Tradicional feira de alimentos de BH pode ser
removida
A feira de alimentação que acontece toda
quarta-feira entre 16 e 22 horas na Rua Araguari, em Belo Horizonte,
poderá ser deslocada para outro local. Para os feirantes, dependendo
dessa nova localização, a mudança pode significar a extinção do
emprego de 17 famílias que oferecem frutas, queijos, biscoitos,
tira-gostos e bebidas a cerca de mil frequentadores, em sua maioria
servidores públicos que trabalham na região. O problema foi
discutido nesta quinta-feira (24/9/09) em audiência pública da
Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais, atendendo a requerimento do deputado Duarte Bechir
(PMN).
A "feirinha", como é conhecida, funciona há cerca
de 16 anos nas imediações da Assembleia e do Ministério Público.
Inicialmente na Rua Coelho de Souza, ela se mudou por determinação
da BHTrans há pouco mais de um ano para o quarteirão da Rua Araguari
que fica entre as ruas Matias Cardoso e Rodrigues Caldas, no bairro
Santo Agostinho. Duarte Bechir informou que a BHTrans quer removê-la
do local por causa do aumento do trânsito provocado pela ligação da
rua com a Avenida Álvares Cabral.
O deputado, ele próprio um frequentador das
barraquinhas, disse que a feirinha é um ponto de encontro para todos
que trabalham e vivem na região. Por formar um público qualificado,
essas pessoas garantem uma renda satisfatória aos feirantes,
afirmou. Por isso, ele rejeitou a idéia de que a feira se mude para
as imediações do Colégio Estadual Central, no bairro de Lourdes, o
que significaria perda significativa na renda dos trabalhadores.
O deputado André Quintão (PT), presidente da
comissão, reforçou as palavras do colega. Ao lamentar a ausência de
representante da BHTrans na reunião, ele disse que a empresa tem
técnicos capacitados para resolver o problema do trânsito sem
prejudicar os feirantes. "A questão dos carros se ajeita, mas e o
lado do ser humano?", questionou. Na próxima reunião, a comissão
deve aprovar um requerimento para visitar a BHTrans e discutir a
questão com a sua diretoria. "Se ela não quis vir aqui, nós iremos
até lá", garantiu o deputado, concluindo que qualquer decisão a
respeito do assunto deverá ser tomada em conjunto com os feirantes,
de forma a não prejudicá-los.
Feirantes questionam intenção da BHTrans
A indignação com a ameaça de remoção foi expressa
pelo representante da comissão de feirantes, Washington Antônio
Gomes. "Não fomos nós que pedimos para ir pra lá (Rua Araguari). Foi
a BHTrans que nos levou. Passamos inclusive por uma fase de testes e
não entendemos por que está acontecendo isso agora", argumentou. Ele
confirmou que a mudança de local, se não for feita com critério,
poderá significar o fim da feirinha.
Representando a Prefeitura de Belo Horizonte, o
secretário municipal adjunto de Abastecimento, Flávio Márcio
Leopoldino Duffles, informou que a BHTrans realmente fez a
solicitação para a liberação da rua. "A intenção não é acabar com a
feira, mas a cidade está crescendo, e aquele corredor de tráfego de
veículos está aumentando", ponderou. Ele garantiu que a prefeitura
pretende encontrar uma solução negociada para que o transtorno
causado aos trabalhadores e usuários seja o menor possível.
O morador da Rua Araguari Roberto Dornas defendeu a
permanência da feirinha em frente à sua casa. Ele relatou a
inexistência de brigas ou discussões acirradas, acrescentando que os
barraqueiros tratam os clientes com muita cordialidade. O único
problema, segundo o morador, é o mau-cheiro provocado pela urina de
alguns frequentadores mal educados que, em vez de utilizarem os
banheiros químicos disponíveis, se aliviam nos muros e postes das
proximidades.
A feirante conhecida como Edna do Tropeiro se
emocionou ao dizer que criou os filhos e agora cria os netos com a
renda obtida a partir de seu trabalho na feirinha. Atualmente com
problemas de saúde, ela afirmou que não poderá fazer seu tratamento
sem o dinheiro obtido com a venda de feijão tropeiro às
quartas-feiras. "A feira é minha vida", disse.
Presenças - Deputados André
Quintão (PT), presidente; e Duarte Bechir (PMN).
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