Comissão ouve denúncia de agressão contra preso em Bicas

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais ouviu, nesta quarta-feira (17/9/09), denúnci...

16/09/2009 - 00:04
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Comissão ouve denúncia de agressão contra preso em Bicas

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais ouviu, nesta quarta-feira (17/9/09), denúncia de agressões contra presos do presídio de Bicas I, em São Joaquim de Bicas (RMBH). Os detentos estariam sendo vítimas de maus tratos da parte de agentes penitenciários durante os procedimentos de revista de celas, segundo Anita Balbi Silva, mãe de Ivan Ronaldo Nápolis Silva, supostamente agredido na prisão.

Segundo dona Anita, durante uma revista feita na cela do filho no semestre passado, teriam sido usadas bombas de efeito moral, cujos estilhaços teriam atingido os olhos dele. "Ele também foi chutado e arrastado algemado, foi esfolado no cimento e depois mantido em isolamento por 20 dias, sofrendo diversas seções de espancamento", denunciou. Segundo ela, a família não foi informada do isolamento e não acionou seu advogado particular.

Anita cobrou a transferência do filho para outra unidade temendo que ele venha a sofrer represálias. "Ele já está sofrendo perseguição e está sendo impedido de tomar banho de sol. Mas está sob a proteção do governo e quero sua segurança", frisou ela.

Revista íntima - As defensoras públicas Marina Lage e Maria Valéria da Silveira também denunciaram abusos nas revistas de visitantes dos presídios. De acordo com Marina, mulheres, idosas e mesmo crianças ficam nuas e são examinadas em posições ginecológicas e também de outras formas, segundo ela "vexatórias", sem qualquer justificativa.

"Isso é o que mais nos preocupa hoje no sistema prisional do Estado", disse Marina. Ela frisou que a Defensoria reconhece a importância da segurança nos presídios, com o devido cerco à entrada de drogas e armas. "Mas os limites estão na dignidade humana e nos parâmetros legais que vêm sendo afrontados", denunciou ela, que visitou Bicas I nesta terça (16).

No entanto, segundo as duas defensoras, apesar de problemas como a revista íntima, o presídio de São Joaquim de Bicas está entre os que mais apresentam avanços no esforço do Estado para modernizar o sistema prisional. Elas citaram como exemplo a recente aquisição de aparelho de raio-X para vistoria de última geração. O equipamento tem sido usado para a revista de alimentos e outros itens enviados por parentes aos presos e, no entendimento das defensoras, deveria ser usado também para a revista dos visitantes, evitando constrangimentos.

Subsecretário rebate acusações

O subsecretário de Estado de Administração Prisional, Genilson Ribeiro Zeferino, negou as denúncias. Segundo ele, as revistas internas no sistema prisional do Estado são feitas dentro das normas, sem o uso de arma letal ou de violência. Contudo, diante das acusações feitas por Anita Balbi Silva, o subsecretário afirmou que estava "determinando uma apuração mais detalhada do caso".

O subsecretário sugeriu acompanhá-la à prisão, na companhia de defensores públicos, para que ela atestasse a condição do filho. "Posso garantir que o sistema garante a segurança dele e de 35 mil presos sob responsabilidade do Estado", disse. O diretor do presídio de São Joaquim de Bicas, Ricardo Helbert dos Santos Pereira, também negou as denúncias. Ele disse que o preso Ivan Ronaldo Nápolis Silva "é de boa conduta" e que nenhum detento ou visitante tem tratamento diferenciado na unidade.

Genilson Zeferino divergiu dos números que atestam superlotação em Bicas I. As defensoras públicas Marina Lage e Maria Valéria da Silveira disseram ter verificado que a unidade está abrigando 2.081 presos numa estrutura projetada para receber 820. Os números do subsecretário também apontam a superlotação, embora menor. Ele informou que seriam 1.800 presos para cerca de mil vagas.

Deputado cobra providências

O deputado Vanderlei Miranda (PMDB), que solicitou a realização da audiência, teve aprovado requerimento de sua autoria para que a comissão visite o presídio de São Joaquim de Bicas e verifique suas condições de funcionamento e a situação dos presos. "São denúncias graves de uma mãe, envolvendo tortura do filho na prisão. Se confirmadas, elas lembram o regime militar, o que é inconcebível em pleno século 21", frisou o deputado.

Segundo o deputado Vanderlei Miranda, a denúncia de revista íntima sem justificativa fere a Lei 16.302, de 2006. Ele lembrou que essa lei determina que a vistoria íntima somente pode ser feita com base em situações de grave suspeita, como porte de armas ou drogas, e com autorização expressa do diretor da unidade prisional.

Para o deputado João Leite (PSDB), as denúncias certamente serão bem apuradas. Ele lembrou que o subsecretário Genilson Zeferino tem 12 mil agentes penitenciários sob seu comando, tendo atuação pautada nos direitos fundamentais. Os deputados Carlos Gomes (PT) e Antônio Genaro (PSC) também defenderam uma apuração cuidadosa. Este último, contudo, questionou o fato de as câmeras que monitoram Bicas I terem apenas imagens, sem gravação sonora, conforme informado pelo diretor da unidade.

Requerimentos aprovados

A comissão aprovou requerimentos de audiências públicas, dois deles do presidente, deputado Durval Ângelo (PT). Um é para discutir os efeitos da tortura ontem e hoje, com lançamento de livros sobre o assunto. O segundo, para obter esclarecimentos relativos a mandado judicial de reintegração de posse de imóvel situado no bairro Horto, em Belo Horizonte.

Foram aprovados também requerimentos da comissão para verificar denúncias de perseguição policial que estaria ocorrendo contra Paulo César Ferreira e de retomada das negociações de mutuários com a Caixa Econômica Federal, a partir de reclamações feitas pela escrivã aposentada Margarete Dionísio Branco.

Presenças - Deputados Antônio Genaro (PSC), Vanderlei Miranda (PMDB), Padre João (PT), Carlos Gomes (PT) e João Leite (PSDB). Também participou da reunião o agente governamental da Ouvidoria do Sistema Penitenciário, Camilo Flávio Santos Fonseca.

 

 

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