Luta por indenização pelo Estado já dura quase 70 anos

Quem passa pela avenida Cardeal Eugênio Pacelli, continuação da avenida Amazonas na Cidade Industrial, em Contagem, n...

08/04/2010 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Luta por indenização pelo Estado já dura quase 70 anos

Quem passa pela avenida Cardeal Eugênio Pacelli, continuação da avenida Amazonas na Cidade Industrial, em Contagem, não imagina que a região é palco de uma batalha judicial que já dura 69 anos. Em 1941, as fazendas Ferrugem e Parobas foram desapropriadas pelo Estado para a instalação da Cidade Industrial e até hoje os herdeiros de seus proprietários não foram indenizados. O drama das famílias Hilário e Abreu foi debatido nesta quinta-feira (8/4/10) pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em uma audiência pública requerida pelo seu presidente, deputado Durval Ângelo (PT).

Pelo que foi discutido na reunião, percebe-se que a solução para o problema ainda está distante. O motivo é que o Estado de Minas Gerais vem se utilizando de todos os recursos jurídicos possíveis para protelar o cumprimento da sentença judicial de 1953 determinando o pagamento da indenização. Pelos cálculos do advogado Evandro Brandão, que atua no caso em favor das famílias há 25 anos, o valor gira em torno de R$ 1 bilhão.

Cada mês de atraso no pagamento representa multa de 2% do valor da indenização, ou seja, R$ 20 milhões, explicou Brandão. Esse dado demonstra, segundo ele, a decisão do Governo de não pagar essa dívida. "A procuradora do Estado Glória Maria deve ter sido instruída a interpor todos os recursos possíveis, ganhando tempo com a deficiência da máquina judiciária", afirmou o advogado. O juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública Estadual, Evandro Lopes da Costa Teixeira, confirmou que cabem nada menos que 44 recursos num processo como esse, que já acumula 14 mil páginas. O número total de herdeiros que pleiteiam a indenização chega a 1.356, informou.

Uma das pendências atualmente é exatamente a de se definir quem tem direito a receber o pagamento. Centenas de pessoas já foram excluídas por não terem conseguido provar seu parentesco com os antigos proprietários das fazendas. "Sob o aspecto jurídico, essa questão ainda pode demorar muito tempo", lamentou o juiz, que se solidarizou com a agonia dos herdeiros.

Diálogo - Para tentar agilizar a indenização, o magistrado sugeriu um diálogo entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário para buscar uma solução paralela ao processo judicial. Nesse sentido, o deputado Durval Ângelo informou que vai apresentar um requerimento na próxima reunião da comissão, solicitando o envio de ofício ao governador Antonio Anastasia para que o Poder Executivo encaminhe um projeto de lei à Assembleia determinando a indenização dos herdeiros. Essa solução, lembrou ele, não seria inédita no Estado. Em 2008, a ALMG aprovou o Projeto de Lei (PL) 1.978/08, transformado na Lei 17.719, que prevê a indenização e pensão aos familiares de 33 detentos mortos naquele ano nas cadeias de Ponte Nova e Rio Piracicaba.

Emocionados, herdeiros dizem que não desistirão de lutar

Dezenas de herdeiros dos donos das fazendas desapropriadas na Cidade Industrial participaram da audiência pública. Vestidos de preto, eles foram representados na mesa por Giovana Abreu e Maria Aparecida de Abreu. Elas se emocionaram ao lembrar da luta de vários familiares que já morreram sem ver seu direito reconhecido pelo Estado, mas garantiram que não vão desistir de buscar o que lhes é devido.

O deputado Weliton Prado (PT) se mostrou indignado com a situação e classificou essa história como "uma das maiores injustiças do Judiciário Brasileiro. O Estado deveria ser o primeiro a dar o exemplo, mas faz o contrário. Isso não foi desapropriação, foi roubo", declarou o parlamentar. Ele prometeu manter esse assunto aceso em seus pronunciamentos no Plenário e disse que vai inclusive produzir um filme sobre esse caso.

Debate Público - Durval Ângelo anunciou que no dia 24 de maio, às 14 horas, a Comissão de Direitos Humanos vai realizar um Debate Público a respeito dessa questão, e convocou os 1.356 herdeiros a lotarem as galerias do Plenário da Assembleia. Para o evento serão convidados o advogado-geral do Estado, a promotora Glória Maria, representantes do Conselho Nacional de Justiça e do Ministério Público, além do próprio governador Antonio Anastasia e os deputados estaduais e federais de Minas Gerais.

Outros encaminhamentos propostos pelo deputado são o envio das notas taquigráficas e a gravação em vídeo da reunião para uma série de entidades e autoridades, entre elas o Conselho Nacional de Justiça, a Corregedoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais e o governador do Estado.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; e Weliton Prado (PT). Participou também o juiz diretor do Fórum de Belo Horizonte, Marco Aurélio Ferenzini.

 

 

 

 

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