados, para que o próprio Fórum Lixo e Cidadania fizesse a entrega oficial do anteprojeto ao presidente da comissão e o movimento ganhasse mais divulgação.

Presenças - Deputados André Quintão (PT), presidente; e Eros Biondini (PTB), vice.

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - www.almg.gov.br

Rua Rodrigues Caldas,30 :: Bairro Santo Agostinho :: CEP 30190 921 :: Belo Horizonte :: MG :: Brasil :: Telefone (31) 2108 7715