Concentração de terras afeta agricultura familiar, segundo debatedores

A concentração de terras por grandes produtores é o principal problema enfrentado pela agricultura familiar no País. ...

27/10/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Concentração de terras afeta agricultura familiar, segundo debatedores

A concentração de terras por grandes produtores é o principal problema enfrentado pela agricultura familiar no País. Esta é a avaliação da maioria dos participantes de audiência pública realizada nesta terça-feira (27/10/09) pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A reunião, requerida pelo deputado Padre João (PT), teve como objetivo discutir dados sobre a agricultura familiar constantes do Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, divulgados no fim do mês passado.

Padre João destacou o crescimento da agricultura familiar apontado pelo Censo e disse que ela tem melhores resultados que o agronegócio nos aspectos social, econômico e ambiental. Por isso, questionou a resistência à reforma agrária, que, em sua opinião, redistribuiria melhor as terras no País. "O aumento do número de estabelecimentos da agricultura familiar não corresponde à extensão de terras", declarou.

Na mesma linha, o delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário em Minas, Rogério Correia, apresentou dados do Censo sobre a concentração fundiária. De acordo com o levantamento do IBGE, a agricultura familiar responde por 84,4% dos estabelecimentos rurais no Brasil e por 74,4% do pessoal ocupado no campo (12,3 milhões de pessoas). A agricultura não familiar é responsável por 15,6% dos estabelecimentos e 25,6% dos empregos (4,2 milhões de pessoas). Entretanto, a área ocupada pelos estabelecimentos familiares é de 24,3%, enquanto a agricultura não familiar é praticada em 75,7% das terras. "Pensar um modelo de agricultura familiar vitorioso é pensar um volume de terras maior para esses agricultores", disse Correia.

Para o representante da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Lucas Scarascia, não só a concentração de terras prejudica os agricultores familiares, mas também a de renda. Ele disse ainda que a agricultura familiar mineira é mais eficiente que a não familiar - os valores brutos de produção por hectare são de R$ 674 e R$ 540, respectivamente.

Assentamentos - "A concentração da terra ainda se mantém, mas a presença da agricultura familiar no conjunto da agricultura brasileira vem crescendo", afirmou o chefe da Divisão de Obtenção de Terras do Incra em Minas, Nílton Alves de Oliveira. Ele defendeu a criação de assentamentos para reduzir a concentração e pediu que o Governo de Minas acelere o uso de terras devolutas na reforma agrária.

O presidente da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial, deputado Vanderlei Jangrossi (PP), disse que ainda há muito a avançar, mas afirmou que o Governo de Minas tem se esforçado em conceder títulos de terras a pequenos agricultores.

O deputado Chico Uejo (PSB) criticou o Ministério do Desenvolvimento Agrário por supostamente insinuar que o agronegócio é responsável pela distribuição desigual de terras. Segundo ele, a formação de latifúndios é resultado de um processo histórico. "Essa discordância entre o agronegócio e a agricultura familiar só existe no mundo político. No mundo prático, eles são complementares", declarou.

Política agrícola - Os deputados Antônio Carlos Arantes (PSC) e Domingos Sávio (PSDB) destacaram a importância da agricultura familiar, mas disseram que o Governo Federal não tem uma política agrícola para o País. Segundo Arantes, o pequeno produtor está empobrecido e tem dificuldades para comercializar seus produtos. "Uma política agrícola tem de considerar os custos de produção e um valor justo para a venda", acrescentou Domingos Sávio. Para Vanderlei Jangrossi, os custos elevados para produzir afetam não só o agricultor, como também o consumidor.

O deputado Carlos Gomes (PT) rebateu as críticas ao Governo Federal e lembrou que o Plano Safra 2009-2010 prevê R$ 15 bilhões em crédito para a agricultura familiar. "Não podemos negar as dificuldades do setor, mas não podemos negar também o esforço do Governo Federal, não só tem termos de valores, mas de acompanhamento e assistência ao produtor", disse. Ele destacou, ainda, que a agricultura familiar é responsável pela maior parte dos produtos da cesta básica. De acordo com o Censo do IBGE, 87% da mandioca, 70% do feijão e 58% do leite, por exemplo, são produzidos nos estabelecimentos rurais familiares.

Requerimentos - A comissão aprovou dois requerimentos. O primeiro, do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), solicita envio de ofício ao secretário de Estado da Fazenda para garantir a extensão do regime de substituição tributária de ICMS incidente sobre operações com carnes e outros produtos comestíveis resultantes do abate de bovino, bufalino e suíno.

O segundo requerimento, do deputado Carlos Pimenta (PDT), solicita o envio de ofício à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão pedindo cópia de contrato de doação celebrado entre o Estado e o Governo Federal, decorrente da Lei 13.184/99, que autoriza o Executivo a doar imóveis à União. De acordo com o deputado, o objetivo é verificar o cumprimento da doação.

Presenças - Deputados Vanderlei Jangrossi (PP), presidente; Antônio Carlos Arantes (PSC), vice-presidente; Carlos Gomes (PT), Chico Uejo (PSB), Domingos Sávio (PSDB) e Padre João (PT).

 

 

Responsável pela informação: Assessoria de Comunicação - www.almg.gov.br

Rua Rodrigues Caldas,30 :: Bairro Santo Agostinho :: CEP 30190 921 :: Belo Horizonte :: MG :: Brasil :: Telefone (31) 2108 7715