Minas Gerais é destaque no segmento de ciência e tecnologia no Brasil

O diretor de Inovação da Financiadora de Estudos e Projetos do Governo Federal (Finep), Eduardo Costa, considera Mina...

17/05/2010 - 00:03
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Minas Gerais é destaque no segmento de ciência e tecnologia no Brasil

O diretor de Inovação da Financiadora de Estudos e Projetos do Governo Federal (Finep), Eduardo Costa, considera Minas Gerais um Estado de destaque no cenário nacional no setor de pesquisa, ciência e tecnologia. A declaração foi dada durante o Debate Público "Ciência, Tecnologia e Inovação em Minas Gerais", realizado pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembleia Legislativa. O evento, proposto pelo deputado Carlin Moura (PCdoB), teve início na manhã desta segunda-feira (17/5/10), e tem o objetivo de discutir as perspectivas e colher contribuições para a 4a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que acontece entre os dias 26 e 28 de maio, em Brasília.

Em sua participação, Eduardo Costa fez uma exposição sobre o "Panorama atual do financiamento à pesquisa no Brasil", quando lembrou que o sistema de apoio à pesquisa no País é relativamente novo. Ele disse que a criação do CNPq, no ano de 1951, foi o primeiro passo para o investimento do segmento de ciência e tecnologia, mas que o conceito de inovação é ainda mais recente. "A estrutura do sistema de suporte tecnológico é o motor que determina o desenvolvimento econômico nacional, por isso a inovação é a palavra da moda", disse. Segundo ele, o segmento vem crescendo e o investimento já é proporcional ao PIB nacional.

Sobre a Finep, o expositor explicou que o órgão conta com um orçamento R$ 4 bilhões por ano, sendo que 50% do total são destinados a infraestrutura universitária para pesquisa; e os outros 50% para apoio a empresas. Esta segunda parte, de acordo com ele, é dividida em subsídios a juro zero ou negativo, subvenções a fundo perdido e investimentos em capital de risco. "Minas Gerais é um dos únicos estados que contam com as três modalidades de aplicação dos recursos da Finep. Por isso, ocupa, hoje, uma posição de destaque", finalizou.

Abertura - O deputado Carlin Moura destacou que é preciso consolidar uma política de Estado, que seja permanente e viabilize a produção e a utilização do conhecimento de forma justa e para toda a sociedade. Para ele, um dos caminhos é promover a integração das políticas de ciência e inovação a políticas voltadas aos segmentos industriais e empresariais. "A parceria com o setor privado é importante, especialmente pela perspectiva de crescimento da economia nacional. Cada vez mais, precisaremos de profissionais e empresas capacitadas a aproveitar o bom momento pelo qual passa o nosso País", disse.

O presidente da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da ALMG, deputado Ruy Muniz (DEM), reforçou que o conhecimento é o elemento central da sociedade em todo o mundo. Para o parlamentar, vive-se hoje um novo tempo em que a pesquisa, a ciência e a tecnologia contribuem diretamente para o desenvolvimento econômico e a redução das desigualdades sociais. Em sua fala, ele destacou os investimentos do Governo de Minas Gerais no segmento, com destaque para os programas incentivo à capacitação e valorização de profissionais e empresários, concessão de bolsas de estudo, realização de eventos científicos e apoio às universidades. "O Estado possui um parque tecnológico diversificado, que tem como foco as políticas de desenvolvimento. O objetivo é intensificar os mecanismos de incentivo e tornar Minas Gerais ainda mais forte neste setor", salientou.

Segundo ele, entre os anos de 2003 e 2008, houve um aumento de 800% nos investimentos em tecnologia; e de 1.200% nos programas de pesquisa e desenvolvimento. "Para se ter uma ideia, somente em 2008, foram distribuídas 4,7 mil bolsas de estudo, realizados 1,4 mil eventos científicos e alocados recursos da ordem de R$ 34 milhões para 70 projetos científicos desenvolvidos no Estado", concluiu.

Poucas patentes e investimento privado são falhas do Brasil

A necessidade de ampliar a participação do setor privado no setor de pesquisa e simultaneamente investir mais na produção de patentes foi um ponto comum nos pronunciamentos do presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Mário Neto Borges, e do reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Clélio Campolina Diniz.

Mário Neto destacou alguns números para ilustrar as carências do País. Embora produza cerca de 2% da pesquisa científica mundial (13ª colocação), o Brasil é responsável por apenas 0,1% das patentes registradas. A Coréia do Sul, que produz um volume pouco maior em pesquisa científica, registra 3% das patentes. O presidente da Fapemig relacionou esse dado com outra característica da pesquisa coreana, que é majoritariamente financiada pelas empresas privadas, responsáveis por 76% dos investimentos no setor. No Brasil, a proporção é inversa, com cerca de 80% de investimento público.

