Deputados negociam solução para o rio mais poluído de Minas

Deputados que participaram, nesta quinta-feira (12/11/09), da reunião conjunta das Comissões de Meio Ambiente e de Pa...

12/11/2009 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Deputados negociam solução para o rio mais poluído de Minas

Deputados que participaram, nesta quinta-feira (12/11/09), da reunião conjunta das Comissões de Meio Ambiente e de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais em São Sebastião do Paraíso (Sul de Minas) se comprometeram a negociar com o Governo do Estado para liberar uma verba já aprovada para a construção de um aterro sanitário na cidade.

Esta é uma das iniciativas anunciadas com o intuito de reduzir o problema do Córrego Liso, considerado o mais poluído do Estado pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas, que detectou índices de coliformes fecais 50 vezes acima do permitido pela legislação. A reunião foi acompanhada por cerca de 500 pessoas da comunidade, que lotaram o Teatro Municipal de São Sebastião do Paraíso em protesto contra a situação das águas do município e em busca de soluções para o problema.

O estudo do Igam, apresentado durante a audiência pública pelo vereador José Luiz Corrêa, aponta a contaminação do córrego por produtos tóxicos como cromo, fósforo e cianeto, que apresentam índices que superam em 300 vezes o considerado normal. O córrego é afluente do Rio Santana, que pertence à bacia do Rio Grande.

O analista ambiental do Igam Milton Olavo de Paiva Franco afirmou que o primeiro levantamento, feito em outubro de 2007, assustou os técnicos do instituto. "Ficamos apavorados. Nenhum outro corpo d´água em Minas apresentava um índice de poluição tão alto". Segundo o vereador, a Associação de Combate ao Câncer aponta a cidade com a campeã de incidência da doença no Estado e uma das mais atingidas do País.

O prefeito de São Sebastião do Paraíso, Mauro Lúcio da Cunha Zanin, disse que o problema do Córrego Liso tem sido questionado desde a década de 1990. "O córrego nasce com mais esgoto do que água limpa", reclama. De acordo com ele, o aterro sanitário, cujas obras devem custar R$ 2,6 milhões, já tem recursos prometidos pelo Governo do Estado, do Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas (Fhidro).

Ele também anunciou que a Câmara Municipal aprovou uma lei autorizando a prefeitura a estabelecer convênio com o Estado, por meio da Copasa, para implantar o tratamento de esgoto na cidade. A estação custará cerca de R$ 44 milhões aos cofres públicos. "Não sabemos se é a solução, mas já é o que podemos fazer para melhorar a situação".

Moradores e autoridades cobram fiscalização maior

O principal problema denunciado por muitos participantes da reunião é a atividade dos curtumes da cidade, que em sua na maioria jogam os dejetos no córrego sem tratamento. O curso d´água corta o município e passa em locais ocupados por laticínios, frigoríficos, indústrias, matadouro, propriedades agrícolas e até pelo lixão, onde são depositados todos os rejeitos da cidade.

O Córrego Liso recebe esgoto doméstico e industrial sem tratamento e já não apresenta mais vida em todo o seu curso. O mau cheiro insuportável, causado sobretudo pela atividade de beneficiamento do couro, foi a maior queixa levada pelos moradores. "As pessoas não conseguem nem comer", reclamou Carlos Rodrigues.

Deputados, moradores e outras autoridades presentes à reunião reclamaram da falta de fiscalização. O presidente da Câmara Municipal, Ailton Sillos, pediu mais esclarecimentos sobre quais organismos são responsáveis pelo trabalho. Segundo ele, existem curtumes em situação totalmente irregular.

A representante regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Josiane de Freitas disse que só fiscaliza os empreendimentos que são licenciados ou pedem a autorização para funcionar. Os clandestinos devem ser fiscalizados pela Polícia Ambiental ou pelo Comitê Gestor de Fiscalização Ambiental Integrada da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Segundo Josiane, há o registro de 12 curtumes na cidade, seis deles licenciados, três desativados e os outros três com a licença vencida.

Para o deputado André Quintão (PT), presidente da Comissão de Participação Popular, se o próprio Igam identificou o Córrego Liso como o mais poluído de Minas Gerais nos últimos dez anos, o Estado tem que tomar as providências. "É preciso identificar a fonte de poluição e tomar as medidas necessárias. Se o empreendimento está poluindo, tem que fechar. Nós vamos cobrar dos órgãos suas responsabilidades", disse o parlamentar.

O deputado Rêmolo Aloise (PSDB), que também cobrou atitude dos órgãos ambientais, afirmou que é preciso estabelecer metas urgentes para resolver o problema. Ele convocou o Ministério Público e os órgãos estaduais a fazer um levantamento de todos os empreendimentos para avaliar a condição de cada um. "A situação é urgente. É preciso estabelecer uma parceria entre todos os envolvidos", advertiu o deputado. O deputado Antônio Carlos Arantes (PSC) confirmou que o problema é mesmo alarmante. "Temos que respeitar os empresários, mas temos que ter maior zelo pela água que o povo bebe".

Empresários sugerem pacto para salvar o córrego

Presentes à audiência, representantes empresariais se dispuseram a estabelecer um pacto para recuperar as águas do Córrego Liso e acabar com o mau cheiro que incomoda toda a população. A ideia foi apresentada pelo gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Wagner Soares Costa. Ele citou como exemplo bem-sucedido a medida semelhante para melhorar a qualidade das águas do Rio das Velhas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). "Essa é uma oportunidade que está surgindo aqui. Já há vontade política", defendeu.

O diretor da Gonçalves Salles S.A Laticínos Aviação, Geraldo Alvarenga Resende Filho, concordou com a proposta. Segundo ele, os laticínios da região já estão procurando se adequar às exigências ambientais. "Temos que colaborar individualmente para obter um resultado coletivo", disse.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Curtimento de Couros e Peles de Minas Gerais (Sindpeles), Welington Mumic, também afirmou que os curtumes estão prontos para recuperar o rio. Em defesa do segmento, ele afirmou que as empresas trabalham com licença ambiental e são comprometidas com a legislação. Ele garantiu que o cromo usado no processo de curtimento não provoca câncer, e que o cianeto encontrado nas águas está acima do local onde são lançados os dejetos dos empreendimentos. Em relação ao mau cheiro, Mumic se comprometeu a procurar uma solução. "Vamos buscar um processo para reduzir o odor", prometeu.

André Quintão deu apoio à proposta, mas lembrou que o pacto deve ser coordenado pelo próprio município. Sugeriu que a prefeitura e o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema) tomem frente para viabilizar a proposta empresarial.

Presenças - Deputados André Quintão (PT), presidente da Comissão de Participação Popular; Antônio Carlos Arantes (PSC) e Rêmolo Aloise (PSDB). Também participaram da reunião o promotor Luiz Augusto Belloti; o analista ambiental do Igam, Amilton Ferri; o presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas dos Afluentes Mineiros do Médio Rio Grande, Francisco Landi Pereira; e o presidente do Codema, Mauro Westin.

 

 

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