Redes de Saúde e Paz unem esforços para enfrentar
violência
Para a professora da UFMG Elza Machado de Melo, é
impossível abordar a questão da violência sem unir todas as forças
ligadas à segurança pública. Ela participou de reunião da Comissão
de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta
terça-feira (6/10/09), para apresentar o projeto Redes de Saúde e
Paz.
A reunião foi solicitada pela deputada Maria Tereza
Lara (PT), que enfatizou a necessidade, já tratada na I Conferência
Nacional de Segurança Pública, de que a segurança seja tratada como
política de Estado e não de governo. Para ela, a violência só pode
ser superada com prevenção, e para isso é fundamental o envolvimento
da sociedade civil.
No mesmo sentido, o deputado Sargento Rodrigues
(PDT) acredita que os inúmeros debates travados no âmbito da
comissão mostraram sempre a necessidade de aproximação com a
sociedade. Ele também acredita que a participação do meio acadêmico
é fundamental, porque possibilita o aprofundamento das discussões.
"Soluções imediatistas não funcionam quando o assunto é segurança
pública", argumentou.
A abordagem dos parlamentares coincide com o
trabalho das Redes de Saúde e Paz, que apostam na associação de
esforços e saberes para o enfrentamento da criminalidade e para a
construção da cultura da paz. A professora Elza de Melo, que também
coordena o Núcleo de Promoção Saúde e Paz, apresentou dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS) que estimam que 1,5 milhão de
mortes por violência ocorrem por ano em todo o mundo. São 16 milhões
de internações pela mesma causa.
No Brasil, em 15 anos, de 1990 a 2005, morreram 650
mil pessoas por homicídio, mais de 100 mil por suicídio e quase 500
mil por acidente de trânsito. Ela questionou o termo "acidentes",
lembrando que os maiores responsáveis pelas mortes ocorridas no
trânsito são o descumprimento de normas e o uso de álcool e
drogas.
"Não há nada que mate mais que isso; nenhuma
epidemia mata como a violência", concluiu a pesquisadora. Ela
salientou que esses dados, embora alarmantes, escondem os números da
violência doméstica; das agressões leves; daquelas não reveladas
pelo medo, como no caso das vítimas do tráfico de drogas; e também
da violência simbólica, como o bullying (violência entre
crianças). "Ninguém dá conta de enfrentar essa realidade sozinho",
afirmou a professora. Ela argumentou que o crescimento da violência
revela sobretudo a corrosão das relações sociais, com a perda dos
valores, dos sentidos e do respeito pelos outros.
Grupo atua na prevenção dos atos violentos
Elza Machado de Melo avalia que é preciso trabalhar
antes do ato violento, prevenindo sua ocorrência com investimentos
em cidadania, respeito aos direitos e criando espaços de encontro
das pessoas. As Redes de Saúde e Paz buscam a articulação das
experiências que os grupos e instituições possuem para enfrentar a
violência e que, isoladas, não dão conta do problema. A prática e os
conhecimentos de cada ator são analisadas, discutidas pela rede em
oficinas e cursos de capacitação ou aperfeiçoamento. O projeto
trabalha agora para transformar a pós-graduação lato sensu
sobre esse tema em um curso de mestrado da UFMG.
Ao final da exposição, o deputado Rômulo Veneroso
(PV) defendeu o investimento na educação para a prevenção da
violência. "O poder público precisa estar consciente dos
investimentos que devem ser feitos nas bases", argumentou. Ele
também avaliou o impacto do desequilíbrio na distribuição de renda
sobre a violência. "É preciso buscar soluções permanentes",
concluiu, ressaltando a importância de se expandir as Redes de Saúde
e Paz.
Presenças - Deputada Maria
Tereza Lara (PT), que presidiu a reunião; e deputados Rômulo
Veneroso (PV) e Sargento Rodrigues (PDT). Também participaram da
reunião o advogado Maicon Prata, representando a OAB/Betim; a
assessora da prefeitura de Betim, Marilele Lana; e a secretária
executiva da Mesa-SUS-Betim, Elizabete da Silva.
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