Voluntários no Brasil já são mais de 20
milhões
Ainda que não se possa dizer ao certo a dimensão do
serviço voluntário no Brasil, as estimativas citadas no Debate
Público Voluntariado Transformador: Preservando Bens Comuns e
Ampliando a Cidadania, mostram o crescimento do setor. De acordo
com o censo de 2005, seriam 20 milhões. Hoje, este número já se
aproximaria de 25 milhões. O evento aconteceu nesta segunda-feira
(30/11/09), no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
No debate, proposto pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da
Ação Social, foram apresentados exemplos de trabalho voluntário com
transformação da realidade.
Um dos objetivos do debate foi colher contribuições
para o Projeto de Lei (PL) 3.653/09, de autoria da deputada
Rosângela Reis (PV), que institui a Política Estadual do
Voluntariado Transformador. Já examinada pela Comissão de
Constituição e Justiça, a proposta será avaliada agora pela Comissão
do Trabalho, presidida pela parlamentar, a partir de informações
colhidas no debate público.
Em seu pronunciamento, Rosângela Reis ressaltou a
necessidade de maior entrosamento entre o Estado, empresas e o
terceiro setor para o fortalecimento do serviço voluntário. "A
proposta do voluntariado transformador é no sentido de complementar
as políticas públicas e de também fiscalizar o Estado no que se
refere a essas políticas", disse a deputada.
Entre os objetivos e propostas do projeto estão a
capacitação de cidadãos, gestores e lideranças sociais que
desenvolvem programas de voluntariado; articulação entre Estado e
sociedade para a realização de políticas públicas nessa área;
geração de oportunidades para a prática do voluntariado
transformador; e incentivo a empresas em ações de
voluntariado.
Minas Gerais teria 5% dos voluntários
A estimativa de 20 milhões de voluntários no
Brasil, registrada pelo censo de 2005, foi citada pelo presidente do
conselho da seção mineira da Rede Nacional de Mobilização Social
(Coeb-MG), Fernando Miranda. A força desse número, no entanto,
enfrenta o desafio de outros dados citados por Miranda, tais como os
22% da população sem acesso à água tratada; ou os 6% de crianças
desnutridas no País. De acordo com o secretário de Estado de
Desenvolvimento Social, Agostinho Patrús Filho, esse número de
voluntários já chega hoje, quatro anos depois, a 25 milhões.
Outras estimativas foram citadas pela coordenadora
do movimento Nós Podemos Paraná/Objetivos do Milênio, Maria
Aparecida Zago Udenal. Ela afirmou que o Estado de São Paulo teria
53% dos voluntários brasileiros. Outros 12% estariam no Rio de
Janeiro, enquanto Minas Gerais, com 5%, viria em terceiro lugar.
Maria Aparecida, porém, disse que são necessários dados mais
precisos. Ela sugeriu a Rosângela Reis que trabalhe pela inclusão,
nos levantamentos do IBGE, do tema do voluntariado. Já a
coordenadora do Núcleo de Responsabilidade Social/Sistema Fiemg,
Marisa Seoane Resende, lembrou que o primeiro domingo de dezembro é
o Dia do Voluntariado em Minas, convocando todos para divulgar seus
projetos nessa data.
Secretário declara apoio ao projeto
O secretário Agostinho Patrús disse que trazia a
confiança do Executivo de que o projeto de lei do Voluntariado
Transformador irá se somar às iniciativas legislativas nessa área.
Já entre os programas da Secretaria de Estado de Desenvolvimento
Social (Sedese), o secretário destacou dois, ambos implementados em
parceria com o Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) do
governo mineiro. São eles a campanha de valorização dos idosos e o
programa de redução de contas de água e energia para entidades
assistenciais cadastradas na Sedese.
Presidente do conselho do Coeb-MG, Fernando Miranda
disse que o órgão foi criado em 1993, em nível nacional, como
resultado da luta do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, para
reduzir as carências que afligem a população mais pobre. O
pró-reitor de Extensão da PUC Minas, Wanderley Chieppe Felippe,
elogiou a proposta de criação de uma Política Estadual do
Voluntariado Transformador. "Ninguém vive sozinho. Se não pensarmos
em saúde, emprego, moradia para todos, fatalmente pagaremos um preço
por isso", afirmou.
