Adeptos de diferentes cultos defendem diálogo entre
religiões
Representantes de casas de umbanda e candomblé, de
um centro espírita kardecista, das igrejas Católica e Metodista e
das comunidades Bahá'í e Hare Krishna reuniram-se nesta
segunda-feira (3/5/10), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais,
para defender o diálogo entre as religiões e a liberdade de culto. O
encontro foi em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos
que marcou o lançamento da 2ª Caminhada pela Liberdade Religiosa e
pela Paz, marcada para 13 de maio, com saída da Praça Sete (Centro
de Belo Horizonte), às 14 horas.
O presidente da comissão, deputado Durval Ângelo
(PT), afirmou na reunião que tem crescido a intolerância contra as
religiões de matriz africana. Ele deu como exemplo programas de TV
evangélicos ou católicos, transmitidos sobretudo durante a
madrugada, que classificam esses cultos como demoníacos. Durval
lamentou que isto ocorra no Brasil, país marcado, segundo ele, por
"um diálogo inter-religioso muito proveitoso". O deputado é autor do
requerimento para realização da audiência pública.
Para o presidente da Fundação Perseu Abramo e
ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal,
Nilmário Miranda, a discriminação religiosa quebra uma tradição do
País. "As mais variadas denominações religiosas convivem no Brasil.
Introduzir a intolerância religiosa é muito ruim", disse
Nilmário.
Discriminação - Dirigentes
de casas de umbanda e candomblé relataram casos de discriminação e
pediram apoio do Legislativo Estadual para combater a intolerância
contra seus cultos. A ialorixá Nylsia dos Santos, do terreiro de
candomblé Ilé Axé Alá Oju Meji Ofa Otum, sugeriu a apresentação de
um projeto de lei que obrigue os meios de comunicação a reservar
espaço para divulgar a cultura afro-brasileira. O deputado Carlos
Gomes (PT) disse que a Assembleia está à disposição para discutir um
projeto nesse sentido. Durval Ângelo também apoiou a ideia.
O dirigente do terreiro Bakise Bantu Kasanje,
tatetu Arabomi, disse que a discriminação contra os negros, em
geral, e as religiões de origem africana, em particular, deixou
marcas profundas em seus adeptos. Para ele, o sintoma mais perverso
do preconceito é a invisibilidade a que esses cultos foram
condenados. Arabomi fez um apelo aos praticantes da umbanda e do
candomblé para que assumam de maneira explícita sua orientação
religiosa. Na opinião do dirigente do terreiro Ilé Wopo Olojukan,
babalorixá Sidney Ti Oxossi, existe preconceito nas próprias casas
de umbanda e candomblé. Ele disse que a mudança de postura deve
começar "de dentro para fora".
A presidente do centro de umbanda Ilê Ojô Ôlá Kaô,
Noezi Ferreira de Oliveira, comparou a perseguição aos adeptos de
religiões de origem africana com aquela sofrida pelos cristãos nos
primórdios do cristianismo.
Ensino religioso - Os
adeptos dos cultos de matriz africana receberam apoio de
representantes de outras religiões. O pastor da Igreja Metodista
Lúcio Mendonça e o encarregado do templo Hare Krishna Iskcom,
Narafimhadeva Das, defenderam a inclusão de uma disciplina nas
escolas com informações sobre todas as denominações religiosas.
"O que cada religião precisa fazer é sair de seu
orgulho, de sua prepotência", declarou o diretor da organização não
governamental Educafro Minas, frei Adelmo Francisco Gomes da Silva.
"Somos irmãos, filhos de um pai só, que é o nosso Deus querido",
disse o conselheiro da instituição espírita kardecista Lar de
Marcos, Ernani Pereira Abrahão.
O conselheiro da comunidade Bahá'í nas Américas,
Antônio Gabriel Marques Filho, prestou solidariedade aos adeptos da
umbanda e candomblé. Ele também relatou casos de perseguição contra
a comunidade Bahá'í no Irã, berço dessa religião ainda nos tempos da
antiga Pérsia.
No fim da reunião, o coordenador de Direitos
Humanos da Defensoria Pública de Minas Gerais, Gustavo Gorgozinho
Alves de Meira, orientou os praticantes de cultos de origem africana
a acionar o órgão para defender seus direitos e obter reparações na
Justiça.
Na audiência pública, o professor Erisvaldo Pereira
dos Santos lançou o livro Formação de professores e religiões de
matrizes africanas: um diálogo necessário (editora
Nandyala).
Requerimento - A Comissão
de Direitos Humanos aprovou requerimento de Durval Ângelo para que
seja ouvido, nesta quarta-feira (5), o ex-delegado regional do
Trabalho Carlos Calazans, sobre agressões que ele teria sofrido de
integrantes de quadrilha de extorsão em Belo Horizonte.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente; Carlos Gomes (PT) e Lafayette de
Andrada (PSDB). Também esteve presente o ex-embaixador do Brasil em
Cuba Tilden Santiago.
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