Usineiros defendem tributação menor sobre o álcool

O presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), Marcos Jank, defendeu a revisão da tributação sobre o á...

29/10/2009 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Usineiros defendem tributação menor sobre o álcool

O presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), Marcos Jank, defendeu a revisão da tributação sobre o álcool em Minas, com a diferenciação do ICMS para o álcool e a gasolina, a exemplo do que ocorre em São Paulo. Hoje, a alíquota é de 25% para ambos em Minas Gerais, mas em São Paulo é de 12% para o álcool, na bomba. Jank foi um dos expositores do Ciclo de Debates O impacto do etanol no desenvolvimento de Minas Gerais, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais durante toda esta quinta-feira (29/10/09). Os debates começaram pela manhã, com a presença do presidente da ALMG, deputado Alberto Pinto Coelho (PP).

"A redução do ICMS tem razões econômicas, sociais, de saúde e de emprego. Minas deve pensar seriamente nisso, já que pode se tornar mais importante que São Paulo na produção de etanol", destacou Marcos Jank, que cobrou uma definição quanto à matriz energética que o País pretende adotar nos próximos anos. "Vamos fazer usinas térmicas a carvão e voltar ao combustível fóssil, com o pré-sal, ou investir em uma matriz energética mais limpa?", indagou, defendendo que o etanol é uma fonte de energia limpa, que gera emprego e renda.

Em entrevista à imprensa, o secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Gilman Viana Rodrigues, ponderou que a revisão tributária é necessária, mas enfatizou que qualquer mudança vai gerar grande impacto nos cofres públicos. "A matriz de arrecadação do Estado ainda não permite fazer essa redução. A solução é do governo, não somente de uma secretaria", acentuou, acrescentando que o Executivo tem obras planejadas cujos orçamentos obedecem a uma previsão de arrecadação do ICMS, o principal imposto estadual.

Números - Marcos Jank apresentou vários dados para demonstrar a importância da cana: ocupa a segunda posição na matriz energética brasileira e gera entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões em impostos. Além disso, o Brasil é o maior exportador de etanol do mundo, respondendo por cerca de 35% da produção. Jank também divulgou que, desde o início do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) da Organização das Nações Unidas (ONU), o etanol brasileiro evitou emissões equivalentes a 60% do que o mundo comprou em créditos de carbono.

Governo destaca aspectos positivos; Fetaemg cobra melhores condições de trabalho

O secretário Gilman Viana Rodrigues respondeu a uma especulação permanente: a de que a produção de etanol desalojará a produção de alimentos no Brasil. Ele apresentou dados oficiais demonstrando que houve um aumento de 70,6% na produção de grãos entre 2000 e 2009, com aumento da área plantada de 27%. Já a cana teve um aumento de produção de 113%, com uma elevação de 81% na área plantada. Segundo Gilman, esses números comprovariam que os dois setores crescem paralelamente, crescendo em área e em produtividade.

Para o secretário, a cana "não traz ameaça, somente conforto e solução." Mas existe um desafio para Minas Gerais, que é a logística de distribuição do produto. Gilman lembrou que há decisões de governos em nível mundial para uso do etanol brasileiro, na medida em que o País seja um bom fornecedor. E isso inclui Minas Gerais, que responde por 8,2% da produção nacional de cana, atrás de São Paulo, com 57,9%, e do Paraná, com 8,5%.

Fala dos trabalhadores - Assim como os demais expositores, o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (Fetaemg), Vilson Luiz da Silva, reforçou os aspectos positivos do setor sucroalcooleiro, mas enfatizou que é preciso separar "o joio do trigo". "Há os bons empresários, mas também aqueles que não cumprem com suas obrigações sociais, trabalhistas e ambientais. A Assembleia precisa saber disso, senão fica parecendo que estamos aqui apenas para reclamar e chorar", ponderou.

Segundo Vilson, ainda há muitos problemas, como profissionais ganhando R$ 3,00 para cortar uma tonelada de cana; trabalhadores sem luvas, com botinas rasgadas, sem pausa para descanso, vivendo em alojamentos precários; e agenciados por intermediários, os chamados "gatos". Ele também fez um alerta sobre o desemprego gerado pela mecanização e sobre a falta de um amplo programa de capacitação e requalificação do trabalhador. "Como vão qualificar 500 mil operadores de colheitadeiras?", questionou. Uma colheitadeira substitui o trabalho de cerca de 100 profissionais da cana.

Em resposta às cobranças feitas pela Fetaemg, a responsável pela área de Responsabilidade Social da Unica, Maria Luiza Barbosa, que atuou como debatedora, disse que os Estados têm se mobilizado para capacitar os trabalhadores da cana, assim como as empresas, que buscam responder a demandas locais. Ela citou o exemplo de Presidente Prudente (SP), onde cortadores estão frequentando curso na área de hotelaria. Destacou ainda o lançamento do Compromisso Nacional, assinado recentemente por empresários, trabalhadores e Governo Federal, que tem o objetivo de aperfeiçoar as condições de trabalho na cana de açúcar. O compromisso trata de aspectos como contrato de trabalho, saúde e segurança, transporte, migração, remuneração e escolaridade.

