II Conferência de Cultura reúne gestores de 333
municípios
Realizou-se no Plenário da Assembleia Legislativa,
na noite desta quarta-feira (2/12/09), a abertura da II Conferência
Estadual de Cultura, com quase o dobro do número de delegados da
primeira Conferência, realizada há quatro anos. Da Mesa de Honra,
presidida pela presidente da Comissão de Cultura, a deputada Gláucia
Brandão (PPS), participaram o secretário de Estado da Cultura, Paulo
Brant, e representantes do Ministério da Cultura. Foram aplaudidas
de pé as apresentações da Orquestra Jovem de Contagem.
A presidente da Comissão de Cultura, deputada
Gláucia Brandão (PPS), destacou a atuação da Assembleia no incentivo
à cultura mineira, sendo importante a participação da Casa nos
processos de discussão e formulação de políticas públicas para essa
área. A parlamentar frisou alguns dos desdobramentos do Fórum
Técnico Cultura, Política e Financiamento, realizado em 2004, como a
criação da Comissão de Cultura, no ano seguinte, e do Fundo Estadual
de Cultura, em 2006. "O trabalho aqui realizado surte bons efeitos",
completou a deputada.
Um apelo por uma discussão aberta, destravada de
preconceitos, deixando as convicções de lado para trazer as ideias,
foi feito pelo secretário de Estado de Cultura, Paulo Brant. Ele
manifestou sua esperança de que este fórum de diálogos lance luzes
sobre as políticas estaduais e municipais de cultura. Elogiou o
formato da Conferência em cinco eixos abrangentes da multiplicidade
dos aspectos culturais por acreditar que a cultura merece uma
abordagem transversal.
Brant discorreu sobre dois perigos oferecidos pela
globalização: a ameaça de esmagamento das culturas nacionais,
regionais e locais, e a ameaça de massificação e perda de identidade
cultural individual das pessoas, o que tornaria o mundo mais triste.
Disse ainda que os recursos assinalados para a cultura ainda são
insuficientes, e que as políticas culturais são as mais difíceis de
ser desenhadas e implementadas.
Estado tem obrigação de resguardar patrimônio das
cidades históricas
Para o promotor Marcos Paulo Souza Miranda, a
conferência é um "momento ímpar para estabelecer novos debates e
propostas para a cultura". Ele salientou, entretanto, que "não se
pode perder de vista as conquistas anteriores". Nesse sentido, o
promotor defendeu que medidas referentes à cultura já previstas na
legislação atual sejam, de fato, implementadas. Como exemplo,
Miranda citou o artigo 83 da Constituição Estadual, que determina
que o Estado deve implementar um plano emergencial para resguardar o
patrimônio de cidades históricas. Outra conquista legal que ainda
necessita de regulamentação, segundo ele, foi a Lei 11.726, de 1994,
que prevê a criação de um museu arqueológico e antropológico no
Estado.
Falando em nome a Câmara Municipal de Belo
Horizonte, o vereador Arnaldo Godoy disse que a oportunidade é
propícia para cobrar dos deputados federais a votação da PEC 150,
que obriga o gasto de 2% do orçamento federal, 1,5% dos estaduais e
1% dos municipais no fomento da produção cultural, e também uma
atualização da Lei Rouanet, que depois de vários anos vem mostrando
insuficiências.
Thaís Pimentel, da PBH, reconheceu na plateia
gestores, criadores e defensores da cultura, gente que vive e
trabalha a cultura. Admitiu que o Ministério da Cultura teve mais
trabalho com a organização em Minas por causa da quantidade de
municípios e pela diversidade cultural. Elogiou também o secretário
Brant, que é economista por formação, mas estaria a cada dia, a cada
discurso, transformando-se num homem da Cultura.
Por sua vez, o cônsul da Espanha, Pedro Eusébio
Cuesta, viu similaridades culturais entre seu país e o Brasil,
inclusive porque os espanhóis têm mais identidades do que diferenças
com a cultura portuguesa. Disse que a presença da Espanha no Brasil
é representada por nove centros, o último instalado em Belo
Horizonte, e agradeceu a iniciativa louvável do governo brasileiro
de incluir o ensino da língua espanhola nas escolas a partir de
2010.
Cultura precisa ser elevada a atividade
primordial
"Vamos fazer política." O convite foi feito pelo
presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de Minas
Gerais, Rômulo Duque, que considera ser esse um dos grandes
objetivos da conferência. Ele aproveitou para reforçar a importância
da PEC 150, citada pelo vereador Arnaldo Godoy. "Precisamos elevar a
cultura como atividade primordial nesse país.", declarou. Para
Duque, o País dispõe dos recursos necessários para a cultura, mas
eles são desperdiçados. "A cultura mineira pode ser muito mais do
que é hoje. Vamos tentar fazer com que essas quatro propostas sejam
as mais importantes para Minas Gerais", concluiu Rômulo Duque,
referindo às propostas que deverão ser encaminhadas à Conferência
Nacional.
