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Comunidade de S. Gonçalo do Abaeté reclama de contaminação da
água
A Votorantim Metais negou que seja responsável pela
contaminação da água de poços artesianos e cisternas usados por
moradores da comunidade Beira-Rio na divisa dos municípios de São
Gonçalo do Abaeté e Três Marias, Noroeste do Estado.
Na manhã desta sexta-feira (9/4/10), deputados das
Comissões de Minas e Energia e de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Geras fizeram uma
audiência pública conjunta para apurar denúncias da população local,
que reclama da qualidade da água.
Segundo eles, a água não pode mais ser usada sequer
para lavar o rosto, já que a acidez causa irritação e ardência na
pele. "É inaceitável que estejamos à beira do São Francisco,
próximos da represa de Três Marias e não tenhamos água de qualidade
para beber", reclamou Benjamin Alves Rabello Filho, sócio e diretor
do Clube dos Piraquaras - frequentado principalmente por pescadores
-, onde foi realizada a audiência, presidida pelo deputado Sávio
Souza Cruz (PMDB).
De acordo com Benjamin, a água do poço artesiano do
clube - que tem 72 metros de profundidade - foi avaliada por três
vezes, e os laudos mostraram que a qualidade foi caindo a cada
amostra coletada. "No primeiro laudo, em março de 2008, a água foi
considerada potável. Já no terceiro estudo, foi considerada
inadequada para o consumo humano, sendo necessário o tratamento, com
índice de coliformes fecais acima do tolerável", explicou.
Defesa - O gerente de Meio
Ambiente da Votorantim, Ricardo Barbosa dos Santos, questionou os
laudos apresentados pelo clube e disse que geologicamente é
impossível que as atividades da Votorantim, que fica na margem
direita do São Francisco, contamine o aquífero da comunidade do
Beira-Rio, no lado esquerdo do rio.
Segundo ele, há três anos técnicos das secretarias
de Saúde do Estado e do município de São Gonçalo do Abaeté
realizaram um estudo da água e constataram apenas ferro e manganês
acima da normalidade, característica da própria região. Foram
realizadas três coletas, num total de 70 amostras. "A contaminação
de zinco aqui não existe", ressaltou.
O gerente da Votorantim alegou ainda que a
companhia cumpre todas as exigências dos órgãos ambientais e do
Ministério Público em relação ao passivo ambiental causado pelas
atividades da empresa.
A gerente de Qualidade da Fundação Estadual do Meio
Ambiente (Feam), Rosângela Gurgel Machado, disse que os laudos
apresentados pelo Clube dos Piraquaras são de fato insuficientes
para que se possa fazer uma ligação entre a Votorantim e a
contaminação da água do Beira-Rio. Mas alertou para o fato de que
coliformes fecais não são resultado das atividades da empresa.
"Precisaríamos de um estudo bem mais complexo. Não sabemos sequer
como o poço no clube foi furado e como foram feitas as coletas",
explicou. Segundo ela, nem toda água de poços ou cisternas são
próprias para o consumo, depende das características da região.
Investigação - O promotor de
Justiça Mauro da Fonseca Ellovich pediu cópia da ata da audiência
publica realizada pelas comissões e informou que vai instaurar
procedimento investigatório para descobrir a origem do metais e dos
coliformes fecais.
Assembleia mais perto da comunidade
O deputado Vanderlei Miranda (PMDB) lembrou que a
audiência foi realizada a partir de denúncias que chegaram ao seu
gabinete e que a Assembleia Legislativa não poderia "cruzar os
braços e nem ser omissa" diante da situação. Para o deputado, se não
há presença de zinco na água, há outros elementos nocivos à saúde da
população.
Vanderlei Miranda lembrou que, embora a Copasa
tenha começado recentemente a fornecer água para a comunidade, não
se pensou no saneamento. O deputado informou que vai apresentar em
breve requerimento para que órgãos ambientais façam um novo estudo
técnico da água. "Só com informações mais atuais descobriremos a
origem do problema".
O deputado Almir Paraca (PT), por sua vez,
mostrou-se preocupado também com o Rio São Francisco e com as
comunidades ribeirinhas. "Estamos avançando. No passado a legislação
ambiental era permissiva, tanto que permitiu a instalação da empresa
muito perto do leito do rio. Hoje temos uma legislação muito mais
adequada aos novos tempos, com a presença constante do Ministério
Público".
Já o deputado Doutor Viana (DEM) lembrou que a ALMG
tem o importante papel de fazer a ligação entre a população e as
autoridades competentes. "Os resultados virão, e a Assembleia
continuará vigilante, acompanhando a situação", disse.
Presenças - Deputados Sávio
Souza Cruz (PMDB), presidente da Comissão de Minas e Energia; Doutor
Viana (DEM), 1º-vice-presidente da ALMG; Vanderlei Miranda (PMDB); e
Almir Paraca (PT).
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