Audiência sobre Plano Decenal da Educação gera mudanças em parecer

Uma reunião que possibilitou avanços no debate sobre o Plano Decenal de Educação, com resultados positivos. Assim os ...

03/03/2010 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Audiência sobre Plano Decenal da Educação gera mudanças em parecer

Uma reunião que possibilitou avanços no debate sobre o Plano Decenal de Educação, com resultados positivos. Assim os deputados da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembleia Legislativa de Minas Gerais avaliaram a audiência realizada nesta quarta-feira (3/3/10) para debater o parecer sobre emendas apresentadas ao Plano, na sua discussão em 1º turno, no Plenário. A audiência e o encontro informal com movimentos sociais promovido na última segunda (1º) geraram alterações no parecer. Entre elas, a menção à vinculação de nutricionistas à administração pública; o acompanhamento social em escolas estaduais de ensino fundamental; o aumento do número de aulas de educação física para os ensinos fundamental e médio; e a ênfase na aquisição de produtos da agricultura familiar na alimentação escolar.

O Plano Decenal de Educação, que traça objetivos e metas para a educação nos próximos dez anos, está detalhado no Projeto de Lei (PL) 2.215/08, do governador, em tramitação na ALMG. Em dezembro, o projeto recebeu 45 emendas no Plenário e retornou à comissão. Somente depois de aprovado o parecer da comissão é que ele estará pronto para ser votado pelo Plenário. O presidente da comissão, deputado Ruy Muniz (DEM), havia apresentado anteriormente seu relatório, que foi reformulado após o debate com representantes das comissões de representação do Fórum Técnico Plano Decenal de Educação de Minas Gerais, do Seminário Legislativo Esporte: Infância e Adolescência e do Ciclo de Debates Alimentação Escolar. Toda essa negociação ocorreu a partir de reivindicações dos movimentos sociais e de entendimentos entre parlamentares.

Votação na semana que vem - Ao final da audiência, o presidente desconvocou a reunião que estava programada para as 16 horas desta quarta (3), quando seria apreciado o parecer. A votação foi adiada para a próxima quarta (10), a fim de possibilitar a análise de um ponto discutido na audiência: a participação do profissional de educação física na educação infantil. Nesse sentido, foi aprovado requerimento da comissão, apresentado pelo deputado João Leite (PSDB), de uma consulta formal ao Ministério da Educação (MEC) e ao Conselho Nacional de Educação sobre o conceito de atividade física aplicada à educação infantil, bem como sobre a competência do professor.

Deputados e convidados comentam

O presidente da comissão, deputado Ruy Muniz, fez um balanço das negociações com os movimentos sociais, destacando o esforço para "escutar, avançar e fazer a melhor lei, com espírito democrata". O presidente afirmou que a intenção é votar o plano ainda em março. A atuação de Muniz foi elogiada pelo deputado Carlin Moura (PCdoB), um dos autores do requerimento de realização do fórum técnico que subsidiou a análise do Plano Decenal em 2009, inclusive com consulta pública pela internet. Para Carlin, o parecer é razoável e avançado, e sua feição democrática é creditada também, segundo ele, às entidades parceiras na realização do fórum técnico.

Coube à deputada Gláucia Brandão (PPS) lembrar que é preciso acompanhar os desdobramentos do debate, bem como a execução do plano. Já a ex-deputada e ex-presidente da comissão, Maria Lúcia Mendonça, que também participou dos debates, enfatizou que o diálogo com os movimentos sociais foi uma demonstração de que era possível aprimorar ainda mais o projeto. Para Elen Santos, assessora da Federação dos Trabalhadores em Agricultura (Fetaemg), existe uma dívida histórica com os homens e as mulheres do campo, mas foi possível avançar bastante nessa temática, durante a tramitação do PL 2.215/08. Ela e o presidente do Sindicato dos Professores (Sinpro), Gilson Reis, estimam que a determinação de avaliação do Plano Decenal a cada dois anos será importante para o controle social da execução das políticas públicas na área da educação.

