D. Mauro Morelli recebe homenagem pelos dez anos do
Consea
Governo, sociedade civil e até mesmo a Igreja
continuam com o preconceito secular de que alimentar os pobres é ato
de filantropia e caridade. Poucos já incorporaram o conceito de que
o acesso a um prato de comida é um direito de cidadania. Essa queixa
foi expressada pelo bispo Dom Mauro Morelli, presidente do Conselho
de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea-MG),
durante homenagem que recebeu na noite de quinta-feira (12/11/09),
no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, pelo
transcurso dos dez anos de fundação da entidade.
Atualmente, a grande esperança do eclesiástico é a
Lei Federal 11.947, sancionada pelo vice-presidente José Alencar.
Essa lei, segundo ele, trata da alimentação escolar e estipula que
pelo menos 30% dos produtos sejam adquiridos na própria comunidade,
estimulando a produção local da agricultura familiar. Dom Mauro não
escondeu o entusiasmo despertado pela lei, que une duas áreas pelas
quais sempre batalhou: a nutrição das crianças e o estímulo ao
agricultor familiar.
"Essa lei vem realizar o sonho de 1994, quando da
criação do Consea nacional. Estou com 74 anos. Vou lutar até os 90
anos para vê-la implantada", assegurou, sob aplausos do Plenário
lotado. Dom Mauro disse que, ao abraçar o que chama de "imperativo
ético" de alimentar as pessoas, porque com fome não é democracia,
nem louvor a Deus, foi criticado dentro da própria CNBB. Alguns
bispos o teriam acusado de abandonar os deveres com sua diocese para
cuidar de um "projeto pessoal".
Símbolo das lutas sociais
A homenagem a Dom Mauro e ao Consea-MG foi proposta
pelos deputados Padre João e André Quintão, ambos do PT. Ao
discursar, Padre João pediu a inclusão de verbas para o Consea no
PPAG e no Orçamento para 2010, e lembrou o acolhimento da campanha
lançada por Dom Mauro, Dom Luciano Mendes de Almeida e pelo
sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, principalmente nas dioceses
onde havia pastorais da Criança e do Adolescente. A placa entregue
ao homenageado em nome do presidente da Assembleia considera Dom
Mauro um "símbolo das lutas sociais".
André Quintão, que presidiu a solenidade, historiou
a luta pelos direitos sociais na Constituinte de 1988, na qual o
Centrão condicionou todos os avanços a uma regulamentação posterior.
Mesmo assim foi criada a Lei Orgânica da Assistência Social (Loas)
em 1993, e a Prefeitura de Belo Horizonte criou a Secretaria de
Abastecimento. "Minas teve um papel importante no debate dos
mecanismos de participação, e a própria Assembleia trabalha junto ao
Consea desde 2003. Dom Mauro foi nosso grande timoneiro, e nos
orienta para o exercício vivo da cidadania das pessoas de bem",
disse Quintão.
Elogios à atitude vanguardista de Minas foram
feitos pelo presidente da Fian Internacional, Írio Luiz Conti.
"Graças às fortes lideranças surgidas em Minas, o pensamento avançou
para outros Estados, evoluindo das necessidades para os direitos, e
desses para as obrigações do Estado", afirmou. Conti disse também
que a fome não decorre apenas das catástrofes naturais, mas da ação
do homem, e por isso tem que ser tratada politicamente. Em 2050,
segundo ele, o mundo precisará aumentar em 70% a produção de
alimentos, e precisa encontrar formas de impedir a concentração do
processo de produção e distribuição de alimentos. "Nesta semana os
olhares estão voltados para Roma, onde acontece a Cúpula Mundial de
Alimentos, e na próxima semana a Cúpula Mundial da FAO", informou
Conti.
A solenidade foi animada pelo coral infantil da
Vila Pérola. Compuseram a mesa, além dos citados, a secretária
Nacional de Assistência Social, Neila Batista; o vigário episcopal
para Ação Social e Política, padre Ademir Ragazzi; o secretário
municipal adjunto de Abastecimento, Fábio Leopoldino Duffes; e a
diretora do escritório de representação da Unimontes, Celeste Leite
Fróes.
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