Cartunistas propõem criação de Museu Henfil em Ribeirão das
Neves
A Comissão de Cultura recebeu, em sua reunião nesta
quinta-feira (12/11/09), representantes de diversos segmentos das
artes visuais mineiras, como cinema de animação e histórias em
quadrinhos, em busca de contribuições para a formulação de políticas
públicas que melhorem o acesso aos bens culturais disponíveis e
ajudem a preservar a cultura mineira. Este foi o objetivo do
requerimento apresentado pela deputada Gláucia Brandão (PPS),
presidente da comissão.
A parlamentar acatou a sugestão de criação do Museu
Henfil em Ribeirão das Neves, cidade que representa. A proposta
partiu do cartunista Eduardo dos Reis Evangelista, mais conhecido
como Duke, que publica charges há dez anos nos jornais O Tempo e
Super. Duke lembrou que o grande humorista Henrique Souza Filho, o
Henfil, nasceu naquela cidade. Informou também que o Governo de São
Paulo lançou edital para quadrinhos e desenhos, com o objetivo de
selecionar obras para a grade do MEC. Para ele, o poder de
comunicação dos quadrinhos também deveria gerar incentivos da parte
do governo mineiro.
Rafael Guimarães, coordenador político da
Associação Brasileira de Cinema de Animação, disse que a ABCA atua
junto ao Governo Federal em busca de incentivos e de reconhecimento
para o cinema de animação. "Em Minas temos profissionais de alto
nível, com trabalhos premiados, e não podemos perdê-los para Rio e
São Paulo", alertou. "Até nos Estados Unidos, onde os quadrinhos dão
lucros bilionários, há incentivos governamentais para os artistas
cujo trabalho não é voltado para o grande público", justificou.
Lunardi Teles, cartunista e caricaturista mais
conhecido como Lute, disse que Minas até hoje não conseguiu criar um
espaço à altura dos grandes nomes que o Estado revelou, como
Ziraldo, Nani e Nilson. Lute organizou a exposição BH Humor, em
setembro, com recordes de público na Casa do Baile. Ele propôs
trazer essa exposição para a Assembleia de Minas. A deputada Gláucia
Brandão sugeriu que a exposição seja itinerante e que possa ser
vista em todas as regiões do Estado.
Divulgação é importante, mas não remunera o
artista
Outro evento que provou o grande interesse do
público pelos quadrinhos foi o Festival Internacional de Quadrinhos,
que atraiu 70 mil pessoas ao Palácio das Artes, segundo informou
Cristiano Seixas, empresário da Casa dos Quadrinhos e do Estúdio Big
Jack. Seixas fez uma rápida exposição sobre a história do desenho,
desde as pinturas rupestres nas cavernas até os desenhos infantis
nas escolas. Disse ainda que os quadrinhos têm mais de 100 anos de
história, e devem sua popularidade aos jornais.
O empresário disse que os produtos de animação vêm
logo abaixo do cinema em faturamento no mercado internacional, e
custam muito menos. No entanto, o mercado não é sustentável. A
divulgação não remunera o artista, que fica dependendo de patrocínio
ou mecenato. Outro aspecto abordado por ele foi a dificuldade para
se criar uma associação ou sindicato. "O artista geralmente é
introspectivo, passa os dias trancado em seu quarto com a prancheta.
É praticamente impossível mobilizá-lo para reivindicações coletivas.
O governo ajudaria criando um piso salarial para a categoria",
sugeriu.
Lacarmélio vive da Revista Celton
O melhor exemplo de individualismo dos quadrinhos
em Minas estava presente na reunião: Lacarmélio Alfêo de Araújo, que
há 28 anos roteiriza, desenha, edita, imprime e vende nos bares e
nas ruas de Belo Horizonte a revista Celton, personagem criado por
ele. Os desenhos são ambientados na capital, com temas populares,
como o Capeta do Vilarinho e a Loura do Bonfim. Lacarmélio lembra
que inicialmente o personagem tinha superpoderes, por causa da
influência que recebeu da Marvel e DC Comics na infância.
Em quase três décadas, ele produziu 70 números da
revista, e desde 1998 vive exclusivamente desse trabalho. O último
número, "O Combate entre a Sogra e o Capeta" já vendeu 40 mil
exemplares, para um público formado em sua maioria por motoristas de
táxi e ônibus, estudantes e donas-de-casa. Ele conta com a ajuda dos
fiscais da BHTrans, que lhe informam onde há engarrafamentos de
trânsito para que ele possa abordar os motoristas. "Nem todo mundo
elogia. Às vezes algumas senhoras gritam ofensas, e já tive
evangélicos esfregando a Bíblia no meu cartaz, sobre a palavra
capeta", diverte-se o autor.
Lacarmélio criticou os artistas que vivem de
incentivos e prêmios de governos. "A gente tem que ser responsável
pelo que faz e batalhar para viver daquilo. Tenho 2º grau
incompleto, mas já vendi mais de um milhão de revistas em Belo
Horizonte. O objetivo do meu trabalho é despertar bons pensamentos,
encantar o leitor e lhe dar uma visão de progresso",
concluiu.
Presenças - Deputada
Gláucia Brandão (PPS), presidente da comissão.
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