Relator apresenta mudanças no parecer e participantes fazem novas sugestões

Com o apoio do servidor Caio Borelli, consultor da área de educação da ALMG, a comissão explicou que, das 45 emendas, 13 foram modificadas, acatando as reivindicações dos movimentos sociais; quatro tiveram a rejeição mantida, tendo em vista óbices de natureza constitucional e legal; quatro tiveram parecer pela aprovação na forma proposta; três foram prejudicadas, pois estavam contempladas no substitutivo nº 1, apresentado pela comissão no 1º turno; seis subemendas do relator tiveram a concordância dos representantes sociais e outras 15 com parecer pela rejeição tiveram a argumentação também acatada.

As emendas foram formuladas pelos seguintes deputados: Padre João (nºs 2 a 4); André Quintão (nºs 5 a 13); Wander Borges, do PSB (nº 14); Carlin Moura (nºs 15 a 37, 45 e 46) e deputada Gláucia Brandão (nºs 38 a 44).

Na audiência desta quarta (3), outras duas mudanças foram incorporadas, sendo uma delas por sugestão do presidente do Conselho Regional de Nutricionistas, Élido Bonomo, e da assessora técnica do Conselho Estadual de Segurança Alimentar, Jaqueline Junqueira. A sugestão foi apresentada à emenda nº 12, do deputado André Quintão (PT), que antes havia recebido parecer pela rejeição. O texto original assegurava o cumprimento da Lei Federal 11.947, de 2009, que determina que, do total de recursos repassados ao programa de alimentação escolar, no mínimo 30% sejam usados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações. O relator alegava antes que a imperatividade é atributo do ato legal e não haveria, portanto, necessidade de incorporar ao Plano a menção à lei.

Depois do encontro com os movimentos sociais na última segunda (1o), o relator apresentou subemenda que incluía a menção à aquisição regionalizada da alimentação escolar de produtos da agricultura familiar. O texto será aprimorado agora, com a determinação de que, do total de recursos que o Estado vier a suplementar dos repasses da União para a alimentação escolar, 30% serão destinados à aquisição de produtos da agricultura familiar.

Outra sugestão partiu de Bonomo e vai gerar mudanças no texto da emenda nº 40, da deputada Gláucia Brandão (PPS). Originalmente, a emenda determinava que fossem universalizados, em três anos, os exames de acuidade visual e auditiva e a avaliação postural, funcional e cognitiva dos alunos das escolas públicas de ensino fundamental. O relator chegou a apresentar, nesta quarta (3), subemenda incluindo a avaliação antropométrica para alunos; e, por sugestão de Bonomo, a expressão será modificada para avaliação nutricional, que engloba aquela e outros indicadores.

Educação física - Anísia Sudário Daniel, da comissão de representação do Seminário sobre o Esporte, levantou uma questão que vai gerar consulta formal ao MEC, por meio de requerimento. Ela reivindicou a menção a aulas de educação física na educação infantil, ponderando que é essencial a presença de profissional habilitado para trabalhar a questão do movimento, nessa faixa etária. O deputado Ruy Muniz e a deputada Gláucia Brandão avaliaram que não seria possível, neste caso, invadir a competência do município, responsável pela educação infantil. Já o deputado João Leite reforçou a fala de Anísia, destacando que era preciso "procurar brechas". Reforçando as indagações, a coordenadora do curso de Educação Física da PUC Minas, Eustáquia Salvadora de Souza, opinou que a educação física é componente curricular da educação básica, mas que não estaria garantido que o professor seja o profissional habilitado.

Papel do nutricionista, acompanhamento social, educação física e educação no campo

Além das subemendas apresentadas às emendas nº 12 e 40, o relator apresentou as seguintes mudanças no parecer, acatando as reivindicações dos movimentos sociais:

* Subemenda à emenda nº 6: o novo texto dota o Estado de nutricionistas habilitados, com vínculo com a administração pública, para coordenar as ações dos programas de alimentação escolar.

* Subemenda à emenda nº 10: determina a implantação, em cinco anos, nas escolas estaduais de ensino fundamental prioritariamente situadas em áreas de maior vulnerabilidade social, de ações de acompanhamento social para atendimento de alunos e suas famílias pertencentes a comunidades que apresentem baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ou vulnerabilidade social intensa. Antes o parecer era pela rejeição.

* Subemenda à emenda nº 13: o novo texto assegura a participação de lideranças políticas das comunidades indígenas na definição de padrões de atendimento e dos projetos educativos e pedagógicos e na formação de critérios para a avaliação sistêmica da educação indígena. Anteriormente, a expressão utilizada pelo relator era "representantes das comunidades indígenas".

