Falta de doutores é problema nas universidades estaduais
Um dos principais problemas das Universidades do
Estado de Minas Gerais (Uemg) e Estadual de Montes Claros
(Unimontes) é a falta de recursos para qualificação do corpo
docente. A constatação foi feita na tarde desta segunda-feira
(17/5/10), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, por
representantes das duas instituições, que participaram do Debate
Público Ciência, Tecnologia e Inovação em Minas Gerais,
realizado pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e
Informática.
O evento, proposto pelo deputado Carlin Moura
(PCdoB), ocorreu na manhã e tarde desta segunda. O objetivo foi
discutir perspectivas e colher contribuições para a 4a
Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, marcada para
26 a 28 de maio, em Brasília. À tarde, os trabalhos foram dirigidos
pelo presidente da Comissão de Educação, deputado Ruy Muniz (DEM), e
contaram também com as participações do reitor da Universidade
Federal de Viçosa (UFV), Luiz Cláudio Costa, e da presidente da
Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Elisângela
Lizardo.
Professores com doutorado atraem
investimentos
Com um diagnóstico das atividades das instituições,
a reitora da Uemg, Janete Paiva, e a pró-reitora de Pesquisa e
Pós-Graduação da Unimontes, Sílvia Nietsche, enfatizaram a
necessidade de mais professores com doutorado, como forma de atrair
recursos para pesquisa. Janete Paiva destacou a relativa juventude
da Uemg, frente a instituições como a UFMG e a UFV, como um dos
fatores da baixa titulação do corpo docente. Segundo a reitora,
somente 9% dos professores da Uemg têm doutorado, contra 70% da
UFMG, "que, no entanto, já tem 80 anos de funcionamento, enquanto a
Uemg só tem 20", afirmou ela.
A Uemg enfrenta obstáculos também na contratação
dos professores. "Quarenta por cento ainda são de contratação
temporária. Até 2007, eram 80%, por isso pedimos ajuda da Comissão
de Educação para resolver a situação de concursos para professores",
disse a reitora. Ainda assim, segundo a reitora, a instituição tem
se destacado em alguns campos, como a Escola de Design, detentora de
prêmios em projetos de pesquisa. A Uemg tem dez unidades
distribuídas por seis municípios, com 28 graduações e 1,8 mil vagas.
As cinco unidades da Capital oferecem 13 cursos.
Unimontes - A pró-reitora
Sílvia Nietsche afirmou que, apesar das dificuldades, a Unimontes
tem sido referência para o desenvolvimento regional do Norte mineiro
e dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri. Segundo ela, os mais de R$
200 milhões de investimentos em Montes Claros e região nos últimos
anos, por empresas nacionais e estrangeiras, devem-se em grande
parte à qualidade dos recursos humanos, resultado da excelência da
graduação da instituição.
De acordo com a pró-reitora, a Unimontes é
importante centro captador de recursos para bolsas, sendo que em
2009 foram R$ 9 milhões, de instituições públicas e privadas. A
universidade tem 12 mil alunos divididos em 12 unidades e 1,3 mil
professores, sendo 135 doutores. Atualmente, mantém 241 projetos de
pesquisa e convênios com universidades de países diversos.
Reitor prega atuação estratégica
O reitor da Universidade Federal de Viçosa
reconheceu as dificuldades enfrentadas pelas instituições mineiras
de ensino superior, mas celebrou o momento vivido pelo Estado nessa
área. Na avaliação de Luiz Cláudio Costa, o sistema de ciência e
tecnologia de Minas Gerais é o melhor do País. O reitor falou sobre
o papel das instituições públicas federais de ensino superior no
desenvolvimento do Estado.
Costa destacou a excelência do corpo docente das
universidades mineiras e o avanço dos cursos de pós-graduação. Minas
Gerais tem 10,5 mil professores só nas universidades federais. No
mesmo universo, os cursos de mestrado, mestrado profissionalizante e
doutorado somam 430, distribuídos em 292 programas de pós-graduação.
Vinte e três deles têm conceito 6 ou 7, os mais altos conferidos
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes).
O reitor também apontou como fatores positivos a
qualidade dos institutos federais de ensino tecnológico do Estado e
o papel da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig)
no financiamento de projetos na área. Para Costa, chegou o momento
de os atores de ciência e tecnologia em Minas agirem de maneira
estratégica. "Precisamos parar de pensar só nas nossas necessidades.
Temos de identificar quais são as demandas do Estado e como podemos
contribuir para resolvê-las. Precisamos agir como sistema",
declarou.
Recursos humanos - A
presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos abordou a
formação de recursos humanos em ciência. Em referência à fala do
reitor da UFV, Elisângela Lizardo concordou que a realidade é
positiva em Minas Gerais, mas disse que o mesmo não ocorre em outras
regiões do País, sobretudo Norte e Centro-Oeste. Segundo ela, o
Brasil tem uma carência histórica de investimentos na área, que nos
coloca em desafagem em relação a países desenvolvidos.
No que diz respeito à formação de recursos humanos,
Elisângela demonstrou preocupação com o possível não cumprimento da
meta do Plano Nacional de Pós-Graduação. Elaborado em 2005, o
documento projetou que o País teria, em 2010, 16 mil doutores e 45
mil mestres. No ano passado, no entanto, esses números eram,
respectivamente, 10 mil e 35 mil. A presidente da ANPG defendeu a
formação de docentes comprometidos com as demandas sociais
brasileiras.
Sugestões - Carlin Moura informou, no fim do
Debate Público, que a Comissão de Educação vai enviar documento à
Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
relatando as discussões, sobretudo relativas às carências das
universidades estaduais; as sugestões levantadas no evento também
serão enviadas à 4a
Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação.
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