Clélio Campolina, por sua vez, lembrou que a expansão coreana e japonesa aconteceram a partir de uma abertura dos mercados ocidentais às exportações desses países, feitas com base na empresa nacional. Daí a necessidade de incentivar a empresa nacional, uma vez que as empresas estrangeiras, em geral, tendem a usar tecnologia desenvolvida em seus países. Por outro lado, ele afirmou que não é impossível criar um ambiente para que empresas estrangeiras financiem pesquisa no Brasil, uma vez que isso acontece, por exemplo, nos Estados Unidos.

O reitor da UFMG disse que, no Brasil, já houve muito preconceito ideológico contra a parceria entre universidade e setor privado. Apesar disso ter mudado, ainda há dificuldades, como restrições burocráticas que impõem regras de concorrência pública a uma parceria em pesquisa. "Uma empresa não vai participar de concorrência pública, pois ela precisa de exclusividade, precisa de obter lucro com a pesquisa", afirmou Campolina.

O reitor da UFMG também disse ser fundamental a continuidade do financiamento das fundações de apoio à pesquisa governamentais à pesquisa realizada em universidades públicas. E, em nível local, disse acreditar que o setor biofarmacêutico tem grande potencial para dinamizar o projeto de um centro tecnológico em Belo Horizonte, uma vez que a UFMG é líder brasileira de patentes na área.

Sobre a Fapemig, o presidente Mário Neto destacou o crescimento recente do orçamento do órgão, que hoje oferece um financiamento per capita aos pesquisadores mineiros superior ao índice apresentado em São Paulo. O orçamento atual do órgão é de R$ 204 milhões do Tesouro estadual, mais R$ 30 milhões captados e executados por meios próprios.

Expositores defendem mudanças na legislação

Na fase de debates, expositores defenderam que os legislativos podem contribuir para dinamizar o setor de ciência e tecnologia. Mário Neto e Eduardo Costa afirmaram que é preciso modificar o arcabouço legal, que não atende às necessidades do setor. "Há um enorme conjunto de regras incongruentes, e os tribunais de contas julgam o setor da mesma forma que analisam os contratos para fornecimento de café ou obras", lamentou o diretor da Finep. Sua reivindicação foi ratificada pelo presidente da Fapemig, para quem o marco legal é um grande obstáculo e, em particular, a legislação federal. Na avaliação de Eduardo Costa, a conferência nacional é um momento importante para apresentar soluções concretas e não apenas para pautar a agenda pública.

Respondendo a indagações da plateia, o presidente Ruy Muniz (DEM) destacou as ações da Assembleia em prol da ciência e tecnologia nesta legislatura. Uma delas foi a aprovação da Lei 17.348, de 2008, que dispõe sobre o incentivo à inovação tecnológica em Minas e a criação de um fundo específico com esse objetivo. Outra é a destinação de recursos para o fundo, conforme proposta apresentada pela Fiemg, a federação das indústrias do Estado, ao Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG). Medidas legislativas recentes, já aprovadas em 1º turno pelo Plenário, são as diretrizes sobre ciência, tecnologia e inovação previstas no Plano Decenal de Educação.

Cobrança dos estudantes - Representantes de várias entidades estudantis também falaram, reivindicando financiamento para o setor e para as bolsas de iniciação científica, além de cobrarem a divisão dos resultados das pesquisas, com benefícios para a sociedade. "O debate não será produtivo se ficar no âmbito dos cientistas e se o desenvolvimento tecnológico se voltar apenas para o mercado; ele precisa ser levado à população", destacou Leonardo Péricles, representante da União Nacional dos Estudantes (UNE). A participação da sociedade nos rumos do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação também foi cobrada por Suzane Pereira da Silva, do Diretório Central dos Estudantes (DCE) de Viçosa (Mata).

O pesquisador Luciano Mendes, da UFMG, ponderou que a conferência nacional, agora em maio, pode ser um bom momento para aliar ciência e tecnologia e educação. "Não podemos pensar a educação básica descolada da ciência e tecnologia, pois aquela não é somente o ensino de ciência e matemática", acentuou. O presidente da Fapemig concordou, destacando que, "para fazer o cientista, precisamos de massa crítica que começa nos ensinos fundamental e médio". Mário Neto Broges citou a concessão de bolsas de iniciação científica júnior pela Fapemig, que tem incentivado jovens desses níveis de ensino.

BH-Tec - As causas dos atrasos na implantação do Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec) foram ainda esclarecidas pelo reitor da UFMG, Clélio Campolina, que revelou problemas de infraestrutura e impedimentos do terreno onde funcionará o parque. "Às vezes é preciso atrasar para não fazer mal feito", ponderou. O BH Tec será construído em área de 600 mil metros quadrados, pertencente à UFMG, próxima do anel rodoviário da Capital. Ele vai abrigar empresas capazes de transformar o conhecimento gerado na universidade em produtos de alta tecnologia.

 

 

 

 

 

 

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