Criação de conselho de classe opõe arquitetos e engenheiros

O Projeto de Lei federal (PL) 4.413/08 está colocando frente a frente arquitetos e engenheiros, que há 75 anos têm co...

22/10/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Criação de conselho de classe opõe arquitetos e engenheiros

O Projeto de Lei federal (PL) 4.413/08 está colocando frente a frente arquitetos e engenheiros, que há 75 anos têm conselhos comuns, os Creas e o Confea em nível nacional. Entre outras ações, a proposta cria um conselho específico para os arquitetos e urbanistas. Em audiência da Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta quinta-feira (22/10/09), arquitetos manifestaram sua insatisfação com o sistema Confea-Crea e o desejo de ter o conselho próprio. Engenheiros, porém, argumentam que a separação traz prejuízo para as categorias e para a sociedade. Sobraram ainda críticas formais ao PL 4.413/08, que tramita no Congresso Nacional.

A proposta, de autoria do Executivo, cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR) e conselhos nos Estados e no Distrito Federal. Ela lista as atribuições desses profissionais, estabelece as competências dos conselhos e valores de anuidade, entre outros assuntos. Determina ainda que os arquitetos e urbanistas com registros nos atuais Creas terão registro automático nos novos conselhos. E no prazo de cinco anos, engenheiros arquitetos poderão optar por transferir sua inscrição para esses novos conselhos. Outra previsão é de transferência, dos Creas para o CAU-BR, de 90% do valor das anuidades e anotações de responsabilidade técnica recebidas das pessoas físicas de arquitetos e urbanistas, até que ocorra a instalação do CAU-BR.

Participantes apresentam críticas ao projeto

Mesmo assumindo que o Crea-MG não tem uma posição oficial sobre o assunto, a diretora de Relações Institucionais da entidade, Maria Elisa Baptista, acredita que a separação dos arquitetos resulta em perdas para a categoria e para o Sistema Confea-Crea. "O que deve nortear a discussão é o atendimento à sociedade", afirmou, citando possíveis dificuldades na fiscalização profissional e de obras. Ela enumerou ainda problemas existentes no projeto, como o voto obrigatório para conselheiros e a ausência das instituições de ensino no colégio eleitoral.

Na mesma linha, o presidente do Sindicato dos Engenheiros (Senge-MG), Nilo Sérgio Gomes, disse que a entidade não definiu sua posição, mas que a união entre as categorias facilita negociações como as de piso salarial. "Se cada categoria resolver sair do sistema, a maior prejudicada é a sociedade", afirmou. Ele criticou a eleição indireta para presidente do CAU-BR, prevista no PL 4.413/08 e apontou, como solução, uma reformulação da Lei 5.194, de 1966, que criou o atual sistema Confea-Crea, para torná-lo mais atraente.

A professora Roberta Vieira de Souza, conselheira do Crea-MG, salientou que a interface entre as profissões hoje reunidas no Confea-Crea é essencial para a sustentabilidade mundial. Daí o temor diante da saída de uma categoria. "Quem vai fiscalizar o quê, se o ambiente é único?", questionou. Já o engenheiro arquiteto e jurista Mário Jorge de Las Casas criticou a baixa qualidade técnica do projeto. Segundo ele, há pelo menos 21 violações diretas ao texto constitucional, e a proposta corre o risco de ser mutilada. Ele aventou ainda uma possível dificuldade de sobrevivência de pequenos conselhos, que hoje se beneficiam do sistema condominial do Confea-Crea.

Arquitetos alegam não ser representados no sistema

Para defender o conselho próprio, arquitetos e urbanistas argumentam que não se sentem representados no atual sistema. Segundo o coordenador da Câmara de Arquitetura do Crea-MG, Leandro Sabbadini, o Confea reúne mais de 200 profissões, sendo 40 modalidades apenas de engenharia. Como a composição do conselho é proporcional, os arquitetos são 10%. "A categoria não consegue fazer valer seus anseios, não se sente contemplada num sistema em que os objetivos ficam diluídos", argumentou. Ainda segundo Sabbadini, os arquitetos representam 9,8% da arrecadação do Confea e apenas 1,4% das despesas de fiscalização, que ele considera falha.

O coordenador do Crea-MG também não vê conflito de atribuições entre categorias e acredita que, com a criação do CAU-BR, a sociedade terá uma fiscalização direcionada e objetiva. Ângelo Arruda, presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas, lembrou que o PL 4.413/08 é resultado de 51 anos de luta. Ele também citou as dificuldades para a arquitetura avançar sob a guarda do Confea. "Mesmo tendo um dos mais importantes arquitetos vivos do mundo, nunca conseguimos realizar um congresso internacional no Brasil. No ano passado, tivemos o de engenharia, com investimento de R$ 6,5 milhões do Confea", exemplificou. Segundo Arruda, 74,8% dos arquitetos brasileiros querem sair do sistema.

O presidente do Sindicato dos Arquitetos do Rio de Janeiro, Jeferson Salazar, completou que, sob a tutela do sistema Confea-Crea, os arquitetos e urbanistas tiveram suas atribuições "solapadas". A restauração de patrimônio, por exemplo, antes restrita a arquitetos, foi ampliada às outras categorias, assim como a coordenação de planos diretores. Por outro lado, arquitetos passaram a enfrentar restrições para elaborar projetos hidráulico e elétrico. "O CAU restabelece o equilíbrio entre as profissões. Os engenheiros civis e os técnicos também estão criando conselhos próprios", afirmou. Segundo ele, o CAU tem ainda um fundo para garantir o funcionamento dos conselhos. No debate, os profissionais também se revezaram na defesa do CAU e na crítica ao projeto de lei.

Deputados valorizam o debate

O deputado Carlos Gomes (PT), autor do requerimento para a audiência e membro da Frente Parlamentar de Engenharia, Arquitetura e Agronomia da ALMG, ressaltou que a discussão sobre o PL 4.413/08 é importante, sobretudo quando o País vive uma fase de grandes obras de engenharia, como o Minha Casa, Minha Vida e o PAC. Já o deputado Wander Borges (PSB) afirmou que é preciso popularizar a profissão de arquiteto, aproximando os profissionais da população carente, até mesmo para garantir construções mais eficientes e de custo reduzido.

A comissão aprovou ainda três requerimentos. O deputado Paulo Guedes (PT) solicita audiência pública para debater a situação dos produtores rurais do Norte de Minas, que vêm sofrendo penalidades abusivas por parte de órgãos ambientais. Em outro encontro, Guedes também pretende discutir o Decreto Estadual 44.035, de 2005, que disciplina o transporte rodoviário intermunicipal. Segundo ele, empresas e taxistas estão recebendo multas no interior de Minas. Já o deputado Almir Paraca (PT) teve aprovado requerimento de audiência para debater as condições de funcionamento da Fundação Caio Martins após a posse de nova diretoria, em 2008.

Presenças - Deputados Wander Borges (PSB), Carlos Gomes (PT) e Paulo Guedes (PT).

 

 

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