Representantes do setor de transplantes reconhecem falhas em Minas

Representantes do Ministério Público e de envolvidos com o sistema estadual de transplantes reconheceram problemas en...

20/10/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Representantes do setor de transplantes reconhecem falhas em Minas

Representantes do Ministério Público e de envolvidos com o sistema estadual de transplantes reconheceram problemas enfrentados pelo setor em Minas Gerais, como a falta de investimentos e a baixa remuneração das equipes. Eles participaram de reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, esta terça-feira (20/10/09).

De um lado, a promotora de Justiça do Centro Operacional das Promotorias de Defesa da Saúde (CAO Saúde), Josely Ramos Pontes, fez várias críticas ao sistema, principalmente quanto aos baixos investimentos e ausência de controles. Já os representantes do MG Transplantes e da área de transplantes do Hospital das Clínicas, referência nessa área no Estado, reconheceram deficiências no setor, mas apresentaram um quadro bem diferente daquele pintado pela promotora.

Segundo a promotora Josely Pontes (que fez sua exposição e depois se retirou em função de outros compromissos), a questão dos transplantes é motivo de preocupação do MP há vários anos. Ela denunciou o alto número de órgãos que são doados em Minas e desperdiçados, em função da falta de estrutura para realizar os transplantes. Ela citou como exemplo negativo nesse sentido o Hospital Felício Rocho.

Mortalidade - O presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), questionou a promotora se havia alguma investigação concluída. Josely Pontes respondeu que, em 79 prontuários de transplantes nesse hospital, de 2005 a 2007, ficou constatado que houve 50% de mortalidade, sendo que especificamente nos transplantes de coração o índice atingiu 90%. Esses índices se devem em parte, na opinião dela, a falta de critérios para realização de transplantes. "Em muitos casos, hemodiálise e terapias substitutivas são mais indicadas", destacou.

A promotora também criticou o que considera a total falta de controles do sistema de transplantes no Estado: "pacientes estão há anos na fila de um rim e não tem qualquer informação sobre quando vão conseguir o transplante". A falta de transparência na divulgação dos dados, de acordo com a Josely Pontes, levou a situação atual em que o MG Transplantes estaria negando a entrega à Prefeitura de Belo Horizonte a listagem com a fila de candidatos a transplantes.

Hospital das Clínicas volta a inscrever pessoas para transplantes

O diretor do Complexo MG Transplantes, Charles Simão Filho, reconheceu alguns problemas apontados pela promotora, mas informou que providências já estavam sendo tomadas. Segundo ele, já foi criada uma "comissão de alto nível" com integrantes do órgão, do Hospital das Clínicas e das Secretarias de Saúde do Estado e de Belo Horizonte, para buscar soluções. A primeira vitória da comissão, segundo ele, foi fazer com que o Hospital das Clínicas voltasse a inscrever pessoas para transplantes, o que não estava sendo feito em função da insuficiência de equipes transplantadoras. A informação foi corroborada pela diretora desse hospital, Tânia Mara Assis Lima, que acrescentou como dificuldade da instituição a baixa remuneração dos profissionais das equipes de transplante.

Sobre a extensa fila citada pela promotora, Charles Filho explicou que o critério de atendimento a transplantes não é cronológico. O único transplante que segue ordem de inscrição é o de córnea. Para transplantar rim, o fator decisivo é a compatibilidade; já para fígado, a gravidade do quadro do paciente, informou ele. Complementando a informação, Eliana Márcia Peixoto, da Comissão de Nefrologia e Transplantes da PBH, declarou que uma mudança recente permitiu uma maior qualificação dos transplantes. "Em muitos casos, a pessoa põe o nome na fila, mas o transplante não é o melhor tratamento", disse. Nessa mesma linha, a médica do MG Transplantes, Aparecida Maria de Paula, exemplificou com a lista de espera de rim, a seu ver superestimada, e qualificou o tempo de espera para transplante desse órgão como "insignificante".

Quanto à falta de avaliação e controles enfatizada pela promotora, o gestor disse que já está sendo implantado em Minas, pelo Ministério da Saúde, o Sistema Nacional de Transplantes, o que deve ser concluído até abril de 2010.

