Atuação da Vara de Conflitos Agrários recebe críticas

A criação de uma Vara de Conflitos Agrários no âmbito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), em 2002, a prime...

04/05/2010 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Atuação da Vara de Conflitos Agrários recebe críticas

A criação de uma Vara de Conflitos Agrários no âmbito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), em 2002, a primeira do Brasil, é reconhecida como um avanço importante na solução dos conflitos decorrentes da luta pela terra. Porém, as decisões do atual juiz titular, Alberto Diniz Júnior, receberam muitas críticas dos participantes da audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta terça-feira (4/5/10).

O deputado Durval Ângelo (PT), presidente da comissão e autor do requerimento que deu origem à reunião, denunciou o desrespeito às diretrizes traçadas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para o funcionamento das varas agrárias. Ele ouviu diversos depoimentos que comprovam essa postura da Vara Agrária em Minas Gerais.

O procurador de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional de Conflitos Agrários, Afonso Henrique de Miranda Teixeira, disse que o juiz e seu auxiliar, Fernando Humberto, não comparecem às fazendas ocupadas antes de emitirem mandados de reintegração de posse. "Não se põe fim aos conflitos com liminares emitidas de gabinete", criticou. Na sua opinião, o trabalho desenvolvido atualmente na Vara Agrária vai contra o objetivo de sua própria criação.

Na mesma linha de raciocínio, o promotor de Justiça de Conflitos Agrários Luiz Carlos Martins Costa afirmou que a Vara Agrária vem negando princípios do Processo Civil, uma vez que tem produzido liminares ouvindo apenas um dos lados do conflito, os supostos donos das fazendas. Ele manifestou sua preocupação com essa postura e pediu que a Comissão de Direitos Humanos elabore um ofício notificando o CNJ.

Morosidade x eficiência - O foco da Justiça mineira na propriedade privada em detrimento da função social da terra foi lembrado pelo coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Paulo Roberto Faccion. "O Estado é eficiente para cumprir mandados determinando a desocupação de terras, mas não tem a mesma eficiência para cumprir mandados de prisão contra fazendeiros", queixou-se. Outro que denunciou a incoerência estatal foi o defensor público Gustavo Gorgozinho. Segundo ele, enquanto que um processo de desapropriação de uma fazenda para reforma agrária leva até 14 anos, a desapropriação de imóveis para a duplicação da avenida Antônio Carlos, em Belo Horizonte, aconteceu em tempo recorde.

Representando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Alexandre de Lima Chumbinho lembrou que no Brasil há uma infinidade de terras improdutivas, bem como fazendas que utilizam mão-de-obra análoga à escrava e onde são cometidos crimes ambientais, que poderiam perfeitamente estarem sendo usadas para fins de reforma agrária. Ele lamentou também que muitas famílias assentadas passam por dificuldades por não terem acesso a crédito ou a serviços essenciais básicos como a energia elétrica.

A ausência do juiz da Vara de Conflitos Agrários, Alberto Diniz Júnior, foi lamentada pelos presentes, que esperavam poder debater com ele todas as questões levantadas. O juiz enviou correspondência justificando que não poderia participar da reunião devido a outro compromisso agendado.

Comissão vai pedir regras claras de funcionamento

Entre as providências que a Comissão de Direitos Humanos vai tomar a partir das discussões realizadas está um requerimento ao CNJ para que o órgão publique uma resolução detalhando o funcionamento das Varas Agrárias. Segundo Durval Ângelo, isso é importante porque evita que a troca de um juiz titular signifique mudança de procedimentos.

As notas taquigráficas da reunião serão enviadas ao CNJ e à Corregedoria do TJMG. O objetivo é que as entidades tomem providências com relação ao desrespeito da Vara Agrária às determinações do CNJ. Outra medida será o envio de uma moção de reconhecimento ao major da Polícia Militar de São João da Ponte, que se recusou a cumprir um mandado de reintegração de posse na Fazenda São Miguel, justificando que o Ministério Público deveria ter conhecimento prévio da decisão.

Presenças - Deputado Durval Ângelo (PT), presidente da comissão. Também participaram da reunião o assessor da presidência da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, Cláudio Rodrigues Braga; o diretor de Cidadania do Instituto de Terras de Minas Gerais (Iter), Aldenir Viana Pereira; a superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra); Luci Rodrigues Espechit; e o advogado e integrante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Lucas Antunes Barros.

 

 

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