Movimentos sociais rejeitam mudanças no Plano de Direitos Humanos

Uma reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, nesta terça-feira (23/3/10), p...

23/03/2010 - 00:03
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Movimentos sociais rejeitam mudanças no Plano de Direitos Humanos

Uma reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, nesta terça-feira (23/3/10), para discutir o 3o Plano Nacional de Direitos Humanos transformou-se em veemente defesa do programa, aprovado por decreto federal em dezembro do ano passado. Uma carta assinada por 70 representantes de movimentos sociais foi divulgada na reunião, em repúdio às propostas de alteração no plano, sob a alegação de que qualquer mudança representa um retrocesso nos avanços conseguidos pela sociedade.

Os participantes criticam as propostas de mudança no plano, nos seis pontos considerados polêmicos por alguns setores da sociedade. O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), autor do requerimento da reunião, criticou o fato de que, das 520 ações previstas no Plano Nacional de Direitos Humanos, seis delas, "que afetam diretamente os interesses de setores relutantes de uma política global inclusiva", sejam usadas para criar um confronto com as leis constituídas.

Como lembrou o deputado Durval Ângelo, o 3o Plano Nacional de Direitos Humanos foi fruto de amplos debates em todo o País, que incluíram as conferências municipais e estaduais. Em Minas, as etapas da Conferência Estadual contabilizaram a participação de 700 entidades de movimentos sociais diversos, como negros, religiosos e de defesa da criança e do adolescente, e o documento nacional foi aprovado em Brasília, com uma sugestão mineira: a criação da Comissão de Verdade e Justiça.

Revisão da tortura da ditadura é o ponto mais polêmico

E é exatamente essa comissão - que pretende reunir provas para encaminhar ao Ministério Público contra os atos de torturadores do período do governo militar - que vem sofrendo mais pressão para ser mudada. De acordo com Heloisa Greco, do Instituto Helena Greco de Direitos Humanos, e Criméia Schmidt de Almeida, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, a comissão já teve a palavra "justiça" excluída sem a permissão dos movimentos que aprovaram o documento e, agora, com o novo decreto do Governo Federal de 13 de janeiro, as suas funções ficaram mais diluídas. "Além disso, o plano não está mais aprovado, como foi no decreto de dezembro de 2009, mas apenas tornado público", informa Heloisa Greco.

Além da Comissão da Verdade, outros pontos que os movimentos - reunidos no Fórum Permanente de Defesa do Plano Nacional de Direitos Humanos, criado em fevereiro - não abrem mão são: a consulta aos movimentos de sem terra em caso de conflitos de terra, quando da reintegração de posse; o controle social dos meios de comunicação; o direito à união civil estável de integrantes do movimento Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais e Bissexuais (LGTB); a retirada de símbolos sagrados das edificações públicas; e a descriminalização do aborto.

A defesa desses pontos foi feita pelos representantes do movimento LGTB, do Movimento Negro Unificado, da Coordenação Executiva e de Comunicação do Monabantu/MG. Todos foram unânimes em reconhecer que apesar de ainda precisar avançar muito, o Plano Nacional de Direitos Humanos não pode sofrer as mudanças propostas, classificadas como retrocesso por eles. Todos enfatizaram tratar-se de um documento de toda a sociedade, que participou de sua elaboração, e não do Governo Federal.

Encaminhamentos - Como resultado do debate, os movimentos sugeriram que a Comissão de Direitos Humanos encaminhe a carta do Fórum Mineiro a todos os órgãos envolvidos na discussão. Durval Ângelo propôs que o documento seja mais difundido entre os movimentos, visando aumentar o número de assinaturas e depois encaminhado como uma moção da Assembleia de Minas.

Requerimentos - A comissão aprovou os seguintes requerimentos do deputado Durval Ângelo: que seja encaminhado pedido de providências ao Ministério Público de Ipatinga, para acompanhar o inquérito da Polícia Civil que apura o homicídio de Eules dos Santos Ricardo; audiência pública para discutir a jurisdição agrária no Estado de Minas Gerais e os direitos humanos; audiência pública em São Gonçalo do Sapucaí para ouvir cidadãos sobre denúncias de abuso de poder de algumas autoridades; sejam encaminhados ao Conselho Nacional de Justiça e outros órgãos cópias das notas taquigráficas da reunião que tratou dessas denúncias e pedido de providências para apurar outras denúncias de abuso de autoridade e de violação aos direitos humanos, envolvendo componentes do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Delegacia de Polícia e da Polícia Militar no mesmo município; seja encaminhado pedido de providências à Corregedoria da PMMG sobre o mesmo assunto; sejam encaminhados à OAB, ao Sindicato dos Advogados e à Coordenação do Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário cópia das notas taquigráficas da mesma reunião; seja encaminhado à Corregedoria-Geral de Justiça do Estado pedido de providências para apurar denúncias de utilização, pelo juiz de São Gonçalo do Sapucaí, de um guarda-costas particular armado; seja encaminhado pedido de providências ao juiz da Vara de Execuções Criminais de Belo Horizonte para conceder a Ricardo Lourenço da Silva, detido no presídio Inspetor José Martins Drumond, em Ribeirão das Neves, os benefícios de execução de pena a que tiver direito.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Paulo Guedes (PT); Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); e Braulio Braz (PTB). Também participaram da reunião Élcio Pacheco, da Rede Nacional de Advogados Populares; Ângela Maria da Silva Gomes, do Movimento Negro Unificado; Anyky Lima, coordenadora do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais; Criméia Alice Schmidt de Almeida, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos; Carlos Magno, secretário de Comunicação da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais; e Makota Kizandembu Kiamaza, da Coordenação Executiva e Comunicação Monabantu-MG.

 

 

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