Deputados cobram consulta pública antes de obras no Vetor Norte

A realização de consultas e audiências públicas que precedam as obras e intervenções do Estado nos bairros e municípi...

18/03/2010 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Deputados cobram consulta pública antes de obras no Vetor Norte

A realização de consultas e audiências públicas que precedam as obras e intervenções do Estado nos bairros e municípios do vetor norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte foi a principal cobrança dos parlamentares em reunião realizada nesta quinta-feira (18/3/10) pela Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O debate aconteceu no bairro Morro Alto, em Vespasiano, a fim de avaliar o impacto e as perspectivas para a população da implantação da Cidade Administrativa, nova sede do Governo do Estado.

O evento aconteceu a requerimento do presidente da comissão, deputado André Quintão (PT), atendendo solicitação da vereadora Adriana Lara, de Vespasiano. Tanto o prefeito de Vespasiano, Carlos Murta, quanto representantes da sociedade civil se queixaram da falta de informações e de participação popular no processo decisório a respeito das obras e projetos planejados para a região do entorno da Cidade Administrativa. As autoridades de Vespasiano, principal município impactado pela implantação da nova sede do governo, também disseram que as intervenções programadas pelo Estado são insuficientes para enfrentar os problemas da região e os efeitos negativos da expansão imobiliária.

O diretor-geral da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, José Osvaldo Lasmar, admitiu o caráter pouco democrático da implantação da Cidade Administrativa, mas disse que isso é um defeito presente em todas as instituições públicas, sejam federais, estaduais ou municipais. "O poder público, em todas as suas instâncias, é autoritário. O próprio PAC não passou pelo Conselho Nacional de Cidades", afirmou.

A censura mais veemente ao Estado veio do deputado Carlin Moura (PCdoB), que considera a falta de planejamento urbanístico e de transparência uma estratégia deliberada para beneficiar as empresas imobiliárias. "Esse centro administrativo não foi feito para o governo economizar, foi feito para dar lucro às grandes imobiliárias, que vêm aqui comprar barato para depois vender caro", declarou o parlamentar.

Prefeito pede R$ 22 milhões para áreas de risco

Apesar de os representantes do Governo do Estado terem anunciado que serão investidos R$ 20 milhões em obras no entorno da Cidade Administrativa, o valor foi considerado insuficiente por autoridades locais e representantes do movimento social, a começar pelo prefeito de Vespasiano, Carlos Murta. Ele disse que o município conta com 5,9 mil residências em áreas de risco, mais da metade no entorno da Cidade Administrativa. "Só para regularizar essas áreas de risco, precisamos de R$ 22 milhões", afirmou.

Murta também cobrou do Estado a construção de pelo menos mais quatro escolas estaduais de 2º grau, uma vez que existe hoje apenas uma para atender uma população de 60 mil pessoas. Segundo ele, essa é a população de Vespasiano que vive no entorno da Cidade Administrativa, incluindo bairros como Morro Alto, Nova Pampulha e Serra Dourada. O prefeito disse que está fazendo sua parte, construindo mil casas populares nesses dois últimos bairros. Também prometeu entregar 400 escrituras a mutuários da Cohab que estavam ameaçados de perder suas casas há poucos meses.

O deputado André Quintão disse que o impacto da Cidade Administrativa vai muito além da regularização de áreas de risco. "Há uma carência de infraestrutura, de ações sociais, a pressão da especulação imobiliária que leva ao aumento dos aluguéis e a pressão no transporte coletivo. Precisamos que a população participe da definição de prioridades e que seja definido um cronograma de obras, que possamos cobrar e fiscalizar", afirmou o parlamentar.

O coordenador do Projeto de Implantação da Cidade Administrativa, Ricardo Lopes Martins, disse que os R$ 20 milhões do Governo do Estado serão investidos na recuperação de 26 escolas, na construção da Associação Comunitária do Bairro Serra Verde e em ações de compensação ambiental.

Outros dois grandes projetos estão sendo executados por meio da Secretaria de Estado de Transporte e Obras Públicas (Setop), representada no encontro pelo assessor José Adilson de Oliveira. O principal é a construção do Terminal Metropolitano na avenida Coletora 1, que demandará a desapropriação de mais de 50 habitações. O outro projeto é a pavimentação de ruas que são itinerários de ônibus. "Já foi publicada a licitação e as propostas para pavimentação serão recebidas até o final de março", disse Oliveira.

A própria construção do terminal enfrenta críticas da população, que questiona o fato de ela estar situada nas proximidades da Estação Vilarinho, que permanece subutilizada. O prefeito de Vespasiano se queixou de que foi apenas comunicado da decisão do governo de demolir uma escola para implantar o terminal. Por fim, moradores questionaram a necessidade de se desapropriar moradias para a execução do projeto.

Maior temor é a desapropriação forçada

Diversos moradores disseram ter medo de perder suas casas, muitas vezes construídas de forma irregular, em áreas de risco ou preservação ambiental. Ricardo Martins negou que exista qualquer regra de que o perímetro de até cinco quilômetros ao redor da Cidade Administrativa seria desocupado para transformação em área de segurança.

Apesar da garantia, a coordenadora do Núcleo Habitacional Central do Estado de Minas Gerais, Ednéia Aparecida de Souza, lembrou a história dos próprios moradores do Morro Alto para justificar os temores da população. Ela recordou que muitas famílias foram despejadas ali em 1980, após serem expulsas da antiga favela do Perrella, a fim de dar espaço para a construção da atual Câmara Municipal de Belo Horizonte. "Naquela época, os moradores foram arrastados pelos cabelos e jogados nos caminhões da Polícia do Exército. Não é possível que vocês tenham sido expulsos de Belo Horizonte para a construção da Câmara e agora vão ser expulsos porque o governador resolveu construir um palácio na divisa de Vespasiano", disse Ednéia.

Já a vereadora Adriana Lara disse que a população que construiu a região do Morro Alto, que era periferia, não pode ser prejudicada agora que se transformou no filé mignon do mercado imobiliário.

O professor associado do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFMG, Geraldo Magela Costa, reforçou que a regularização fundiária é a questão central da região. Ele ressaltou que um grupo de professores da universidade participou da elaboração de um projeto de intervenções públicas para conter o impacto negativo da implantação do Contorno Viário Norte, outra obra de grande porte que atingirá Vespasiano. Ele criticou a forma como os grandes projetos são executados. "O que acontece hoje não é planejamento, é correr atrás", afirmou.

Ao final da reunião, André Quintão disse que a comissão irá aprovar requerimentos cobrando a realização de consultas e audiências públicas que antecedam a execução das obras; a implantação de compensações ambientais e nas áreas de saúde e educação; e a realização de uma outra reunião, pela ALMG, para discutir especificamente o impacto ambiental das obras em execução no entorno da Cidade Administrativa.

Presenças - Deputados André Quintão (PT), presidente da comissão; e Carlin Moura (PCdoB). Também participaram da reunião a presidente da Câmara Municipal de Vespasiano, vereadora Ana Ferreira da Rocha; o assessor do DER-MG, Cláudio Lima do Nascimento; e a superintendente da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Simone Ribeiro.

 

 

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