Chuva atrapalha colheita de cana e eleva preço do álcool

Quarenta e oito milhões de toneladas de açúcar deixarão de ser moídas este ano no Brasil. A previsão foi feita pelo p...

29/10/2009 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Chuva atrapalha colheita de cana e eleva preço do álcool

Quarenta e oito milhões de toneladas de açúcar deixarão de ser moídas este ano no Brasil. A previsão foi feita pelo presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG), Luiz Custódio Cotta Martins, que participou, na tarde desta quinta-feira (29/10/09), do Ciclo de Debates O impacto do etanol no desenvolvimento de Minas Gerais, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Segundo o empresário, o prejuízo será provocado pelas chuvas constantes e prematuras que afetam a maior parte do País.

Ele afirmou que as águas também são responsáveis pela alta do preço do álcool combustível verificada, principalmente, nas duas últimas semanas. O aumento elevou a relação de preços com a gasolina para patamares superiores a 70%, tornando o álcool inviável para o consumidor mineiro.

De acordo com Luiz Cotta, em Minas Gerais, o álcool só é competitivo diante do combustível de petróleo quando é vendido abaixo do custo de produção. Ele apontou duas principais razões: a gasolina mineira é uma das mais baratas do País, ao contrário do álcool, que nos últimos 24 meses nunca se posicionou entre os dez primeiros. A outra causa apontada pelo empresário é a alíquota de ICMS, que em Minas é de 25% para ambos os combustíveis, superior a outros Estados, que diferenciam as alíquotas. Ele citou os exemplos de São Paulo, onde o imposto é de 12% para o etanol; Goiás, 20%; Paraná, 18%; e Rio de Janeiro, 24%.

Em defesa da diferenciação tributária para o biocombustível, o empresário elencou algumas vantagens do álcool no Estado. Segundo Luiz Cotta, Minas se tornou autossuficiente e produz cerca de 500 milhões de litros a mais que sua demanda. O setor investiu US$ 4 bilhões desde 2002, gerando 45 mil empregos no interior, e este ano, deve contribuir com R$ 460 milhões em ICMS. "É preciso que o governo veja a questão do etanol, não só pelo lado da arrecadação, e sim pelo desenvolvimento e renda que sua produção gera no interior do Estado, além dos benefícios ambientais deste combustível renovável", afirmou.

Secretário descarta redução de alíquota de ICMS

O secretário de Estado da Fazenda, Simão Cirineu Dias, descartou a possibilidade de redução da alíquota de ICMS para o álcool, de 25% para 12%, como reivindicam os produtores. Isso porque o Estado teria uma redução de mais de R$ 500 milhões por ano na arrecadação, num momento em que tenta recuperar essa receita. Segundo o secretário, a economia mineira, que crescia acima da média nacional antes da crise financeira mundial, passou a acumular perdas também acima do País a partir do final de 2008. "Somente agora o Estado está se aproximando da arrecadação de ICMS que tinha em outubro de 2008, da ordem de R$ 2,02 bilhões. Nesse período, as perdas acumuladas chegaram a R$ 2,7 bilhões", afirmou.

Na arrecadação com combustíveis, Simão Cirineu afirmou que o etanol dobrou sua participação, de 4,8% para 9,9% do montante arrecadado, entre 2002 e 2008. Enquanto isso, os demais combustíveis tiveram redução, mas a gasolina, por exemplo, ainda responde por quase 50% dessa receita. O secretário apresentou ainda o preço médio ponderado do álcool e da gasolina para o consumidor final em Minas, alegando que a última pesquisa apontava relação de preço de 63,8% - ainda favorável ao álcool. "Agora o álcool pode estar perdendo competitividade, mas a gasolina também está aumentando", disse.

O presidente do Grupo Coruripe, Vítor Montenegro Wanderley Júnior, opinou que a redução de alíquota do ICMS é um assunto encerrado, visto que o Estado não pode abrir mão da receita. Ainda assim, ele defendeu uma tributação diferenciada entre álcool e gasolina, pelas características ambientais de cada um.

Estado planeja investir em geração de energia de biomassa

A geração de energia a partir da biomassa, subproduto da indústria sucroalcooleira, deve receber apoio do Governo de Minas, conforme anunciou o secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Sérgio Barroso. Segundo ele, a Cemig deverá ser a indutora, junto à iniciativa privada, para o desenvolvimento dessa nova matriz energética, uma vez que o Estado não tem mais como construir grandes hidrelétricas. "A biomassa poderá ser para Minas uma nova Itaipu", comparou Barroso, também expositor do ciclo de debates sobre o etanol. A idéia é que o BDMG também conceda empréstimos para essa atividade. O secretário salientou ainda que o Noroeste de Minas tem todas as condições para ser um novo polo agroindustrial.

Sérgio Barroso também enumerou as ações do governo Aécio Neves em prol do desenvolvimento da produção de cana-de-açúcar, como a pavimentação de mais de 400 quilômetros de estradas somente na região central do Triângulo Mineiro. Já o vice-presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Gastão Vilela França Filho, fez um relato dos avanços ambientais em Minas na área sucroalcooleira. Segundo ele, o governo mineiro assinou um protocolo agroambiental para eliminação da queima da cana-de-açúcar até 2014. Atualmente, 43% da colheita em Minas já é feita de forma mecanizada.

Especialistas alertam para entraves ao setor

Apesar das ações governamentais, entraves econômicos e ambientais foram apontados pelos debatedores do painel sobre a produção e comercialização do etanol. Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), salientou que o etanol ainda não é uma commodity e que, portanto, não há mercado externo para absorver uma maior produção mineira. "O mercado interno tem que ser fortalecido para sustentar uma expansão, ou continuaremos a viver momentos de euforia e de desespero", apontou. Em Minas, segundo ele, para cada litro de gasolina consumido, há o consumo de 0,45 litro de etanol. No Brasil, a proporção é de um para 0,65, e em São Paulo, de um para 1,26 de etanol.

Já o promotor Luciano Badini, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa do Meio Ambiente, listou dúvidas e questionamentos quanto à produção e comercialização do etanol. Entre elas, estão a desnacionalização das agroindústrias brasileiras, a alta no preço de alimentos em função da redução da área plantada, o avanço do etanol sobre o cerrado, a poluição e a escravização de trabalhadores. De acordo com o promotor, o setor contabilizou, em 2008, 2.553 trabalhadores reduzidos à condição de escravos, 43% do total libertado pelo Ministério do Trabalho. Badini salientou ainda que o MP tem adotado uma postura de negociação.

Os deputados Zé Maia e Vanderlei Jangrossi conduziram o painel, que teve ainda a participação do diretor técnico da Superintentendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Rodrigo Angelis Álvares. O ciclo de debates sobre o etanol teve ainda um último painel na tarde desta quinta-feira (29).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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