Comissão quer suspensão de licença de operação para barragem

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais quer a suspensão da licença de operação da b...

16/12/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Comissão quer suspensão de licença de operação para barragem

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais quer a suspensão da licença de operação da barragem de Barra de Braúna, na Zona da Mata, até que as condicionantes propostas pelo Conselho de Estado de Assistência Social (Ceas) sejam cumpridas. O presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), apresentou requerimento nesse sentido em audiência pública realizada em Leopoldina (Zona da Mata), nesta quarta-feira (16/12/09). A reunião teve a participação de mais de cem atingidos pela construção da barragem, que se localiza também nos municípios de Laranjal, Recreio e Cataguases.

Problemas nas indenizações e dificuldade na manutenção das atividades dos moradores atingidos pelo empreendimento da empresa canadense Brookfield Energia Renovável foram as principais queixas apresentadas aos deputados. A população também afirmou que falta diálogo com a empresa e que o poder público tem sido omisso em relação às dúvidas e reivindicações dos moradores atingidos.

Segundo o coordenador estadual da Comissão Pastoral da Terra, Reinaldo Barbeirine, a empresa fez uma propaganda bastante sedutora e só a partir do último mês de agosto os moradores começaram a perceber os impactos de um empreendimento desse porte. A falta de critérios para o cálculo das indenizações é um deles. Além disso, segundo o que afirmou o representante dos atingidos, muitos ficaram sem condições de manter as atividades que garantiam o sustento de suas famílias. "Há ainda a pressão psicológica que tem sido feita para os atingidos aceitarem os valores propostos pela empresa", afirmou.

Na opinião do deputado Padre João (PT), que solicitou a reunião, as denúncias de desrespeito aos idosos, retirados de suas casas pela Polícia Militar com truculência, são as mais impressionantes. Ele ressaltou que a postura de alguns policiais não está de acordo com o trabalho da PM, que tem a prática de buscar o consenso para uma retirada pacífica das famílias. O deputado lembrou que a lei garante o direito dos atingidos por barragens de serem indenizados com outra propriedade igual ou melhor. Padre João também questionou o modelo de desenvolvimento adotado, alegando que as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PChs), por exemplo, empregam pouco e não geram royalties para os municípios. "Temos consciência da importância da energia elétrica, mas a forma como essa energia está sendo produzida precisa ser revista", argumentou.

O deputado Durval Ângelo explicou que o problema decorrente da construção de barragens é tema recorrente na comissão, porque os interesses econômicos na maior parte das vezes estão dissociados das questões sociais. No entanto, segundo ele, quando os deputados são acionados no início do processo e a população está mobilizada, os impactos sofridos pelos moradores podem ser minimizados.

De acordo com o primeiro secretário da Mesa Diretora do Ceas, José Salviano de Souza, cabe ao conselho zelar pela manutenção dos direitos assistenciais e sociais dos atingidos por qualquer processo de construção de barragens, sejam elas públicas ou privadas. Para que o empreendimento seja autorizado, o empreendedor deve apresentar um plano de assistência social, que é analisado e aprovado pelo conselho.

No caso do Braúnas, não foi diferente, segundo Salviano. Ele ponderou, contudo, que nem todas as medidas contidas no relatório final apresentado pela empresa foram cumpridas. Após o atendimento de algumas delas, o Ceas aprovou o relatório com condicionantes. Foi também firmado um acordo entre os atingidos e o empreendedor, mas algumas pendências permanecem, segundo informou o representante do governo estadual na reunião.

O superintendente da Unidade Regional Colegiada do Conselho Estadual de Política Ambiental da Zona da Mata, Danilo Vieira Júnior, informou que a licença ambiental é concedida após observação do atendimento das questões sociais. "Seguimos o parecer do Ceas, que apontava para a viabilidade do empreendimento", justificou. Segundo ele, o secretário aprovou a licença sem a votação prévia do Conselho de Política Ambiental (Copam), a partir de pareceres conclusivos.

Representante da empresa nega acusações

O consultor ambiental da empresa Vert Ambiental, de Cataguases, Marco Antônio Barbosa, que representou a Brookfield Energia Renovável na reunião, garantiu que o plano de assistência social vem sendo cumprido desde o início do empreendimento, há cerca de 15 anos. Segundo ele, no momento em que o empreendimento entra na vida da comunidade, o processo é desgastante para a empresa e sofrido para a comunidade. Ele negou que tenha havido truculência na retirada das pessoas.

Ele reconheceu que houve um erro da empresa ao indenizar as famílias em dinheiro, porque muitas não souberam administrar o pagamento e ficaram sem a casa e sem o recurso. "Estamos trabalhando diretamente com essas pessoas e o empreendedor não vai deixar nenhuma delas desamparada", afirmou.

O secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável de Leopoldina, Carlos Heleno Torres de Almeida, disse que o município tem tido um relacionamento bem produtivo com a empresa do ponto de vista da geração de emprego e renda. Ele também afirmou que o município está atento às questões que envolvem os direitos sociais e econômicos dos atingidos e que não tiveram notícia de ação truculenta da polícia.

Mais denúncias - Depois de ouvir 36 atingidos que se revezaram no microfone para manifestar seu descontentamento com o empreendimento e a preocupação com o período das cheias, o deputado Durval Ângelo defendeu que a comunidade utilize estratégias mais firmes de cidadania para garantir os seus direitos, como o registro de boletins de ocorrência. Nesse momento, soube da comunidade, que estava bastante exaltada, que os policiais se recusam a registrar os BOs contra a empresa e que a empresa está construindo a sede da PM de Laranjal.

Durval afirmou que a recusa de registrar as queixas é uma falta gravíssima do policial e apresentou requerimentos para tentar apurar a situação. Ele pede que a Corregedoria de Polícia de Belo Horizonte faça uma vistoria em Laranjal para apurar o caso e disse que irá acionar o Ministério Público para iniciar o inquérito sobre a mesma denúncia. O parlamentar também quer o envio das notas taquigráficas da reunião para diversos órgãos relacionados ao tema tratado na reunião.

Os deputados Padre João e Durval Ângelo defenderam que a única troca que o atingido deveria aceitar é de terra por terra. "O dinheiro acaba", afirmou Durval Ângelo. Os parlamentares ressaltaram que a opção deve ser do morador, mas sugeriram que os movimentos organizados façam a orientação dos atingidos.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; e Padre João (PT).

 

 

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