Usina de álcool é acusada de promover trabalho degradante e assédio

Denúncias de trabalho degradante e assédio moral na empresa G5 - Destilaria Veredas Ltda/Veredas Agro Ltda, no municí...

14/12/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Usina de álcool é acusada de promover trabalho degradante e assédio

Denúncias de trabalho degradante e assédio moral na empresa G5 - Destilaria Veredas Ltda/Veredas Agro Ltda, no município de João Pinheiro (Noroeste de Minas), foram discutidas em reunião realizada nesta segunda-feira (14/12/09) pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Sindicalistas e trabalhadores relataram exames médicos admissionais em que homens candidatos ao emprego eram obrigados a ficar nus à vista de outros trabalhadores, inclusive mulheres. Estas, por sua vez, tinham que tirar a camisa e ficar de sutiã. Os trabalhadores também se queixaram de terem sido humilhados durante o exame.

A G5 pertence ao Grupo Ferroeste, cujo presidente, Ricardo Nascimento, compareceu à reunião e disse que as denúncias são inverídicas. Os exames admissionais são feitos pela mulher de Nascimento, Regina, que também é proprietária. "Minha mulher é mãe de quatro filhos, é uma pessoa religiosa e essa prática nazista de tirar a roupa é uma inverdade", afirmou Nascimento.

A reunião aconteceu a requerimento do presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), e foi presidida pela deputada Maria Tereza Lara (PT). A deputada propôs requerimento para que o Ministério Público do Trabalho faça uma fiscalização urgente na usina, a fim de esclarecer as denúncias. Ela também propôs um debate sobre a precariedade da fiscalização trabalhista no Noroeste de Minas. Durante a reunião, a inoperância do Ministério do Trabalho na região foi admitida pela própria chefe da Fiscalização da superintendência do órgão em Minas Gerais, Doralice Gomes Lisboa.

O procurador Hélder Santos Amorim, que representou o Ministério Público do Trabalho, disse que, o órgão constatou, em fiscalização realizada em 2009, algumas irregularidades na G5. Entre elas, condições sanitárias insuficientes nos alojamentos e falta de abrigo para os trabalhadores fazerem as refeições nos locais de trabalho. "Não constatamos condições de trabalho análogas à escravidão", ressalvou.

Com relação aos relatos de assédio moral, Amorim afirmou que o Ministério Público depende dos testemunhos para investigá-las. Apesar de reconhecer que não havia provas com relação a algumas denúncias, ele ressalvou que a empresa já foi alvo de autuações e fiscalizações que verificaram irregularidades no passado. "Não estamos aqui por acaso, sem que antes tivessem ocorrido diversos precedentes", afirmou o procurador.

Sindicalista denuncia superlotação e fraude

Além da denúncia de assédio moral, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg) apontou outras irregularidades: superlotação no alojamento coletivo; alimentação insuficiente; registro trabalhista precário, sem recolhimento de FGTS e INSS; falta de transparência na relação de trabalho, de forma que o trabalhador não saiba com antecedência quanto receberá por seu trabalho; e fraude na relação de trabalho, de forma que o trabalhador fique permanentemente endividado em armazém do empregador. As denúncias foram encaminhadas à comissão pelo presidente do Fetaemg, Vilson Luís da Silva. "O que denunciamos é uma condição degradante de trabalho, não trabalho escravo", afirmou Silva.

Ricardo Nascimento, proprietário da G5, negou todas as acusações. Disse que a empresa não possui funcionários terceirizados, atualmente. "Todos os funcionários que trabalham no corte de cana são fichados", afirmou. Ele afirmou que a empresa não tem armazém para fornecimento de mantimentos para os trabalhadores e que a alimentação é adquirida de uma empresa da cidade de João Pinheiro, que também fornece a outras empresas da região.

Tanto Nascimento quanto Vilson da Silva apresentaram documentos e fotos dos alojamentos, para reforçar suas alegações divergentes. O proprietário da G5 convidou a Comissão de Direitos Humanos a visitar os alojamentos em 2010, após o início da safra, a partir de abril. O empresário e o sindicalista também divergiram sobre a origem dos funcionários. Nascimento negou que a maioria fosse proveniente do Vale do Jequitinhonha.

Servidora do Ministério do Trabalho confessa inoperância

Durante a reunião desta segunda, também chamou atenção o depoimento da chefe da fiscalização da Superintendência do Ministério do Trabalho em Minas Gerais, Doralice Lisboa. Ela concordou com a avaliação dos sindicalistas de que o órgão está acuado no Noroeste de Minas, desde o assassinato dos fiscais trabalhistas em Unaí, em janeiro de 2004. Segundo a superintendente, faltam servidores, veículos e material de informática.

Em razão da falta de segurança, a recomendação é que os fiscais trabalhistas só ajam na região sob a proteção da Polícia Federal, mas a dificuldade dessa articulação vem dificultando o trabalho. Segundo Doralice, há muitas denúncias não checadas em 2009, inclusive aquela relativa à G5. O diretor regional da Fetaemg no Noroeste, José dos Reis Pereira, disse que o recuo do Estado na região é tão forte que já se pensa em transformar a Delegacia do Ministério do Trabalho em Paracatu em uma simples agência. "A truculência dos latifundiários prevaleceu. Já se reduziu o número de fiscais na região", afirmou.

Em depoimentos realizados durante a reunião, ex-trabalhadores da G5 se queixaram da falta de pagamento das horas de transporte para o trabalho. Outros ex-funcionários confirmaram a denúncia de constrangimentos durante o exame admissional.

Presenças - Deputada Maria Tereza Lara (PT).

 

 

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