Magistrados defendem orçamento próprio para as Apacs

A formação de um grupo de estudos com representantes do Executivo, Legislativo, Judiciário e do Ministério Público es...

12/03/2010 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Magistrados defendem orçamento próprio para as Apacs

A formação de um grupo de estudos com representantes do Executivo, Legislativo, Judiciário e do Ministério Público estaduais com o objetivo de modificar a Lei de Execução Penal no Estado, possibilitando que as Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs) sejam dotadas com um orçamento próprio. Essa foi uma das sugestões apresentadas em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, realizada nesta sexta-feira (12/3/10), que contou com a presença de representantes de 24 Apacs, localizadas em Belo Horizonte e no interior do Estado. Na reunião, também foi defendida a concessão de uma suplementação orçamentária para as Apacs em 2010 no valor de R$ 10 milhões.

O desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) Herbert José Almeida Carneiro destacou que as Apacs não podem mais ser vistas como um projeto, mas sim como uma política pública de Estado que já está consolidada no sistema carcerário mineiro. Para ele, o grupo de estudos deve se voltar para a elaboração de um projeto de lei que dê status de política pública às Apacs. "Não é mais possível que as Apacs dependam de convênios para pagar uma conta de luz, por exemplo", ressaltou.

Herbert Carneiro defendeu que é necessário que as Apacs possuam um orçamento que contemple verbas para construção, manutenção e fiscalização. "Com um orçamento próprio, será possível então planejar e executar a ampliação das Apacs em Minas Gerais", disse. Segundo ele, hoje as Apacs em Minas são responsáveis por dois mil presos, e os estudos indicam que esse número pode ser ampliado. "Se ampliarmos esse número, tenho certeza de que os índices de violência no Estado vão cair", considerou.

Por fim, o desembargador afirmou que resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editada recentemente autoriza e incentiva os tribunais de Justiça a desenvolver políticas e projetos voltados para a melhoria do sistema carcerário em cada Estado. Para ele, essa resolução funciona como um suporte legal para que sejam feitas alterações na Lei de Execução Penal de Minas Gerais com vistas a dar autonomia orçamentária às Apacs.

Novas Apacs - O coordenador do Projeto Novos Rumos na Execução Penal do TJMG, desembargador Joaquim Alves de Andrade, solicitou apoio da Comissão de Direitos Humanos e do Legislativo mineiro para que seja possível destinar maior orçamento para as Apacs. "Se o Tesouro do Estado repassar direto o dinheiro para o Tribunal de Justiça administrar, vamos poder construir pelo menos 15 Apacs por ano", afirmou. Para ele, se o TJ é hoje responsável pela construção de fóruns, pode também ser responsável pela construção de centros de reintegração social.

Comissão pede suplementação orçamentária para Apacs

A concessão de uma suplementação orçamentária em 2010 e o aumento da verba prevista no orçamento do próximo ano para as Apacs foi defendida pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos e autor do requerimento para a realização da reunião, deputado Durval Ângelo (PT). Ele reivindicou que o Executivo conceda uma suplementação de R$ 10 milhões em 2010 e o aumento da verba prevista no orçamento de 2011 de R$ 10 milhões para R$ 30 milhões. O parlamentar sugeriu a realização de uma reunião com o vice-governador e com representantes do CNJ para apresentar as sugestões colhidas ao Governo do Estado.

Segundo dados apresentados pelo presidente da Diretoria Executiva da Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), Valdeci Antônio Ferreira, atualmente existem 30 comunidades preparadas para a construção de novas Apacs, mas o orçamento previsto não permite a sua instalação. Ele destacou ainda que faltam recursos também para a ampliação de Apacs já existentes, como a de Nova Lima (Região Central).

Para Durval Ângelo, a concessão de uma suplementação orçamentária pelo Executivo ainda em 2010 irá permitir o início da construção dessas novas unidades. O deputado destacou que a suplementação orçamentária e a alteração nos valores previstos para o orçamento de 2011 devem ser feitas paralelamente à elaboração do projeto de lei. "Dessa forma, garantimos verbas para as Apacs antes mesmo da aprovação do projeto de lei, que pode demorar", disse. Ele defendeu ainda que a nova lei dê mais agilidade ao repasse de verba para as Apacs e sugeriu que seja criado um mecanismo para que os municípios que incentivarem a instalação de Apacs recebam mais recursos do Estado.

