Moradores de Sabará reivindicam proteção da Mata do Inferno

Moradores de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão preocupados com a implantação de empreendimento...

02/06/2010 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Moradores de Sabará reivindicam proteção da Mata do Inferno

Moradores de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, estão preocupados com a implantação de empreendimentos próximos à área denominada Mata do Inferno, que podem causar sua degradação. Eles participaram, nesta quarta-feira (2/6/10), de audiência conjunta das Comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e de Participação Popular da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, realizada em Sabará, e reivindicaram a demarcação e proteção da área e sua destinação ao uso coletivo. Durante o encontro, o Ministério Público se comprometeu a encaminhar, junto à empresa proprietária do terreno, a realização de estudos técnicos na área, primeira medida para a criação de uma unidade de conservação.

A Mata do Inferno é uma área de propriedade da União Rio Empreendimentos S/A localizada entre os bairros Nova Vista, Alvorada e Ana Lúcia, na divisa entre Sabará e Belo Horizonte. O local abriga, de acordo com moradores, fauna e flora variadas, além de diversas nascentes. Em 1990, a Câmara Municipal de Sabará aprovou a Lei Orgânica do município, que considerou a Mata do Inferno como reserva biológica e patrimônio natural e paisagístico, determinando sua preservação. Entretanto, os trâmites legais para efetivar a proteção não foram feitos pela Prefeitura nos prazos previstos.

A coordenadora do Movimento SOS Mata do Inferno, Haydée Cardoso Araújo, criticou a Câmara Municipal de Sabará por não fiscalizar o Executivo e ainda trocar o nome da área para Mata do Paraíso, ignorando abaixo-assinado dos moradores, que pediam uma consulta pública para essa denominação. Ela denunciou ainda que a reserva legal de 20% da área não está demarcada e que ela poderia compor a área protegida reivindicada pela comunidade. Durante a audiência, foram exibidas fotos de satélite mostrando a redução da área verde na Mata do Inferno.

Deputados defendem a área, mas apontam dificuldades

O deputado André Quintão (PT), autor do requerimento para a audiência e presidente da Comissão de Participação Popular, salientou que são raras as áreas na RMBH com mananciais. A não legalização da mata, segundo ele, pode acarretar destruição de partes importantes do terreno, prevalecendo os interesses econômicos sobre os públicos. "A mata tem que ser preservada, ou a Lei Orgânica vai virar letra morta", afirmou. Até mesmo a troca do nome, de Inferno para Paraíso, pode ter o objetivo, segundo o parlamentar, de valorizar os empreendimentos na região.

Já Wander Borges (PSB), que foi prefeito de Sabará por dois mandatos, citou a dificuldade financeira para se pagar a desapropriação de um terreno como o da Mata do Inferno. Para ele, o caminho mais viável seria a criação de uma reserva particular do patrimônio natural (RPPN). "Se hoje temos a mata, é porque alguém cuidou dela", disse. Ele denunciou ainda que há três anos não são registrados incêndios na mata. Mas na véspera da audiência, cinco focos foram identificados.

Outros participantes da audiência também criticaram a forma como o processo foi iniciado. A secretária municipal de Meio Ambiente de Sabará, Júnia Cibele, salientou que a previsão de "reserva biológica" na Lei Orgânica implica dizer que a área tem que ser desapropriada e destinada exclusivamente para a pesquisa, permanecendo fechada ao público. "Eu afirmo que a conta é muito alta para o município", disse. Também para ela, a solução viável é a criação de uma RPPN, com a previsão correta de preservação no Plano Diretor do município.

O advogado Antônio Caminhas Fasciani Jr, da Comissão de Direito Urbanístico da OAB, ponderou que a reivindicação da comunidade, de cumprimento da Lei Orgânica, é razoável. No entanto, segundo ele, a lei erra ao determinar a criação de uma reserva biológica sem, antes, fazer um diagnóstico ambiental para definir o melhor tipo de proteção e sem delimitar esse objeto de proteção.

Ministério Público e Ibama participam da audiência

A promotora Marta Alves Larcher, coordenadora da Promotoria de Justiça Metropolitana de Habitação e Urbanismo, detalhou a atuação do Ministério Público no caso, a partir da denúncia de possíveis irregularidades de empreendimentos na região. Embora as investigações do MP não estejam concluídas, a promotora acredita que projetos que hoje têm apenas o licenciamento municipal para obras terão que se submeter ao licenciamento ambiental. "A área é de mata atlântica, e o esgoto deve ser levado para Belo Horizonte, com impacto em município vizinho", listou.

