Trabalhadores do setor extrativista denunciam terceirização irregular

Representantes da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas do Estado (Ftiemg) denunciaram aos deputados ...

18/11/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Trabalhadores do setor extrativista denunciam terceirização irregular

Representantes da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas do Estado (Ftiemg) denunciaram aos deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais a precariedade das relações de trabalho no segmento de extração vegetal e mineral provocada pelo processo de terceirização irregular feito pelas empresas do setor. O debate, que aconteceu na manhã desta quarta-feira (18/11/09), e recebeu também membros do Ministério Público do Trabalho, da Defensoria Pública Federal e do Fundacentro, tratou de questões relativas à saúde do trabalhador, em especial no que se refere à alta incidência de silicose e de acidentes de trabalho.

Segundo o autor do requerimento do debate, deputado Durval Ângelo (PT), Minas Gerais é o Estado que mais extrai minerais no País, e que, apesar de altamente lucrativo, o segmento é a principal fonte de denúncias de opressão e exploração de trabalhadores. Para ele, os sindicatos são oprimidos e as relações de trabalho são precárias e frágeis.

O presidente da Ftiemg, José Maria Soares, aponta a terceirização como principal problema. De acordo com ele, existem empresas do setor extrativista que terceirizam até 90% do seu quadro funcional, o que faz com que as condições de segurança, saúde, alimentação e salário sejam cada vez piores. "Os acidentes fatais e os casos de invalidez crescem anualmente, mas os baixos salários e a jornada de trabalho de até 16 horas diárias não se alteram", alertou. Ele lembrou, ainda, que há empresas interditadas pelo Ministério do Trabalho que continuam em atividade, e que faltam médicos e fiscais do trabalho para evitar que o problema continue acontecendo.

O assessor político da Ftiemg, João Paulo Pires Vasconcelos, reforçou que os trabalhadores estão sendo impedidos de exercer seus direitos constitucionais. Na opinião dele, a impunidade e a carência na estrutura de fiscalização do Ministério do Trabalho têm agravado a situação. "O Governo não tem cumprido a função de combater o trabalho forçado e, com isso, a desigualdade social e a repressão ao trabalhador crescem a passos largos", disse.

Ministério do Trabalho divide a responsabilidade com órgãos de saúde

O procurador do Ministério Público do Trabalho, Antônio Augusto Rocha, lembrou que os impactos na saúde dos trabalhadores vai além da fiscalização efetiva das empresas do setor extrativista. Segundo ele, é preciso que a Previdência Social e o Ministério da Saúde desenvolvam soluções técnicas para a proteção da saúde de quem trabalha na extração vegetal e mineral. "A terceirização fragiliza as relações e é perversa, mas são necessárias ações conjuntas para que a realidade mude no curto prazo", salientou.

O médico da Superintendência Regional do Trabalho, ligada ao Ministério do Trabalho, Mário Parreiras de Faria, também destacou a terceirização como a maior responsável pela situação, mas alertou para o descaso com a estrutura do órgão. De acordo com ele, o orçamento cai ano a ano e faltam condições mínimas de trabalho para os auditores. "Não temos nem motoristas para nos atender e, em alguns casos, falta até água no escritório", afirmou. Ele lembrou ainda que existem forças-tarefas em todo o Estado, que já interditaram dezenas de empresas que não cumpriam as normas de segurança do trabalho, e que existem soluções técnicas para o combate à silicose, que apenas para o tratamento de um doente, custa cerca de R$ 300 mil à Previdência Social.

A defensora pública federal, Giêdra Moreira, alertou para a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas para o setor extrativista. Para ela, é necessário que o Ministério Público conte com melhores condições de trabalho e que os órgãos de saúde desenvolvam um plano de estudos e de metas para a redução da silicose no Estado e no País.

Saúde - A diretora da Fundacentro, instituição que auxilia o Ministério da Saúde e o Ministério Público do Trabalho no combate a doenças funcionais, Marta Freitas, alertou para o aumento no número de vítimas de silicose em Minas Gerais. De acordo com ela, o Estado conta o maior número de doentes do País, segundo diagnóstico feito pela entidade. Ela afirmou que não será possível cumprir a meta de eliminação da doença, que era o ano de 2030, pela falta de estrutura dos órgãos fiscalizadores.

Providências - Ao final dos debates, o deputado Durval Ângelo anunciou os encaminhamento a serem tomados pela comissão, em face das informações apresentadas durante a audiência. Serão enviadas as notas taquigráficas da reunião ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), à Corregedoria de Justiça do Trabalho, ao Tribunal Regional do Trabalho e aos convidados; enviado ofício com pedido de providências à Justiça do Trabalho em Brasília sobre a situação do setor; e ofício ao Câmara dos Deputados, solicitando a realização de audiência pública sobre o tema na ótica dos Direitos Humanos. Atendendo a sugestões do procurador do Ministério Público do Trabalho, Antônio Augusto Rocha, serão solicitados à Fundacentro os resultados do estudo de viabilidade técnica para a redução e combate à silicose; e será feito o envio de pedido de informações à Secretaria de Estado da Saúde, sobre a realização de diagnóstico e de ações de prevenção e atendimento às vítimas de silicose em Minas.

Aprovados requerimentos de audiências públicas e envio de ofícios

Outros requerimentos aprovados: do deputado Durval Ângelo que solicita o envio de ofício à Corregedoria do Sistema Prisional da Secretaria de Estado de Defesa Social, requisitando esclarecimentos sobre a morte supostamente causada por omissão de socorro da detenta Maria Aparecida Campolina no presídio Estêvão Pinto; a realização de uma audiência pública para obter esclarecimentos sobre a situação dos assentados no acampamento de Camilo Torres em Belo Horizonte; uma visita da comissão ao Detran-MG para esclarecer detalhes das obras na rodovia MG 20 e seus impactos para as comunidades do entorno; o envio de ofício ao advogado-geral do Estado, solicitando esclarecimentos sobre a ordem de reintegração de posse que despejou o Circo de Todo Mundo e à Polícia Militar sobre o fato de ter destacado aparato excessivo e à noite para a operação; envio das notas taquigráficas à reunião que tratou da situação da penitenciária Estêvão Pinto ao secretário de Estado de Defesa Social, Maurício Campos Júnior; e envio de ofício à Defensoria Pública pedindo esclarecimentos sobre a situação dos detentos da penitenciária de São Joaquim de Bicas. O deputado Célio Moreira e a deputada Ana Maria Resende, ambos do PSDB, solicitaram a realização de uma visita ao Ministério de Meio Ambiente, para debater questões relacionadas à incorporação da mata seca à Mata Atlântica e os efeitos decorrentes dessa incorporação, em especial nos assentamentos de trabalhadores rurais; o envio das notas taquigráficas da 36a reunião da comissão ao procurador Afonso Henrique Miranda; a realização de uma audiência pública para debater a situação dos assentados no município de Barra do Guaicuí, assim como o envio de pedido ao Incra de renovação do convênio com a Emater naquele município.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Fahim Sawan (PSDB), vice; Jayro Lessa (DEM); Padre João (PT); e Célio Moreira (PSBD).

 

 

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