Cemig nega falhas e culpa tempestade por falta de
energia
Representantes da Cemig negaram a deputados, na
manhã desta terça-feira (6/10/09), que falhas no atendimento ou
falta de planejamento tenham gerado interrupção prolongada no
fornecimento de energia para cerca de 500 mil moradores da Região
Metropolitana de Belo Horizonte em 21 de setembro. Os motivos para a
interrupção, de acordo com a empresa, teriam sido os danos à rede
causados por tempestades com índices pluviométricos bem acima da
média, naquele e no dia seguinte, associadas a um grande número de
descargas elétricas e à alta velocidade do vento. Para o Sindicato
dos Eletricitários, contudo, as causas estariam na terceirização de
empregados da empresa, deixando os serviços de reparos e manutenção
nas mãos de pessoal sem o adequado preparo.
As explicações da companhia e as críticas dos
empregados foram apresentadas em reunião da Comissão de Defesa do
Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais, agendada para tratar da demora para o retorno do serviço na
Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) em situações de
interrupções.
Segundo cobrou o deputado Délio Malheiros (PV),
vice-presidente da comissão e autor do pedido da reunião, a situação
ocorrida em setembro pôs em dúvida compromisso assumido pela Cemig
em outubro do ano passado, quando a empresa se comprometeu a rever
sua estrutura para diminuir o tempo de restabelecimento do serviço.
Na ocasião, frisou o deputado, foi realizada audiência na comissão
sobre o mesmo assunto, diante de problemas semelhantes ocorridos em
30 de agosto de 2008.
"Agora, com a primeira chuva forte do ano,
infelizmente o problema volta à tona, com casos de consumidores que
ficaram mais de 30 horas sem energia, sem falar em aparelhos que
queimam nessas situações, alguns casos inclusive de equipamentos
médicos, e produtos perecíveis que se deterioram em estabelecimentos
comerciais", expôs o deputado.
Empresa nega demora e diz que tempo de espera
caiu
O gerente do Centro Integrado de Operação da
Distribuição da Cemig, Danilo Gusmão Araújo, disse à comissão que o
quadro em setembro deste ano na RMBH se mostrou pior do que em
agosto do ano passado. Segundo ele, foram 16 horas de forte
tempestade em 21 e 22 de setembro, com registro de 98 mm de chuvas
em apenas seis horas, volume que seria muito superior à média para
os dois dias e quase quatro vezes maior do que os 25 mm registrados
nas chuvas de 30 de agosto. Ventos a 84 km/hora, contra 77 km/hora
na outra ocasião, e 270 descargas atmosféricas, o dobro do
verificado em agosto do ano passado, agravaram a situação
climatológica e os danos à rede provocados por quedas de árvores,
postes e edificações.
"Há ocorrências mais demoradas. Não se recupera um
poste, por exemplo, em apenas quatro horas", frisou Araújo,
lembrando que a chuva de 21 de setembro teve seu pico de clientes
sem luz às 18 horas, com novas tempestades pela madrugada do dia 22,
situação em que, pela condição noturna sob chuva forte e ventos
intensos, as equipes tiveram que interromper o trabalho em alguns
momentos por questões de segurança. "O que carateriza a severidade
nesses momentos são os ventos e as descargas", explicou.
Ainda assim, o representante da Cemig informou que
o tempo médio de espera pela retomada do serviço caiu de 5,9 horas
em agosto de 2008 para 3,6 horas em setembro deste ano, o que ele
creditou ao planejamento preparado pela empresa para o período
2009-2010. O plano de ação, disse, inclui o funcionamento de 480
troncos para atendimento eletrônico e a ampliação dos computadores
da central de atendimento, que teriam sido quadruplicados.
Ele exibiu, ainda, uma série de quadros
comparativos e mostrou que entre 21 e 22 do mês passado, 530
profissionais atuaram nas equipes de reparo e manutenção, além de
mais 80, entre técnicos e engenheiros do quadro próprio da empresa,
que atuaram na central de atendimentos. Foram recebidos 90 mil
chamados e acionados 503 postos de atendimento naqueles dias.