Marta Larcher também ponderou que, apesar dos erros processuais da Lei Orgânica, ela funciona como uma carta de intenções, de vontade da população manifesta por seus representantes. Por isso, se comprometeu a viabilizar, junto à União Rio Empreendimentos, a contratação de uma empresa multidisciplinar para fazer os estudos técnicos na Mata do Inferno, a fim de delimitar o tamanho da área a ser protegida e o tipo de conservação mais adequado. "Uma medida compensatória firmada entre o empreendimento e a prefeitura prevê que a empresa deve garantir medidas de preservar a mata", justificou. A promotora estima que o trabalho demore cerca de quatro meses, a partir da contratação da equipe.

A coordenadora do Núcleo de Licenciamento Ambiental do Ibama, Ubaldina Maria da Costa, completou que se a área for realmente de mata atlântica, qualquer supressão acima de três hectares necessita da anuência do Ibama. Ela também expôs algumas características das unidades de conservação quanto ao tipo de proteção e tramitação dos processos legais. Já a representante da União Rio Empreendimentos S/A, Cynthia Silveira Pimentel Fraga, garantiu que a intenção da empresa é preservar a área, mas que ela se preocupa com a transição entre uso privado e público.

A audiência foi conduzida pelo deputado Fábio Avelar (PSC), presidente da Comissão de Meio Ambiente, que salientou a constante parceria entre o Ministério Público e a Assembleia.

Mobilização - A vereadora Terezinha Berenice de Souza, de Sabará, frisou que a participação da comunidade na audiência lembrou a mobilização de 1990, quando a luta culminou na inclusão da Mata do Inferno na Lei Orgânica. "Infelizmente, a prefeitura tinha 180 dias para legalizar a área, mas não o fez", afirmou. Ela reivindicou que o Executivo municipal busque recursos junto aos outros entes da federação para viabilizar a unidade de conservação. Na fase de debates, a vereadora Adriana Lara, de Vespasiano, frisou que a questão ambiental é metropolitana e sugeriu que o município cobre dos empreendedores da área a contrapartida pelo uso que já foi feito de grande parte do terreno.

Ainda nos debates, moradores pediram que a prefeitura busque recursos alternativos para a implantação da reserva e criticaram a única ação em prol da área tomada nos últimos 20 anos, que foi a mudança arbitrária do nome. Alguns também discordaram da criação de uma área de proteção particular, temendo a privatização dos atrativos da mata. Outros explicitaram o temor de que a área, se tornando pública, possa ser alvo de invasões.

Parlamentares também encaminham providências

Ao final do encontro, o deputado Wander Borges anunciou que se reunirá com representantes do Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG) e com o secretário de Estado de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, para tratar do assunto. Já o deputado André Quintão apresentou os seguintes requerimentos que serão votados depois pelas comissões:

* À Prefeitura de Sabará, o deputado requer que cumpra a Lei Orgânica, editando um ato regulamentador da norma e adotando providências para a proteção da mata; requer ainda que a prefeitura informe se a Mata do Inferno e o emprendimento previsto para seu entorno estão em área rural ou urbana, se já foi feito o parcelamento do solo e em que condições;

* Ao IEF-MG, indagando se há ocorrência de mata atlântica na Mata do Inferno, se existem estudos sobre a área ou se o instituto pode auxiliar na elaboração desses levantamentos, com o objetivo de transformar a área em unidade de conservação;

* Ao Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), questionando o licenciamento do empreendimento em construção na área da Mata do Inferno, tendo em vista a possível ocorrência de mata atlântica e o uso da rede de esgoto de Belo Horizonte;

* Ao Ministério Público, pedindo informações sobre os procedimentos adotados no caso;

* E aos Governos Estadual e Federal, pedindo apoio técnico e financeiro para a proteção da mata.

Presenças - Deputados Fábio Avelar (PSC), presidente da Comissão de Meio Ambiente, André Quintão (PT), presidente da Comissão de Participação Popular; e Wander Borges (PSB).

 

 

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