Abandono de máquinas de hemodiálise em Leopoldina alarma
deputados
A existência de 15 máquinas de hemodiálise nunca
usadas, abandonadas há um ano e meio em caixas de um hospital em
Leopoldina (Zona da Mata), escandalizou os deputados estaduais que
estiveram na cidade nesta quinta-feira (8/4/10). A Comissão de Saúde
da Assembleia Legislativa de Minas Gerais visitou Leopoldina para
apurar queixas e denúncias de pacientes da região que utilizam o
serviço na cidade. O requerimento para realização do evento foi do
deputado Délio Malheiros (PV).
Uma das principais queixas dos pacientes é
justamente com relação à qualidade das máquinas utilizadas pela
Unidade de Terapia Renal Substitutiva de Leopoldina, que seriam
muito velhas e malconservadas. Um dos pacientes, José Alfredo, disse
que dormiu durante uma sessão de hemodiálise. "Acordei com a máquina
pegando fogo. Fiquei nove dias no CTI", afirmou. Ele também se
queixou do serviço prestado por alguns profissionais. "Uma vez,
passaram um cateter no meu pescoço e saiu no ouvido", queixou-se.
Outros pacientes disseram que as máquinas frequentemente tiram mais
ou menos líquido do que deveriam, o que pode causar fraqueza e
complicações.
O proprietário dessa clínica, Rubens Valadão, disse
que as 22 máquinas utilizadas atualmente passam por manutenção
adequada e estão dentro do prazo de vida útil desses equipamentos,
que seria de dez anos. Ele admitiu, no entanto, que gostaria de
obter as 15 máquinas que estão em poder do hospital Casa de Caridade
Leopoldinense, mais modernas. "Quem não prefere andar de carro novo
do que em um velho?", questionou.
Segundo informações da gerente regional de Saúde de
Leopoldina, Maria Cristina Souza Nobre, a Casa de Caridade
Leopoldinense recebeu cinco máquinas do Estado e dez do Ministério
da Saúde. A primeira remessa chegou em junho de 2008. O hospital
pretendia assumir o serviço de hemodiálise, mas desistiu. De acordo
com Valadão, em novembro de 2009 a direção do hospital chegou a
fazer uma proposta de cessão das máquinas para a clínica
terceirizada, procedimento que não foi concluído.
A situação indignou os deputados presentes. "Isso é
um acinte aos pacientes de todo o País que estão precisando de
tratamento. Vamos cobrar da Secretaria de Estado da Saúde uma
solução. Tem que colocar essas máquinas para funcionar", afirmou o
presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos Mosconi (PSDB).
"Não é possível esperar que as coisas se resolvam por si. Essa
questão das máquinas é absolutamente inadmissível", afirmou Délio
Malheiros, que elaborou requerimento para que o Ministério Público
seja informado sobre o caso.
Paciente morreu em fevereiro
Também foi discutida na reunião um episódio
ocorrido no início de fevereiro de 2010, quando a paciente Sônia
Maria Ferreira morreu por complicações durante tratamento na Unidade
de Terapia Renal Substitutiva de Leopoldina, no momento em que não
havia nenhum médico nefrologista. Rubens Valadão disse que o
nefrologista, na ocasião, tinha se atrasado, mas que o atendimento
necessário foi prestado pela plantonista da CTI. "Não houve falta de
atendimento. A paciente morreu de um aneurisma dissecante da aorta
abdominal, um problema que é frequentemente fatal", explicou o
proprietário da clínica.
A clínica de Leopoldina atende 75 pacientes de 15
municípios da região. Mais de 20 são de Além Paraíba, como era a
paciente que morreu em fevereiro. O vice-prefeito de Além Paraíba,
Oberdan Moreira, e o vereador Neidson Gonçalves, o Baião, da mesma
cidade, questionaram a qualidade das instalações da clínica e
especialmente o alto índice de mortalidade dos pacientes. Segundo
Baião, desde janeiro já morreram seis pessoas que faziam hemodiálise
na mesma clínica. "É normal isso?", questionou.
Maria Cristina Nobre informou que os laudos
técnicos comprovaram a qualidade da água utilizada na clínica. Ele
disse que, desde a morte ocorrida em fevereiro, não faltou
nefrologista no estabelecimento. No entanto, a clínica foi
notificada pela falta de um médico que assumisse a responsabilidade
técnica pelas máquinas. Ela disse ter recebido de Rubens Valadão,
durante a reunião desta quinta (7), um documento que garante a
indicação desse responsável técnico em um prazo de 10 dias. Segundo
Maria Cristina, as máquinas de hemodiálise que estão no hospital
Casa de Caridade Leopoldinense não poderiam ser repassadas à clínica
por se tratar de um estabelecimento terceirizado.
Presenças - Deputados
Carlos Mosconi (PSDB), presidente da comissão; e Délio Malheiros
(PV). Também participaram da reunião o presidente da Câmara
Municipal de Leopoldina, vereador Antônio Carlos Martins Pimentel; a
vereadora Lourdes Ferraz, presidente da Comissão de Saúde da Câmara
de Leopoldina; a gestora do Programa Saúde da Família da Prefeitura
de Leopoldina, Alessandra Ribeiro de Souza; e o coordenador de
Vigilância Sanitária da SES, Sérgio Nogueira.
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