Pastoral da Criança é a maior rede de
voluntários
Entre as diversas experiências de voluntariado
apresentadas no debate público, um dos casos mais conhecidos é o da
Pastoral da Criança, criada há 26 anos para reduzir a mortalidade
infantil, a desnutrição e a violência familiar em comunidades
carentes. Mensalmente, 85 mil gestantes, 1,3 milhão de famílias e
1,6 milhão de crianças de zero a seis anos (17% do total do País)
recebem a visita de voluntários do programa no Brasil. Outros 19
países também já contam com essa metodologia. "Ela é baseada no
evangelho da multiplicação dos pães", compara a coordenadora do
programa em Belo Horizonte, Ana Maria Andrade.
A Pastoral tem 132 mil líderes e outros 110 mil
voluntários, a maioria deles com pouca instrução, o que não impede o
desenvolvimento do trabalho, de acordo com Ana Maria. Segundo ela, o
sucesso da iniciativa se deve, entre outros fatores, à transparência
no uso de recursos e à simplicidade das ações, desenvolvidas por
pessoas das próprias comunidades. "Nosso gasto mensal é de R$ 1,71
por criança. Muitos não acreditam que é possível", reforça a
coordenadora. Para ela, isso seria inviável sem a dedicação gratuita
dos voluntários.
Três outras entidades contribuíram com o debate
público relatando o trabalho de voluntários no Brasil e no mundo.
Anika Gärtner, oficial do Programa de Voluntários das Nações Unidas
no Brasil, citou a campanha de vacinação contra pólio, em 2000,
quando 10 milhões de voluntários imunizaram 550 milhões de crianças
no mundo. "Isso custaria US$ 10 bilhões, inviável sem o
voluntariado", enfatizou. Segundo ela, a ONU tem voluntários em
tempo integral, que recebem ajuda de custo, além dos chamados
voluntários clássicos, que doam parte de seu tempo.
ONU tem 24 voluntários brasileiros no
exterior
Atualmente, segundo Anika, há 24 voluntários
brasileiros da ONU no exterior. No Brasil, são 13, mais quatro
estrangeiros. "Os desafios que temos hoje são muitos, o que requer
um trabalho conjunto de governos, setor privado, sociedade civil,
universidades e instituições internacionais. O voluntariado é o
elemento transversal", afirmou. Na ONU, de acordo com Anika, há
vagas para voluntários em suas próprias cidades e até mesmo sem a
necessidade de sair de casa.
O voluntário da Universidade Solidária (Unisol),
professor Waldenor Barros Moraes Filho, lembrou o objetivo da
entidade, que é estimular o protagonismo de estudantes
universitários na transformação de realidades sociais. Desde 1995,
quando foi criada, a Unisol já mobilizou 216 instituições de ensino,
23 mil estudantes, mais de 1.100 comunidades e 2 milhões de pessoas.
O trabalho consiste em articular parceiros e desenvolver ações de
curto, médio e longo prazo. "Em todos os módulos, predomina a ideia
do apoderamento das comunidades", frisa Waldenor.
Gestão de voluntários - A
experiência de gerir voluntários, para ampliar o número de
colaboradores, foi apresentada pelo analista de projetos do Centro
de Ação Voluntária (CAV), de Curitiba, Thiago Baise. O CAV organiza
a oferta e demanda de voluntários na cidade, com a ajuda da internet
e também por meio de palestras e outras ações. As nove etapas do
método de gestão proposto no CAV englobam desde o diagnóstico da
organização e o levantamento de necessidades até o reconhecimento e
valorização dos colaboradores. "O processo é simples, mas de difícil
aplicação", pondera, lembrando que, dos 110 parceiros cooperados do
CAV, apenas 30 fazem a gestão dos voluntários.
Outras experiências de gestão foram descritas pela
coordenadoras Marisa Resende, da Fiemg, e Mônica Abranches, do
Projeto Rondon Minas, da PUC Minas. Marisa ressaltou que é uma
responsabilidade de todos evitar que o voluntariado prejudique a
criação de postos de trabalho. Recomendou ainda que as entidades
firmem termos de adesão com os voluntários, a fim de evitar futuras
ações trabalhistas. Mônica mostrou o trabalho do Projeto Rondon
Minas, que engajou 2,1 mil universitários em ações sociais em
regiões carentes do Estado, desde 2005.
Presenças - Deputada
Rosângela Reis (PV), presidente.
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