Toyota não comparece a reunião para explicar defeito em
carros
A Toyota não enviou representantes à audiência
pública da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta terça-feira (9/3/10),
convocada para debater falhas relatadas por consumidores de veículos
da marca, que se recusa a realizar recall no Brasil. Uma nova
reunião deve ser marcada para o início de abril, com a participação
da empresa. O deputado Délio Malheiros (PV), autor do requerimento
para a realização do debate, leu correspondência da empresa
informando sobre a impossibilidade de comparecer à reunião desta
terça (9) e pedindo a remarcação para daqui um mês.
Após ouvir os relatos de três clientes da marca que
tiveram problemas com seus veículos, o parlamentar garantiu que
levará o caso, ainda esta semana, ao Departamento de Proteção e
Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça, em Brasília.
Ele ainda apresentou requerimento solicitando ao Ministério Público
a abertura de procedimento para apurar a situação.
Os três consumidores que participaram da audiência
tiveram problemas com o veículo Corolla 2009 automático. Patrícia
Correa Mourthé relatou que seu carro acelerou repentinamente quando
ela entrava em sua garagem, em declive. Mesmo pisando no freio, o
carro não parava e ela perdeu o controle do veículo, que só parou
quando bateu em uma parede de concreto. Ela contou que puxou o freio
de mão, os airbags foram acionados e o motor continuava
fazendo barulho, como se estivesse em alta rotação. A seguradora
declarou perda total do veículo. Mesmo não encontrando uma
explicação racional para o ocorrido, não imaginou que se tratava de
um problema da marca. Somente quando soube de situações parecidas,
pela imprensa, é que percebeu que a situação era mais séria.
A experiência da médica Maria do Carmo Barros de
Melo, que trabalha com simulação de segurança, foi um pouco
diferente. Ao arrancar no sinal, o carro saiu em alta velocidade. O
veículo não respondeu ao pedal de freio nem ao freio de mão, e ela
chegou a pensar em jogar o carro em um poste ou muro com a intenção
de pará-lo. "Eu estava em uma avenida movimentada e temia envolver
outras pessoas em um acidente", explicou. Foi então que ela colocou
o carro na posição neutra e ele parou, embora o motor continuasse
fazendo o barulho de alta rotação. "Parecia que ia explodir", disse.
Ela então ficou imóvel e religou o carro, que
funcionou normalmente. A médica foi imediatamente à concessionária,
que alegou ser um problema de fixação do tapete. "Tenho certeza de
que não foi o tapete", afirmou Maria do Carmo, que chegou a fazer
simulações para ver se isso seria possível. Ela procurou o Serviço
de Atendimento ao Cliente (SAC) da Toyota e chegou e enviar cinco
e-mails. Só obteve resposta um mês depois, de que seria mesmo uma
falha do tapete. "Se o problema é mesmo esse, porque eles não fazem
o recall para trocar o acessório?", questionou. Segundo ela,
um amigo que é engenheiro mecânico acredita em falha eletrônica.
"Vivi uma situação de horror! Tenho um carro que custou caro e é uma
arma", desabafou.
João Paulo Lopes de Sena passou pelo travamento do
pedal do acelerador duas vezes, a primeira delas em fevereiro de
2009. Ele disse que dirigia em baixa velocidade quando percebeu o
problema e teve que empurrar o pedal com o pé. De acordo com João
Paulo, o carpete de seu carro é especial e foi adquirido na
concessionária.
Ele é cliente da mesma loja onde Maria do Carmo
adquiriu seu veículo e também recebeu a resposta de que se tratava
de uma falha na fixação do tapete. João Paulo contou que chegaram a
dizer que o carpete poderia ter sido mal colocado ao ser retirado
para lavar, que as travinhas podiam ter sido retiradas. Ele disse,
contudo, que as tais travinhas não existiam quando ele comprou o
veículo e que foram oferecidas a ele depois do problema. "Quero
inverter o ônus da prova. Agora quero que eles provem que o problema
é o tapete", desafiou.
MP quer resguardar garantias dos
consumidores
Para o promotor Amauri Artimas da Matta, é bastante
estranho que a Toyota esteja realizando recall nos Estados
Unidos e Europa motivado por problemas semelhantes aos relatados
pelos clientes de Minas Gerais e, no entanto, negue a necessidade de
uma correção de falhas no Brasil. Ele sugeriu uma reunião na tarde
desta terça (9) para colher os relatos das vítimas no Ministério
Público e resguardar os direitos dos consumidores. O deputado Jayro
Lessa (DEM) propôs intermediar o contato junto à Toyota pedindo que
a situação fosse verificada com os clientes. No entanto, Maria do
Carmo de Melo lembrou que esse contato já foi feito e que a resposta
da empresa é de falha na fixação do tapete. "Qual o valor da minha
palavra?", questionou.
Além dos requerimentos para a realização de nova
reunião, acompanhamento do Ministério Público e encaminhando do caso
ao DPDC, foram aprovados na audiência outros dois requerimentos. Um
deles, dos deputados Délio Malheiros, Ruy Muniz (DEM), Dalmo Ribeiro
Silva (PSDB) e Carlin Moura (PCdoB), é para a realização de reunião
conjunta com a Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e
Informática para debater o primeiro relatório bimestral de 2010 da
BDO Brasil sobre a auditoria na Unincor. O segundo, do deputado
Adalclever Lopes (PMDB), é para a realização de reunião conjunta com
a Comissão de Minas e Energia para discutir os investimentos da
Petrobras no Estado. Também foram aprovadas outras três proposições
que dispensam a apreciação do Plenário da Assembleia.
Presenças - Deputados
Adalclever Lopes (PMDB), presidente; Délio Malheiros (PV), vice; e
Jayro Lessa (DEM).
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