Deputados vão cobrar agilidade na regularização de mineradoras

Numa audiência com mais de quatro horas de duração, a Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas ...

24/03/2010 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Deputados vão cobrar agilidade na regularização de mineradoras

Numa audiência com mais de quatro horas de duração, a Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais articulou propostas de solução para os problemas vividos por Pains, Córrego Fundo e outros municípios do Centro-Oeste, devido à suspensão da extração de calcário determinada por operação policial na região. Entre as providências que a comissão deverá tomar está uma visita ao presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Brasília, para discutir formas de agilizar as anuências para intervenções em cavidades naturais, referentes a processos de empresas mineradoras da região. O licenciamento ambiental para as empresas atuarem depende da anuência dada pelo instituto.

Segundo informações do site do Ministério Público, repassadas pelo presidente da comissão, deputado Sávio Souza Cruz (PMDB), a operação Pá de Cal foi desenvolvida nos dias 15 e 19 de março por uma força-tarefa formada por 11 instituições estaduais e federais. O objetivo foi interromper a extração ilegal de calcário e o trabalho irregular em Pains. Na operação, foram efetuadas prisões de proprietários (liberados após pagamento de fiança), apreendidos equipamentos e dezenas de empresas tiveram as atividades suspensas, por infringir as legislações minerária, trabalhista e ambiental. A operação em Pains afetou outros municípios da região, como Córrego Fundo, que faz parte da cadeia produtiva do calcário.

Uma outra providência que a comissão deverá tomar é solicitar o retorno imediato da atividade mineradora ao secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho, e à Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram) do Alto São Francisco, que atende aquela região. As propostas foram apresentadas após a manifestação da Cooperativa dos Micromineradores do Centro-Oeste de Minas Gerais (Microminas). A presidente da entidade, Sílvia Silvana de Souza Faria, afirmou que os órgãos ambientais não têm feito "o dever de casa", cobrando agilidade nas decisões sobre pedidos de regularização encaminhados pelas mineradoras, alguns há anos. Vários cooperados da Microminas participaram da audiência, que encheu o Teatro.

Deputados defendem soluções urgentes

Todas as providências acima deverão ser formalizadas por meio de requerimentos a serem aprovados na próxima reunião. Segundo o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), que solicitou o debate desta quarta (23), a audiência teve resultados positivos. "Foi o primeiro passo dado em busca de uma solução, que está sendo construída com todos os segmentos envolvidos", avaliou Dalmo, que se declarou perplexo com a operação Pá de Cal e reivindicou saídas negociadas para os problemas. Tanto ele quanto os deputados Domingos Sávio (PSDB), Dilzon Melo (PTB) e Antônio Carlos Arantes (PSC) cobraram agilidade nas decisões dos órgãos ambientais e atenção para o impacto social da suspensão das atividades das mineradoras, que atingiria milhares de trabalhadores.

O deputado Domingos Sávio apelou para que as empresas tenham a atividade retomada, afirmando que o fechamento é uma medida extrema. "A temática ambiental não pode excluir o ser humano", disse. Já o deputado Dilzon Melo afirmou que há mais de 10 anos a Microminas tem se esforçado para resolver as questões ambientais, mas "a documentação está parada nos órgãos públicos". "É preciso avançar rapidamente, senão o problema ficará maior", resumiu Arantes.

Superintendente regional da Semad informou que Estado tem buscado saídas

A superintendente regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Alto São Francisco, Maria Cláudia Pinto, admitiu que o arcabouço legal deixa perdidos os próprios técnicos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). "Parece briga de gato e rato". Isto porque, para que seja concedida a licença ambiental, é preciso antes a anuência do ICMBio, que assumiu competências do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), entre elas a proteção de cavidades naturais. Somente de posse da licença ambiental é que o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) pode dar a autorização de lavra para o empreendedor. Pains tem uma das maiores reservas de calcário e dolomita do País, é rica em sítios arqueológicos e possui o maior número de cavidades naturais subterrâneas conhecidas no Brasil.

Além disso, explicou Maria Cláudia, o Decreto 6.640, de 2008, passou para o Estado a tarefa de aferir a relevância de cavidades. Depois dessa aferição é que o ICMBio dá ou não a respectiva anuência. Mas a superintendente ponderou que há muitos processos já formalizados no ICMBio, inclusive com pareceres conclusivos para as anuências, e que este seria o caso da maioria das empresas autuadas na operação Pá de Cal. O que o Estado de Minas reivindica é que esse trabalho não se perca e que não seja preciso "começar do zero". Ela informou que o secretário José Carlos Carvalho está em busca de entendimentos com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para resolver a questão. O ICMBio é subordinado ao ministério, segundo informou a superintendente.

Novas ações - Apesar dessas pendências, a Supram assegurou que há um esforço das instituições envolvidas na operação Pá de Cal para resolver os problemas, formalizado por meio de grupo de trabalho. "Temos que atuar juntos; não há outra solução", disse Maria Cláudia Pinto. Ela informou aos participantes da audiência que, a partir da próxima semana, a Supram do Alto São Francisco chamará as mineradoras de Pains para reuniões e apontará pendências e respectivos prazos para sanar irregularidades constatadas. "As equipes estarão de prontidão para analisar, em um prazo não superior a 30 dias, toda e qualquer documentação a ser entregue pelas empresas", assegurou, respondendo à cobrança por agilidade. A audiência desta quarta (24) foi um momento usado inclusive para o agendamento de reuniões entre empresas e a superintendente.