Segundo Araújo, a empresa investiu nos últimos 12
meses R$ 59 milhões na malha energética metropolitana, dos quais R$
46 milhões no aumento da capacidade de subestações e R$ 13 milhões
em manutenção e reforma da rede de distribuição.
Sindicato vê terceirização como maior
responsável
Para o coordenador do Sindicato dos Eletricitários
de Minas Gerais (Sindieletro-MG), Wilian Vagner Moreira, as fortes
chuvas têm peso importante na interrupção do serviço de energia e na
demora do retorno, mas não são a única causa. "Há outras questões
que interferem, mas que a empresa não tem discutido, como a
terceirização do quadro de pessoal".
Segundo o sindicalista, a Cemig, que já teve 18 mil
empregados em seu quadro efetivo, está hoje com 9.800, dos quais
1.500 serão dispensados até setembro de 2010. "A empresa está
atuando na contramão dos aumentos das descargas elétricas", comparou
Moreira, para quem o serviço, ao ser repassado a empreiteiras, fica
comprometido. Além disso, para Wilian Vagner, a Cemig atende apenas
aos interesses dos acionistas por dividendos, uma vez que a empresa
é de economia mista.
Deputados cobram reparação de danos e empresa diz
que avalia caso a caso
O deputado Weliton Prado (PT) cobrou mais
investimentos na melhoria dos serviços da Cemig. "Há um caos já
rotineiro em Belo Horizonte por falta de pessoal e de recursos para
garantir a manutenção da rede elétrica, e no interior há produtores
perdendo leite, o que é uma questão muito séria", criticou.
Já o deputado Domingos Sávio (PSDB) ponderou que a
Cemig é das poucas companhias públicas de energia existentes no
País, e que esse patrimônio precisa ser preservado. Considerando
oportuno o debate, uma vez que dezenas de hospitais, milhares de
residências, produtores e indústrias ficaram sem energia, disse,
porém, que os números indicam que a Cemig é uma grande empresa. "Há
intempéries que fogem ao controle humano e cuja evolução não depende
apenas da capacidade gerencial da empresa".
Délio Malheiros cobrou da empresa o ressarcimento a
consumidores por danos sofridos pela falta de energia. "A Cemig tem
sua importância, mas não se pode perder o poder de crítica e apontar
que ela deve melhorar, porque o consumidor residencial paga em Minas
uma das tarifas de energia mais caras do mundo", frisou. O deputado
lembrou que as previsões já indicam, pela frente, a ocorrência de
tempestades cada vez mais intensas em períodos concentrados,
exigindo o aumento de investimentos por parte da empresa.
Os representantes da Cemig disseram que, para os
próximos cinco anos, os investimentos da empresa em melhoria do
sistema elétrico e extensão de rede são da ordem de R$ 3,2 bilhões,
segundo eles volume superior ao de outras empresas de energia do
País. Quanto ao ressarcimento de prejuízos, explicaram que a questão
é regulamentada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e
que a Cemig tem condições de mapear e auditar todos os pedidos de
reparação de prejuízos em casos de danos em equipamentos. Quanto a
possíveis danos envolvendo perdas de produção, disseram que esses
não são previstos pela Aneel, mas que todos os casos são avaliados
pela empresa.
Requerimentos - Foram
aprovados pela comissão dois requerimentos do deputado Délio
Malheiros. Um deles para que seja encaminhado à empresa Energisa
pedido de informações sobre a existência, ou a possibilidade da
criação, de um plano preventivo a ser adotado para o período
chuvoso, com o objetivo de se evitar cortes no fornecimento de
energia em Além Paraíba e região. O segundo, para reiterar pedido de
providências junto ao presidente da Anatel visando reformular a
formatação das faturas de cobrança pelos serviços de
telecomunicações e de energia elétrica, para que não conste nas
faturas o número do CPF dos consumidores.
Presenças - Deputados
Adalclever Lopes (PMDB), presidente; Délio Malheiros (PV),
vice-presidente; Lafayette de Andrada (PSDB), Domingos Sávio (PSDB)
e Weliton Prado (PT). Também estiveram presentes Márcio Baumgratz
Delgado, superintendente de Operação da Distribuição da Cemig, e
Mauro Marinho Campos, gerente da Central de Atendimentos da
Cemig.
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