Padronização de prestação de contas é desafio da Lei da Transparência

A elaboração de um projeto de lei para padronizar a disponibilização, na internet, dos dados referentes às receitas e...

02/06/2010 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Padronização de prestação de contas é desafio da Lei da Transparência

A elaboração de um projeto de lei para padronizar a disponibilização, na internet, dos dados referentes às receitas e despesas da administração pública no Estado foi um dos pontos defendidos durante a audiência promovida nesta quarta-feira (2/6/10) pela Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A reunião foi realizada a requerimento do deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) para discutir a aplicação da Lei Complementar 131, de 2009, chamada de Lei da Transparência.

A norma acrescenta dispositivos à Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101, de 2000) para determinar a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios. A Lei Complementar 131 determina, ainda, os prazos para seu cumprimento. Para adequação às novas regras, a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios com mais de 100 mil habitantes tiveram o prazo de um ano, que se encerrou no dia 27 de maio. Cidades com população entre 50 mil e 100 mil habitantes têm prazo de dois anos, e os municípios com menos de 50 mil habitantes têm quatro anos para cumprirem as novas determinações.

O conselheiro do Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCE-MG) Sebastião Helvécio recomendou que a Assembleia, juntamente com o TCE, e com a contribuição dos diversos setores da sociedade, elabore um projeto de lei para definir como os dados sobre execução orçamentária deverão ser disponibilizados. "Terei o maior empenho para colocar o Tribunal de Contas junto com a Assembleia para fazer esse documento e tornar a lei eficiente", afirmou.

Para Sebastião Helvécio, a transparência não é o único recurso de que a sociedade pode se utilizar para o controle social da gestão pública. Ele salientou que a participação na revisão do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) também é importante nesse processo.

Não há dificuldades para cumprimento da lei, dizem participantes

Os participantes da audiência avaliaram não haver dificuldades técnicas para a disponibilização dos dados sobre execução orçamentária, tendo em vista a tecnologia hoje disponível. "Não é nenhum tipo de ação complexa. É só fazer o lançamento dos dados", disse o deputado Lafayette de Andrada (PSDB).

O integrante do Conselho Regional de Contabilidade (CRC-MG) Alexandre Bossi acrescentou que os contadores públicos são plenamente capazes de elaborar os relatórios pormenorizados, como determina a Lei da Transparência.

O conselheiro Sebastião Helvécio também acredita que os municípios já tenham condições de instrumentalizar seus portais para o cumprimento da lei, mesmo aqueles que ainda têm prazo para adequação à norma. Destacou também esse fato o deputado Inácio Franco (PV), que afirmou que muitos municípios vêm cumprindo as determinações da lei antes do prazo previsto.

Alexandre Bossi disse que Ipatinga e Uberaba são exemplos de municípios que disponibilizam, em tempo real, a execução orçamentária detalhada. Ele informou, entretanto, que muitas prefeituras divulgam apenas os dados consolidados, não sendo possível ao cidadão conhecer com detalhes a natureza dos gastos públicos.

Outro ponto salientado foi com relação à clareza dos dados apresentados pela gestão pública. Para Alexandre Bossi, é importante que os dados contábeis sejam transformados em informações que possam ser compreendidas pelo cidadão.

Deputado teme que lei tenha o "viés da desconfiança"

O deputado Antônio Júlio (PMDB) disse temer que a Lei da Transparência seja utilizada como instrumento de desconfiança em relação aos agentes públicos. Ele também fez críticas à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e sugeriu sua revisão. Em sua opinião, a LRF foi criada apenas como forma de garantir superávit para pagamento de juros da dívida externa.

O deputado Adelmo Carneiro Leão disse discordar do colega, pois acredita que o cidadão tem direito a desconfiar, já que se trata de dinheiro. "O político honesto não terá nenhum constrangimento ao ser questionado", declarou. Concordou com esse posicionamento o deputado Inácio Franco, afirmando que "quando não existe publicidade as pessoas ficam desconfiadas". O parlamentar disse, ainda, que a Lei de Responsabilidade Fiscal foi importante para "moralizar a administração pública" e que a Lei da Transparência representa um aprimoramento.

O conselheiro do CRC-MG Alexandre Bossi lembrou que o acompanhamento da sociedade civil ultrapassa a questão da desconfiança e do controle da corrupção. Segundo ele, é também um instrumento para melhorias na gestão pública. Bossi aproveitou para salientar que o Tribunal de Contas do Estado deve ser exemplar na disponibilização de sua execução orçamentária, e considera que o órgão, apesar de apresentar essas informações em seu site, não as disponibiliza como determina a Lei Complementar 131.

Em resposta ao conselheiro do CRC-MG, Sebastião Helvécio disse que a forma como as informações devem estar publicadas deve ser ainda sistematizada em um documento a ser criado pela Assembleia. Para ele, a simples discriminação dos gastos, mesmo detalhada, sem que haja uma análise contábil, também não é suficiente.

Helvécio informou que o TCE disponibiliza em seu site a seção "TCE Presta contas" (localizada no menu superior horizontal, na parte superior da página), que apresenta dados até o mês de maio de 2010, com o detalhamento de cada uma das despesas. Para ele, a sociedade vem acompanhando cada vez mais a gestão pública. De acordo com o conselheiro, dos 350 mil acessos ao site do TCE-MG, a maioria, cerca de 20%, são justamente na seção referente à fiscalização.

Presenças - Deputados Adelmo Carneiro Leão (PT), que presidiu os trabalhos; Antônio Júlio (PMDB), Inácio Franco (PV) e Lafayette de Andrada (PSDB).

 

 

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