Uma exposição sobre o trabalho do Ministério da
Cultura foi apresentada pelo representante do ministro Juca
Ferreira, Américo José Córdula Teixeira. O objetivo do Ministério,
segundo ele, não é emendar a Lei Rouanet, mas ir muito além da
reforma de seus desequilíbrios. Ele disse que o Governo Lula
pretende deixar 3 mil pontos de cultura instalados no país até o
final de 2010. "Quando chegamos ao Ministério, não havia números,
estatística de nada, contato algum com os institutos como o IPEA ou
o IBGE, para subsidiar a formulação de políticas. Hoje temos um
sistema de informações culturais, com acervos, festas, museus,
manifestações de cada estado e município", afirmou.
Hoje o Ministério sabe quantos municípios têm
bordadeiras, quantos têm videolocadoras, que 92% da população jamais
entrou num museu, quantos municípios não têm cinema, e que há 600
mil ciganos no país. Falou sobre o funcionamento do Conselho
Nacional de Cultura, com 55 membros, inclusive representantes da
cultura popular e da cultura indígena.
Diversidade cultural de Minas é elogiada por
autoridades federais
Grandes elogios à diversidade cultural de Minas
foram feitos por Córdula e pelo diretor da Secretaria de Articulação
Institucional do Ministério da Cultura, Vinicius Palmeira. Segundo
ele, na seleção para um prêmio cultural, estão inscritos 338
artistas de Minas, e 21 serão premiados, entre eles Dona Isabel,
bonequeira do Jequitinhonha. Nos editais para microprojetos de
financiamento a fazedores de cultura, com valores de um a 30
salários mínimos, inscreveram-se 279 projetos do semi-árido mineiro,
envolvendo 48 municípios.
Américo Córdula notou ainda que o número de
municípios mineiros que realizaram suas conferências municipais e
enviaram delegados, hoje 333, é praticamente o dobro daqueles que
participaram da 1ª Conferência. Perguntou quantos tinham participado
da primeira, e cerca de 20% da plateia ergueu o braço. Ele pediu a
esses gestores de Cultura novatos que se qualifiquem para promover
os valores culturais locais e defendam a rica diversidade cultural
deste Estado.
Representante da Unesco destacou potencial em Minas
na gestão do patrimônio
Na opinião da coordenadora de Cultura da Unesco no
Brasil, Jurema Machado, Minas Gerais tem experiências relacionadas à
gestão do patrimônio histórico que podem ser replicadas não somente
em outros setores do campo cultural, mas também em outras áreas,
como saúde e educação por exemplo.
Foi apresentado um mapa feito com base em dados do
IBGE, destacando as cidades brasileiras que possuem um Conselho
Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural. Jurema observou
que, ao visualizar o mapa, é possível perceber que a maior
concentração dessas cidades está justamente em Minas Gerais. Ela
avalia que o Estado se destaca nesse aspecto pois criou redes e
práticas consolidadas, que permanecem ao longo de diferentes
gestões.
Uma das razões para essa boa experiência, segundo
Jurema Machado, foi a prática de redistribuição de recursos entre os
municípios para a preservação do patrimônio. Ela mencionou que
muitos Estados encaram essa redistribuição com resistência, mas
Minas Gerais se diferencia por ter superado essa questão. Por essa
razão, ela acredita que o Estado tem potencial para avançar no
sentido de implementar outras políticas públicas de cultura.
Música - O evento teve
ainda várias apresentações musicais da Orquestra Jovem de Contagem,
com cerca de 40 adolescentes, que tocaram o Hino Nacional,
exclusivamente com cordas, além de peças de Ravel e Ari Barroso,
entre outros.
Mesa de Honra - Compuseram
a mesa da solenidade a deputada Gláucia Brandão (PPS), presidente da
Comissão de Cultura; o secretário de Estado de Cultura de minas
Gerais, Paulo Brant; a presidente da Fundação Municipal de Cultura
de Belo Horizonte, Thaís Pimentel; o coordenador da Promotoria
Estadual de Defesa do Patrimônio Público e Turístico de Minas
Gerais, o promotor Marcos Paulo de Souza Miranda; o vereador da
Câmara Municipal de Belo Horizonte Arnaldo Godoy; o cônsul da
Espanha para Assuntos de Educação e Cultura em Minas Gerais, Pedro
Eusébio Cuesta; o defensor público geral do Estado, Belmar Azze
Ramos; o presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas de
Minas Gerais (Sinparc), Rômulo Duque; o secretário de Identidade e
Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Américo José Córdula
Teixeira; e a coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, Jurema
Machado.
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