PCHs são defendidas mas construção indiscriminada é criticada

Apesar de consideradas essenciais para o desenvolvimento econômico do Estado e do País, por serem investimentos de me...

14/12/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

PCHs são defendidas mas construção indiscriminada é criticada

Apesar de consideradas essenciais para o desenvolvimento econômico do Estado e do País, por serem investimentos de menor custo e de menor impacto ambiental, as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) foram criticadas por sua implantação indiscriminada em Minas. O tema foi abordado no debate público Pequenas Centrais Hidrelétricas: como conciliar interesses, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, nesta segunda-feira (14/12/09), por iniciativa da Comissão de Minas e Energia.

O debate, convocado por requerimento do presidente da comissão, deputado Sávio Souza Cruz (PMDB) teve o objetivo de discutir a política energética nacional, com ênfase em. questões como os aspectos relativos à adoção das PCHs. Sávio Souza Cruz criticou as informações de que as PCHs têm aproveitamento limpo. "Não concordo, porque além dos prejuízos para a agropecuária e para o meio ambiente, a legislação federal sobre o assunto não deixou nenhum bônus para os municípios, só o ônus", garantiu.

O deputado chegou a defender que os municípios votem leis específicas impedindo tais empreendimentos em seus territórios. O parlamentar questionou ainda a lei que desonera as PCHs da compensação aos municípios. "Fazendo um cálculo simplificado, só com essa desoneração, Minas deve ter um prejuízo de R$ 250 milhões por ano", afirmou. Souza Cruz referiu-se à Lei 9.648/98, que regula o setor e determina que PCHs com capacidade de geração de até 30 megawatts são isentas do pagamento de compensação financeira.

O deputado Ronaldo Magalhães (PV), disse que o debate seria só em Ferros, para discutir a construção de PCHs no Rio Santo Antônio, "mas depois concordamos que o tema era comum a todo o Estado". E manifestou esperança na mudança da legislação para que os municípios tenham mais autonomia para decidir sobre as barragens.

Defesa - Para o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Sérgio Barroso, o desenvolvimento econômico mineiro passa necessariamente pelo aumento das unidades de PCHs, "modelo que traz redução da perda de energia, melhoria nas redes de transmissão, menor impacto ambiental, menor custo e menor prazo de instalação".

Minas tem hoje 90 pequenas centrais em funcionamento, de um potencial total mapeado pela Aneel de 335 unidades, com custo de instalação de R$ 20 bilhões, segundo o secretário. A potência instalada é de 642 megawatts. Além da instalação das novas PCHs, Sérgio Barroso defendeu o programa de repotencialização das já em funcionamento.

O secretário prometeu, na fase de debates, fazer uma consulta formal à Advocacia-Geral do Estado sobre os possíveis prejuízos que o Estado estaria sofrendo com as PCHs e em caso de confirmação, as medidas judiciais para o ressarcimento. Ele prometeu ainda que vai entregar nos próximos meses, ao governador Aécio Neves, um diagnóstico completo do setor energético de Minas, com a sugestão das prioridades para o Estado.

Lembrando a necessidade de mais energia, na medida em que cresce a população e se desenvolve o País, o diretor do Departamento de Desenvolvimento Energético da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Hamilton Moss de Souza também defendeu as PCHs como melhor modelo de se conseguir energia mais barata e de menor impacto ambiental. E destacou como principais pontos da política energética do País, a segurança no abastecimento, a maleabilidade tarifária, a universalização do atendimento, a expansão ao mínimo custo e a diversificação da matriz energética.

O Brasil usa hoje 46% de energias renováveis, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. A previsão do ministério é de que em 2015, as PCHs estejam contribuindo com 2,3 gigawatts do total da energia do País, enquanto as grandes usinas deverão concorrer com 99 gigawatts.

Dirigente da Feam defende outras alternativas

Ironizando a defesa dos dois palestrantes pelo modelo de PCHs, dizendo que eles fizeram o papel de "pai da noiva, enaltecendo suas qualidades", o presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), José Cláudio Junqueira Ribeiro, disse que as unidades têm seus impactos. "Na área social, o principal problema é o deslocamento das populações atingidas", disse. Ele listou ainda os problemas ambientais, como a perda de vazão dos rios, a degradação ambiental, a indisponibilidade de água para outros usos, a redução do valor dos imóveis. Ele criticou especialmente a construção em série de PCHs, "que tendem a acabar com a vazão dos rios".

José Cláudio Junqueira defendeu o uso de energias diferentes, como forma de diminuir os impactos. E comparou a produção de energia por PCHs e grandes usinas, tomando como base os empreendimentos da bacia do Rio Doce. Junqueira disse que as PCHs perdem em vários pontos para as grandes usinas, como custo da energia, área alagada, deslocamento de populações. O Rio Doce possui duas usinas grandes e projetos para oito PCHs, no Rio Santo Antônio, seu tributário. Nesse, duas já estão licenciadas, "e se forem construídas as demais, o rio desaparece", afirmou.

O deputado Padre João (PT) disse que em Minas Gerais, as PCH matam e corrompem. "Temos informações de prefeitos sendo comprados pelos empreendedores", informou. Ele criticou a concentração do poder de licenciamento nos órgãos do Estado. "As licenças são concedidas 'ad referendum', por isso a comunidade não pode interferir".

Críticas dos municípios - O prefeito da cidade de Ferros, Região Central, Raimundo Menezes de Carvalho Filho, e o superintendente da Associação Mineira de Municípios, Waldir Salvador, reclamaram do prejuízo sofrido pelos municípios com o atual sistema de repartição da compensação pela construção das PCHs. "É claro que as PCHs são importantes, mas não é justo que as cidades fiquem apenas com ônus dos empreendimentos. Com a mineração ocorre a mesma coisa", afirmou Waldir Salvador. Ao lembrar que 492 cidades mineiras estão "literalmente quebradas", ele criticou também a concentração de poderes e recursos nas mãos da União. "De tudo que nós pagamos nesse país, 57% ficam com a União; só 17% vão para os municípios", lamentou.

O prefeito de Ferros disse que existem oito PCHs projetadas para serem instaladas no município e região. "Temos consciência de que é preciso gerar energia, mas temos que zelar pelo nosso rio, que está sendo atropelado".

A defesa da redistribuição dos recursos da compensação financeira pela construção das PCHs foi feita também pelo professor Geraldo Lúcio Tiago Filho, secretário Executivo do Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas, e pelo diretor-executivo da Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Produtores de Energia Elétrica (APMPE), Fábio Sales Dias. Fábio queixou-se ainda do fato de 34% do investimento em uma PCH serem destinados a impostos. E o professor Geraldo, por sua vez, disse que PCHs que trazem grandes impactos ambientais jamais devem ser autorizadas. "O problema é que muitas PCHs deixaram de ser pequenas e se tornaram grandes", afirmou.

Acordos - Ao explicar a atuação do Ministério Público na área ambiental, o promotor Luciano Badini informou que o órgão tem atuado principalmente na mediação dos conflitos. "Proporcionalmente o número de ações judiciais propostas pelo MP é pequeno, levando-se em conta os procedimentos. Isso não significa que não estejamos trabalhando. Pelo contrário, se fôssemos diretamente para o processo judicial, poderia ser pior para as partes", explicou.

Presenças - Deputados Padre João (PT), Sávio Souza Cruz (PMDB) e Ronaldo Magalhães (PV).

 

 

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