Pesquisa aponta vantagens para cana, mas debatedor preocupa-se com direitos humanos

A professora Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), apresentou os resultados de uma pesquisa sobre as "externalidades sociais dos diferentes combustíveis no Brasil". Coordenadora do Grupo de Pesquisa e Extensão em Mercado de Trabalho, ela e sua equipe compararam os indicadores sociais do segmento da cana para produção do etanol com os relativos à extração do petróleo e derivados. As conclusões do trabalho são de que a cana remunera melhor, emprega mais e tem capilaridade indutora do desenvolvimento. Atualmente, há 465.236 trabalhadores atuando na cana e no etanol, espalhados em 1.042 municípios de 25 Estados.

"Fomos surpreendidos positivamente com os dados do Ministério do Trabalho e do IBGE", pontuou a professora, alegando que esperava encontrar outros números, tendo em vista os relatos, pela imprensa, de vários problemas no segmento sucroalcooleiro. Alguns números divulgados por Márcia Moraes demonstram que, mesmo em um cenário de formalização baixa na agricultura brasileira (32%), a cana apresenta um índice de formalização de 72,8% em Minas, contra 52% para o café e 44% para o algodão, por exemplo. Os dados são de 2007. Trabalhador formalizado é aquele que tem registro em carteira.

Outros números sobre Minas Gerais apontam que o setor empregava cerca de 30 mil trabalhadores espalhados em 164 municípios, contra 1.832 profissionais em 15 municípios, no caso do segmento do petróleo e derivados. Segundo a professora, entre 2005 e 2008 o setor gerou mais 50 mil empregos no Estado. Um último número trazido por Márcia Moraes demonstra que, caso houvesse a substituição de 15% do uso de gasolina por etanol no Brasil, seriam gerados 117 mil novos empregos e elevada a massa salarial em R$ 235,91 milhões.

Direitos humanos - O coordenador da Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade, frei Rodrigo de Castro Amedée Peret, do Movimento Nacional de Direitos Humanos, trouxe vários questionamentos aos participantes do ciclo de debates. O movimento usou dados de pesquisa agrícola por municípios do IBGE, mostrando que houve redução de 8,4% da área de lavoura temporária no Triângulo Mineiro, entre 2005 e 2007. Já a cana, que ocupava 11,73% da área em 2005, chegou ao índice de 21,02% de ocupação em 2007. Entre 2003 e 2007, houve redução de 8,17% no efetivo bovino, o que representa menos 500 mil cabeças de gado. "A pergunta é: para onde vai o produtor?", questionou o frei Peret.

Em contraponto à fala de Márcia Moraes, da USP, lembrou que a empregabilidade destacada pela pesquisa se deu no período de boom do setor do etanol. Ele trouxe o exemplo de Capinópolis (Triângulo Mineiro), acentuando que, depois da onda de contratações e da movimentação econômica do município, os problemas começaram a chegar. Um deles não aparece nas estatísticas e é o que trata da absorção dos filhos de trabalhadores pelas escolas locais. "Elas chegam em abril e vão embora em novembro, por isso não aparecem nas estatísticas oficiais, que se baseia em dados colhidos no início e no final do ano", revelou.

O frei Peret reivindicou à Assembleia de Minas um estudo aprofundado dos impactos da cana nos direitos humanos. Segundo ele, é preciso avaliar os seguintes impactos: ambientais; no deslocamento da produção agropecuária e seus efeitos na segurança alimentar; nas relações de trabalho das propriedades agrícolas que fornecem cana para as usinas; nas migrações sazonais; nas mudanças demográficas; e no planejamento da infraestrutura urbana, em áreas como saúde e educação. "São vários os desafios que precisam ser encarados na área de planejamento, a fim de evitar ou mitigar os impactos nos direitos humanos", finalizou.

Fala dos deputados - Na fase destinada aos debates, o deputado Weliton Prado (PT) criticou a política tributária do Estado. Para ele, o maior entrave ao crescimento do setor sucroalcooleiro é a alíquota de 25% aplicada pelo governo. "O etanol é a mais bem sucedida experiência do segmento energético brasileiro, mas é necessário um maior incentivo fiscal", disse.

O deputado Tiago Ulisses (PV) destacou ainda que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tem dificultado a liberação de financiamentos destinados à expansão e à modernização das linhas de transmissão do setor.

Já o deputado Sebastião Costa (PPS) apontou que o caminho para o crescimento é considerar os produtores como um todo. Para ele, os incentivos devem ser concedidos de forma igualitária sem que haja a fragmentação dos mercados. "O Estado deve ser único, considerando as potencialidades de cada região", finalizou.

O ciclo de debates sobre o etanol prossegue durante toda a tarde desta quinta-feira (29).

 

 

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