* Subemendas às emendas nºs 16, 25, 29, 32, 34 e 35: previsão de possibilidade de licença remunerada para pós-gradução de professor (nº 16); inclusão de prioridade para a educação no campo em programas de transporte escolar (nº 25); inclusão de texto referente à consolidação das escolas do campo (nº 29); inclusão de texto para que se evite a transferência de alunos do campo para escolas de áreas urbanas (nº 32); retirada de expressão considerada restritiva da promoção da educação profissional no campo (nº 34); e inclusão de texto com referência expressa à formação de educadores indígenas, do campo e quilombolas (nº 35). As emendas anteriormente haviam recebido parecer pela rejeição.

* Subemendas às emendas nºs 39 e 42: antes com parecer pela aprovação, as emendas originais receberam subemendas, a fim de alterar de duas para três o número de aulas semanais de educação física nos ensinos fundamental e médio. O texto das subemendas garantem que a educação física seja ministrada em todas as séries dos dois níveis de ensino na rede estadual por professores habilitados e com carga horária mínima de três aulas semanais.

Piso salarial - A implantação do piso salarial nacional do professor da educação básica também foi discutida na audiência. Gilson Reis, do Sinpro, destacou a importância da aprovação da subemenda nº 1 à emenda nº 46, do deputado Carlin Moura, que trata do assunto. Ele também reivindicou aos parlamentares que pressionem o Executivo para que essa implantação seja imediata. Em 2010, o valor do piso nacional, determinado pela Advocacia-Geral da União, é de R$ 1.024,00, segundo informou a consultoria da comissão. Esse valor foi determinado pela queda da arrecadação decorrente da crise econômica mundial.

Em resposta, o deputado Ruy Muniz ponderou que a vigência seria no ano de 2011, tendo em vista que qualquer alteração na folha de pagamento de pessoal demandaria suplementação orçamentária. No entanto, para o deputado Carlin Moura, a implantação deveria ser imediata.

A subemenda nº 1 à emenda nº 46 foi formulada para "assegurar, a partir do primeiro ano de vigência do Plano, que o vencimento inicial das carreiras dos profissionais do magistério público da educação básica corresponda, no mínimo, ao valor determinado na Lei Federal 11.738, de 2008, para o Piso Salarial Profissional Nacional, a ser atualizado anualmente conforme o valor por aluno referente aos anos iniciais do ensino fundamental urbano, definido nacionalmente, nos termos da Lei 11.494, de 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb)".

Certificação - Entre as emendas cujo parecer pela rejeição foi mantido estão as nºs 18, 20, 21 e 22. A emenda nº 18, do deputado Carlin Moura, também foi objeto de debate na audiência desta quarta (3). Ela buscava suprimir item que determina o desenvolvimento e a implementação, em dois anos, de sistemas de certificação ocupacional de educadores e demais profissionais da educação. Para a diretora-geral do campus de Belo Horizonte da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), Santuza Abras, da forma como ocorre hoje a certificação não seria justa, mas sim punitiva. Em resposta, o deputado Carlin Moura explicou que a certificação é exigida em lei que estabeleceu o plano de carreira da categoria - que é de competência privativa do governador e não pode ser modificado pelo Plano Decenal.

Unincor - Ao final da reunião, foram aprovados requerimentos da comissão relativos à audiência realizada na última terça (2), quando foi discutida a situação da Universidade Vale do Rio Verde (Unincor). Eles solicitam ao Ministério Público Federal a apuração das denúncias feitas na audiência; à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior parecer sobre a viabilidade da PEC 55/09, que estadualiza a universidade; à Promotoria de Tutela das Fundações da Comarca de BH, cópias dos contratos firmados entre a Unincor e o Grupo BDO e dos relatórios referentes à situação da instituição, dos anos de 2009 e 2010; e de audiência com a Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte, para debater o relatório elaborado pelo grupo BDO, referente a auditoria em execução na universidade.

Presenças - Deputados Ruy Muniz (DEM), presidente; Deiró Marra (PR), vice; Carlin Moura (PCdoB), João Leite (PSDB) e deputada Gláucia Brandão (PPS). Também participaram da reunião o presidente da comissão de representação do Seminário sobre o Esporte, Amaylton Salles de Carvalho; e Walter Fontini, também integrante da comissão de representação do seminário.

 

 

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