Convênios - Já a diretora da FBAC Tatiana Flávia Faria de Souza falou sobre a necessidade de ampliar e melhorar os convênios de manuntenção das Apacs. Segundo ela, atualmente 25 Apacs possuem convênios de manutenção, mas os valores ainda são modestos. "Precisamos que seja destinada mais verba para esses convênios, permitindo um melhor funcionamento das Apacs", afirmou.

Criminosos são transformados em cidadãos

"Nas Apacs, os criminosos são transformados em cidadãos". Com essa frase, o desembargador Joaquim Alves de Andrade defendeu o trabalho desenvolvido na Apacs. Segundo ele, o método Apac é hoje uma referência no Brasil, mas também no restante do mundo, já que a própria Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a sua eficácia.

O coordenador executivo do Projeto Novos Rumos na Execução Penal, juiz Luiz Carlos de Rezende e Santos, destacou que, enquanto no sistema prisional comum o índice de reincidência dos presos é de cerca de 80%, nas Apacs esse índice é de 10%. Ele também afirmou que tanto o custo de construção quanto o de manutenção das Apacs representa um terço das despesas geradas pelo sistema carcerário tradicional.

"O sucesso das Apacs é derivado da parceria do Judiciário com o Executivo e com as comunidades locais", considerou. Para ele, além da recuperação dos presos, as Apacs fazem um trabalho importante de aproximação da sociedade com o sistema carcerário, já que a comunidade é chamada a participar da preparação para a volta dos detentos à sociedade.

Voluntariado - Luiz Carlos Rezende e Santos lembrou ainda que as pessoas que trabalham e ajudam diretamente na manutenção das Apacs são voluntários. "Precisamos de apoio financeiro para continuar mantendo os voluntários mobilizados", afirmou. Para o juiz, o projeto de lei a ser apresentado deve prever que o Tribunal de Justiça tenha o controle sobre a destinação dos recursos, já que é o órgão hoje no Estado capaz de conhecer e avaliar a situação de cada Apac. "O critério mais importante a ser considerado para a destinação dos recursos de construção, manutenção e ampliação deve ser o envolvimento da comunidade com as Apacs", disse.

O presidente da FBAC, Valdeci Antônio Ferreira, considerou que a principal luta das pessoas envolvidas com as Apacs é para acabar com o preconceito da sociedade contra as pessoas que já praticaram crimes. Ele defendeu a descentralização do sistema carcerário, pois a participação direta da comunidade é fundamental para a ressocialização dos presos.

Valdeci Ferreira lembrou que nas Apacs nunca foram registradas rebeliões, denúncias de torturas ou violência contra os voluntários. Já o deputado Durval Ângelo destacou os princípios que norteiam o método Apac, como a presença da família, a ressocialização e a valorização do trabalho.

PAI-PJ - Na reunião, outro tema debatido foi o Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de Sofrimento Mental (PAI-PJ). Desenvolvido pelo TJMG, o programa realiza um acompanhamento em processos criminais em que o réu é ou apresenta indícios de ser portador de sofrimento mental. O deputado Durval Ângelo defendeu que o programa também ganhe uma seção própria na Lei de Exucação Penal de Minas Gerais, garantindo a sua ampliação em Minas Gerais. O desembargador Herbert Carneiro afirmou que, da mesma forma que as Apacs, o PAI-PJ não pode mais ser visto como um projeto do Tribunal de Justiça, mas como uma política pública de Estado.

Requerimentos - Por fim, o deputado Durval Ângelo apresentou requerimentos (que devem ser aprovados na próxima reunião da comissão) solicitando, além da realização de audiência pública com o vice-governador, a realização de uma nova reunião preparatória para o encontro com o Governo do Estado. Ele também solicitou que seja feita uma síntese das propostas apresentadas para serem discutidas na reunião como o vice-governador, uma cópia das notas taquigráficas da audiência pública, além de cópia da gravação da reunião à ser entregue à FBAC, entre outros.

Presenças - Deputado Durval Ângelo (PT), presidente; e, além dos convidados já citados, a representante da Apac Feminina de Belo Horizonte, Andreza Lima de Menezes.

 

 

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