Governo do Estado promete ajuda para agregar valor ao
café
Tudo o que depender do Governo do Estado para
agregar valor ao café e melhorar a renda do produtor será feito.
Esse esforço será "gigantesco, ciclópico", segundo o vice-governador
Antônio Anastasia, que participou da abertura do debate público
"Café: Importância na saúde e na economia mineira", realizado na
tarde desta segunda-feira (23/11/09) na Assembleia Legislativa de
Minas Gerais. Anastasia informou que o governador Aécio Neves foi a
Brasília para um encontro com o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
onde pediu uma política para o café, já que as vendas não cobrem os
custos da maioria dos produtores.
A reunião conjunta das Comissões de Saúde e de
Política Agropecuária e Agroindustrial, pedida pelos deputados
Carlos Mosconi (PSDB) e Antônio Carlos Arantes (PSC), foi aberta
pelo presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP). "Não
nos cansaremos de buscar uma conjugação de esforços para encontrar
caminhos para fortalecer a cafeicultura em Minas e no País", disse o
presidente.
Anastasia disse que a Alemanha, que não produz um
grão de café, detém 70% dos estoques mundiais e dita os preços ao
produtor e ao consumidor, preparando os blends e os cafés
especiais. "A oportunidade que surgiu para os alemães há 60 anos, no
pós-guerra, não foi percebida pelas lideranças brasileiras, que
tinham o capital, enquanto a Alemanha estava arrasada pela guerra",
lamentou.
O vice-governador fez um apelo à criatividade e à
capacidade de inovação do setor. Antes de deixar a reunião,
Anastasia foi abordado pelo presidente do Conselho Nacional do Café,
Gilson Ximenes Abreu, que pediu uma trégua para os produtores
endividados, argumentando que a dívida não foi feita por má
administração das propriedades, mas por indução de políticas
desastradas nas décadas passadas.
Quadro internacional é desfavorável para
cafeicultura
O secretário de Estado de Agricultura, Gilman
Rodrigues, mostrou pessimismo quanto ao apelo à criatividade feito
pelo vice-governador. "Para implantar novas tecnologias, é preciso
ter renda. Seria péssimo conselho sugerir ao produtor que faça novos
endividamentos. Por mais que interesse ao Governo Federal dizer que
a crise acabou, para o cafeicultor não acabou, porque os países
compradores estão quebrados, o dólar está baixo", explicou.
O secretário mostra algumas contradições: o salário
mínimo e os fertilizantes subiram mais de 500% em dez anos, e o
preço do café, apenas 24%. No entanto, o consumo nacional subiu, nos
últimos cinco anos, de 39,3 milhões para 46 milhões de toneladas
anuais. Ou seja, a crise estrutural está instalada há anos e mesmo
assim a produção aumenta. Até para pressionar o Governo Federal por
uma política adequada falta poder de fogo à cafeicultura, segundo
Gilman Rodrigues. O café já respondeu por 70% da pauta de
exportações brasileiras. Hoje é apenas 6,9%. Por essa razão, o
governo não vem cumprindo sequer sua política de preços mínimos, de
acordo com o secretário.
A resposta para a resistência do produtor de café
foi dada pelo secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Alberto
Portugal. "Café é casamento, um investimento que se faz para
amortizar em 15 a 20 anos, como o cacau e a borracha. O produtor
decepcionado não pode parar de produzir e substituir a cultura de um
ano para outro, como pode fazer o produtor de soja", informou.
O presidente da Comissão de Saúde, deputado Carlos
Mosconi, declarou que acompanha há anos negociações intermináveis
para se estabelecer uma política para o café. "Acompanho essa luta
que é travada com muita raça pelos produtores, mas não se chega a
uma solução plausível, que é a renda no final da safra. O Governo
Federal não dá ao café a importância devida, nem mesmo a sua
importância histórica. O declínio da atividade traz problemas
sociais gravíssimos para produtores e trabalhadores do café. Estamos
aqui para procurar outros caminhos a serem percorridos",
declarou.
O deputado Antônio Carlos Arantes (PSC), que também
representa os cafeicultores do Sul de Minas, relatou uma reunião
recente em Londres, da qual participaram produtores da África. "Vi
de perto a perversidade do mundo capitalista, e ouvi relatos de como
a situação na África é mais terrível que aqui, onde o mercado
absorve grande parte da produção. Os africanos esperam de nós a
liderança para negociar políticas internacionais", disse
Arantes.
O presidente da Comissão de Política Agropecuária,
deputado Vanderlei Jangrossi (PP), mencionou a grande força
reivindicativa dos cafeicultores, que reuniram 20 mil pessoas em
praça pública em Varginha. "Minas responde por 60% da produção
nacional. Eles pediram preço mínimo, mas não foram atendidos",
lembrou. Jangrossi dá um bom exemplo de lucratividade, que é o do
ex-governador paulista Orestes Quércia, que produz café de alta
qualidade e o vende nas cafeterias que possui em todo o
mundo.
Produtores pedem controle de estoque
O chefe de gabinete da Secretaria de Produção e
Agroenergia do Ministério da Agricultura, Robério Oliveira Silva,
alertou para o alto estoque de café nos países consumidores. Ele
defendeu o controle de oferta, por meio de um plano de safra. A
proposta foi defendida também pelo diretor da Federação da
Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Breno Pereira de Mesquita, que
reivindicou mais recursos para o seguro agrícola e adequação do
preço mínimo ao real custo de produção. "O custo de produção é maior
que o valor de venda. O problema começa aí, temos que ser
realistas."
Na fase de debates, os produtores eram unânimes em
pedir uma política reguladora de estoque e a prorrogação das
dívidas. Segundo eles, a situação é grave e urgente, pois há
produtores que sequer têm condições de pagar o 13º salário a seus
funcionários.
Benefícios do café para a saúde humana
Quanto às qualidades do café para a saúde humana,
as informações começaram com o relato do subsecretário de Estado de
Saúde, Luiz Felipe Caram, de que o café é estimulante do aprendizado
escolar e benéfico para os pacientes de diabetes 2. "Desde 2005 a
lei não permite nenhum grau de impureza no café", assegurou.
A professora Rosemary Alvarenga Pereira, da
Universidade Federal de Lavras, disse que o Brasil é o maior
produtor mundial, o maior exportador e o segundo maior consumidor de
café. Ela reuniu um acervo de 37 mil documentos técnicos publicados
nos últimos 30 anos em 5 mil revistas médicas, para afirmar os
benefícios do café para a saúde humana.
Segundo ela, quem toma de uma a três xícaras do
produto por dia tem 24% menos chance de ter doenças
cardiovasculares. O café é benéfico ainda para a redução do
colesterol e tem poderes antioxidantes.
Para a pesquisadora, é fundamental informar a
população sobre a verdade de alguns mitos relacionados à bebida:
"Não existe nada que comprove que o café provoque úlcera, azia ou
cause hipertensão. É preciso esclarecer isso, principalmente para os
jovens", afirmou.
Presenças - Deputados
Alberto Pinto Coelho (PP), presidente da ALMG; Carlos Mosconi
(PSDB), presidente da Comissão de Saúde; Vanderlei Jangrossi (PP),
presidente da Comissão de Política Agropecuária; e Antônio Carlos
Arantes (PSC). Também participaram da reunião o deputado federal
Carlos Melles (DEM-MG); o vice-presidente da Cooperativa Regional de
Cafeicultores de Guaxupé, Carlos Augusto de Melo; e o integrante da
Comissão Organizadora do Movimento SOS Café, Eduardo
Chaves.
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