O procurador-chefe da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), Joaquim Martins da Silva Filho, ponderou, por outro lado, que algumas mineradoras acabam apostando na incompetência dos órgãos públicos e ficam acomodados. "Que cobrem de nós!", conclamou.

DNPM explica - O superintendente regional do DNPM, Sérgio Dâmaso, ratificou a fala de Maria Cláudia Pinto, lembrando que, para autorizar a lavra, é preciso estar de posse da licença ambiental. "Há processos parados há 20 anos em busca de uma licença ambiental", ressaltou. Ele também disse que daria "mão à palmatória", reconhecendo a lentidão do departamento, que ainda hoje carece de estrutura, equipamentos e profissionais.

Mineradores expõem problemas e fazem críticas

A presidente da Microminas, Sílvia Faria, afirmou que os órgãos de licenciamento ambiental também deveriam ser fiscalizados, a exemplo dos mineradores. "Por que criaram um grupo de trabalho somente agora, depois da operação policial? Se ele tivesse sido criado antes, não haveria paralisação das atividades das mineradoras", questionou. Segundo ela, mais de 3,5 mil trabalhadores seriam afetados com a interrupção da extração de calcário na região. Sílvia disse que a mineração é feita a céu aberto, em propriedades rurais de terceiros, e que a Microminas não teria como impedir invasões de áreas por, por exemplo, por trabalhadores em busca de pedras "para pagar suas contas".

A volta imediata das atividades das mineradoras também foi cobrada por Pedro Parisi, que representou a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) na audiência. Na avaliação dele, há um entrave institucional que precisa ser desfeito, afirmando que as reuniões com os órgãos ambientais estaduais são produtivas, mas que o mesmo não acontece em nível federal. Somando-se às críticas, o prefeito de Córrego Fundo, Valdir Martins Ferreira, afirmou que, após a operação policial, empreendedores teriam sido pressionados a assinar um termo de ajustamento de conduta (TAC) cujas multas chegariam a R$ 30 mil. "Teve pessoa que assinou o TAC chorando", afirmou.

Procurador explica termo de ajustamento de conduta

O procurador Antônio Augusto Rocha, que representou a procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho/3ª Região, rebateu as críticas. Ele afirmou que a operação Pá de Cal foi multidisciplinar, envolvendo vários órgãos, que tiveram sua esfera de atuação preservada; pautou-se pela legalidade e que não houve "caça às bruxas". Segundo ele, todos foram fiscalizados: grandes, médios e pequenos mineradores. O procurador enfatizou que o trabalho foi norteado pelo fato de que uma atividade econômica que gera riqueza e se apropria de um bem público deve gerar também garantias de cidadania e de proteção à saúde do trabalhador. "Pensar diferente é advogar o fim do Estado", afirmou.

Rocha listou várias cláusulas do TAC firmado na ocasião e desafiou qualquer pessoa a apontar alguma que impedisse a atividade minerária. Entre as cláusulas, estão aquelas que dizem respeito à regularização do trabalho: impedimento de contratar menores de 18 anos para atividade insalubre e perigosa; realização de treinamento admissional, pois, segundo ele, houve casos de mineradoras que não possuíam pessoas treinadas para operar explosivos; elaboração, implementação e manutenção de programa de gerenciamento de riscos; supervisão técnica da mina por profissional habilitado; monitoramento da estabilidade dos maciços; fornecimento de equipamento de proteção individual adequado e em perfeito estado ao trabalhador; oferecimento de instalações sanitárias tratadas e higienizadas; e fornecimento de água potável em condições higiênicas aos trabalhadores.

Em resposta aos questionamentos do prefeito de Córrego Fundo, o procurador do Ministério Público do Trabalho afirmou que quem se sentir prejudicado por suposta ilegalidade ou abuso de poder deve apresentar a devida representação. "Nosso trabalho é de agentes públicos, sujeitos ao controle da sociedade. Pelos excessos, devem responder as pessoas, e não a instituição", afirmou.

Polêmica - Uma das polêmicas da reunião envolveu o procurador Antônio Augusto Rocha e os parlamentares. O deputado Dalmo Ribeiro Silva condenou a fala de Rocha, afirmando que ele teria classificado os deputados de demagogos e que teria extrapolado, ao dizer que todos que integravam a mesa dos trabalhos estariam advogando o fim do Estado por reivindicarem, ainda segundo Dalmo, uma solução negociada. O procurador havia afirmado antes que sua posição tinha que ser enfática e que o Ministério Público atuava com independência.

Em resposta a Dalmo, Rocha disse que seu direito de expressão tinha sido validado na audiência e que a operação policial representou a abertura para a regularização das atividades das mineradoras. Os demais deputados reafirmaram, no entanto, as críticas ao procurador - que teve que se retirar da audiência antes do fim, devido a compromissos institucionais já agendados.

Presenças - Deputados Sávio Souza Cruz (PMDB), que a presidiu inicialmente; Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), que a presidiu depois; Domingos Sávio (PSDB), Antônio Carlos Arantes (PSC) e Dilzon Melo (PTB).

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - www.almg.gov.br

Rua Rodrigues Caldas,30 :: Bairro Santo Agostinho :: CEP 30190 921 :: Belo Horizonte :: MG :: Brasil :: Telefone (31) 2108 7715