Defesa social em Minas é criticada em ciclo de debates

Críticas ao sistema de defesa social de Minas marcaram a primeira mesa-redonda da tarde desta terça-feira (6/10/09) d...

06/10/2009 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Defesa social em Minas é criticada em ciclo de debates

Críticas ao sistema de defesa social de Minas marcaram a primeira mesa-redonda da tarde desta terça-feira (6/10/09) do Ciclo de Debates Alternativas à Privação de Liberdade - Outras formas de promover justiça. O evento é realizado no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e tem como objetivo discutir a crise do sistema penitenciário brasileiro e propor novas formas de punição a criminosos. A mesa-redonda teve como tema "Olhares multidisciplinares sobre as alternativas ao modelo prisional", e contou com a participação de especialistas em direito, psicologia e serviço social.

O vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia, Rodrigo Torres Oliveira, fez uma breve descrição da chamada ideologia de defesa social, com raízes no século XIX, para criticar sua aplicação na área de segurança pública do Estado. Ele deu ênfase à inclusão do sistema prisional no programa de parcerias público-privadas (PPPs) do Governo Estadual. "Não é possível que a Secretaria de Defesa Social nos imponha a privatização dos presídios mineiros. É a prisão transformada em negócio? O preso, em mercadoria?", questionou Oliveira. Segundo ele, qualquer sistema de defesa social precisa eleger inimigos internos, e no Brasil estes costumam ser os mais pobres.

Para superar esse modelo, Oliveira propôs a redução da população carcerária mineira de cerca de 40 mil para 20 mil presos, por meio da adoção de penas alternativas, da ampliação da assistência jurídica e da criação de novas associações de proteção e assistência aos condenados (Apacs), que se pautam pelo trabalho de ressocialização.

O jurista e professor Virgílio de Mattos foi além e propôs o fim da própria ideia de aprisionamento. "Temos de lutar pela minimização do poder punitivo do Estado como primeiro passo, e não como solução", declarou. Para ele, o combate às prisões está no mesmo nível do combate aos manicômios, e ambos significam uma luta contra o preconceito em relação aos excluídos da sociedade.

Mattos incluiu o sistema carcerário mineiro entre os piores do País, e disse que o Governo do Estado ignora a Lei de Execuções Penais, além de promover segregação social. O jurista e professor chegou a propor "anistia ampla, geral e irrestrita" aos presos do Estado como caminho para superar o atual modelo prisional. Ele também defendeu o crescimento das Apacs, a ampliação da assistência jurídica aos condenados e o investimento em políticas públicas, sobretudo de educação.

Novo modelo - O professor João Batista Moreira Pinto, da Escola Superior Dom Hélder Câmara, propôs maior articulação entre os diversos agentes que defendem alternativas ao modelo convencional de punição a criminosos. Só assim, segundo ele, é possível construir efetivamente um novo modelo, que expresse visão de mundo diferente da que ainda predomina na área de segurança pública. "A manutenção da ordem, do poder nas mãos de alguns ou de uma classe exigem o aprisionamento. De quem? Daqueles que não respeitam a ordem estabelecida", disse o professor.

A assistente jurídica do Conselho Regional de Serviço Social e professora da PUC Minas, Glays de Fátima Silva Guerra, afirmou que o sistema carcerário deveria desenvolver um trabalho pedagógico, de ressocialização do indivíduo, e não piorar a situação do condenado. "Ao modelo carcerário se aglutinam as mais diversas formas de sofrimento, de humilhação, de crueldade, de violação de direitos e de desrespeito ao preso e sua família", disse. Por isso, ela destacou a importância das medidas alternativas, entre elas a prestação de serviços à comunidade, que em sua opinião "não pode ser vislumbrada como 'pena', uma vez que o objetivo é o trabalho pedagógico". Glays defendeu também a capacitação dos profissionais que atuam na aplicação dessas medidas.

A mesa-redonda teve mediação da vice-presidente da Comissão de Segurança Pública da ALMG, deputada Maria Tereza Lara (PT), e a participação do presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Durval Ângelo (PT), autor do requerimento pela realização do Ciclo de Debates Alternativas à Privação de Liberdade. As discussões prosseguiram na tarde desta terça-feira (6), no Plenário, com o debate "Perspectivas na efetivação de modelos alternativos de justiça penal".

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