Charles Filho reconheceu que os investimentos no setor estão mesmo aquém das necessidades do Estado. "Só temos uma equipe em Minas para transplante de rins", lamentou, citando dados de transplantes no primeiro semestre deste ano: foram captados 70 fígados e feitos 30 transplantes para uma fila de cerca de 50 pessoas. Ele defendeu o aumento do número de equipes transplantadoras e da remuneração dos membros dessas equipes. Também sugeriu promover a interiorização da área de transplantes. Atualmente, só os Hospitais das Clínicas e Felício Rocho estão na rede do MG Transplantes.

Questionado por Durval sobre o problema apontado no Felício Rocho pela promotora, Charles Filho disse que foi um problema ocorrido em 2008, quando em 200 transplantes ocorreram 75 mortes. Esse fato levou à suspensão dessas cirurgias no hospital à época, o que já foi revertido, segundo ele, citando dados de 2009: nove transplantes de pâncreas, com sobrevida superior a 90% e transplantes renais com sobrevida de 95%.

Comissão aprova diversos requerimentos

Ainda na reunião, foram aprovados requerimentos dos seguintes deputados: Célio Moreira (PSDB), solicitando audiência pública para discutir situação dos assentamentos em Barra do Guaicuí, distrito de Várzea da Palma; Carlin Moura (PCdoB) e Durval Ângelo, em que requerem a participação da comissão no I Congresso Brasileiro da Primeira Infância e na I Semana Estadual de Vivência em Valores Humanos e Cultura da Paz, em Uberaba; Durval Ângelo, 13 requerimentos solicitando: envio à Polícia Militar, ao MP e à Ademg de pedido de providências, para que seja adotado, no Plano de Ação de Segurança em Eventos Esportivos, o procedimento de retenção da torcida visitante por uma hora, após o término da partida, impedindo transtornos decorrentes da saída conjunta das duas torcidas presentes; envio à PBH, à Ademg e aos presidentes de Atlético, Cruzeiro e América, de pedido de providências com vistas à fiscalização do consumo e da venda de bebidas alcoólicas no estacionamento do Mineirão, em dias de jogos; envio de notas taquigráficas de reunião da comissão, em 16/10, às Corregedorias da PMMG e da Polícia Civil, à Procuradoria de Defesa do Consumidor, à Ouvidoria de Polícia, ao Delegado Hélcio Sá Bernardes, (da 16ª Delegacia da Pampulha) e ao responsável pelo inquérito policial do caso de Douglas Henrique Marinho de Oliveira, de 13 anos, que ficou cego em incidente ocorrido na partida entre Cruzeiro e Palmeiras, em 23/9, no Mineirão; envio de pedido de providências ao presidente da BHTrans, para que verifique a possibilidade de fornecimento de vales-transportes ou passe-livre ao menino Douglas e um acompanhante; envio de manifestação de aplauso ao jornal "O Tempo" e à clínica do oftalmologista Ricardo Guimarães, que prestaram assistência ao garoto; envio de manifestação de aplauso ao juiz Octávio Almeida Melo, pela sentença que condenou o Estado de Minas Gerais a pagar reparação por danos morais a José Mauro da Silva, que alegou ter sido agredido, em 4/2/07, por policiais militares na partida de futebol entre Vila Nova e Cruzeiro, e que seja dada ciência dessa manifestação ao TJMG e à imprensa; e requisição ao delegado Hélcio Sá Bernardes, da 16ª Delegacia Distrital da Pampulha, para que a comissão participe da reconstituição do incidente que cegou o garoto Douglas; envio de notas taquigráficas da reunião a Márcia de Fátima Amaral Guimarães e a Fernando Campos Guimarães, advogados da família do garoto Douglas; realização de audiências públicas para discutir: Conselhos Tutelares e seu papel na defesa dos direitos humanos, repasse de recurso ao Programa de Proteção de Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), direitos humanos das pessoas com sofrimento mental e o papel da sociedade e do MP, problemas enfrentados pelos membros da Associação de Proteção Entre Amigos dos Transportadores de Cargas de Minas Gerais, situação dos trabalhadores das indústrias extrativas vegetal e mineral no Estado (tendo em vista a alta incidência de silicose e acidentes do trabalho).

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; Fábio Avelar (PSC) e Getúlio Neiva (PMDB). Além dos citados, participaram também da reunião: o diretor da Subsecretaria de Estado de Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), Reinaldo Silva Pimentel Santos; e o vice-diretor do Hospital das Clínicas, Antônio Ribeiro.

 

 

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