Igreja Verbo Vivo é acusada de lavagem cerebral e agressões a
alunos
Ex-membros da Igreja Ministério Verbo Vivo, sediada
em São Joaquim e Bicas (Região Metropolitana de Belo Horizonte), e
ex-alunos da escola mantida pela instituição fizeram, nesta
quarta-feira (9/9/09), uma série de denúncias contra seus dirigentes
durante reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia
Legislativa de Minas Gerais. Entre as denúncias estão a de agressões
físicas e psicológicas aos alunos, cárcere privado e até "lavagem
cerebral".
Logo no início da reunião, o presidente da
comissão, deputado Durval Ângelo (PT), esclareceu que os dogmas
religiosos não estavam em discussão, uma vez que o Brasil é um
estado laico. O que interessava na audiência, informou, eram os
supostos crimes cometidos pelos líderes da igreja e dirigentes da
escola. "A liberdade de culto não significa que se possa adotar
práticas que atentem contra o princípio democrático do Direito,
cujos pilares são a cidadania e a dignidade humana", afirmou.
O ex-pastor e ex-professor da Verbo Vivo, Eduardo
Andrade Gonzaga Júnior, se emocionou ao lembrar as verdadeiras
"lavagens cerebrais" que sofreram seus dois filhos, com quem
inclusive não tem contato desde janeiro. Segundo Gonzaga, eles
teriam sido enviados para os Estados Unidos, onde fica a matriz da
Igreja Ministério Verbo Vivo. Porém, o ex-pastor suspeita que ambos
estejam vivendo atualmente na casa de um dos membros da igreja em
São Joaquim de Bicas. Na última conversa telefônica que teve com um
deles, Gonzaga o ouviu dizer que não queria mais ser procurado pelo
pai, relatou.
Diversos ex-alunos da escola se revezaram ao
microfone para relatar episódios de maus-tratos recebidos por
dirigentes da instituição. Eles acusaram nominalmente a diretora
Lílian Freitas dos Santos de bater com a chamada "vara da correção"
nos estudantes, como punição a alguma conduta contrária aos
desígnios da igreja.
Entre os "pecados" listados pelos jovens estão:
andar com as mãos nos bolsos; assistir TV; ouvir rádio; frequentar
cinema, academia ou clube; beber guaraná (porque a cor se assemelha
à da cerveja); participar de festas, mesmo familiares. Além das
agressões físicas, os alunos, segundo eles próprios, chegaram a ser
castigados com detenção nos salões da igreja e submetidos a ameaças
de serem enviados para o inferno. "Perdi minha infância e minha
adolescência", relatou uma ex-aluna que, por conta das agressões
sofridas, ainda hoje sofre de incontinência urinária.
ALMG ouve as partes, mas caso será decidido pela
Justiça
O procurador de Justiça Rogério Greco, que
participou como representante do presidente do Conselho de Pastores,
Jorge Linhares, ponderou que não é a Assembleia Legislativa quem vai
julgar o caso, e sim a Justiça. "A ALMG está prestando um serviço
público muito relevante, mas não compete a ela o julgamento". Ele
afirmou que foi à sede da Igreja Ministério Verbo Vivo há alguns
meses e chegou a ver a filha de Eduardo Andrade Gonzaga Júnior
completamente transtornada, numa atitude de total idolatria em
relação ao pastor que estava com ela na ocasião.
Ao responder ao deputado Antônio Genaro (PSC), que
questionou a ausência de representantes da igreja na reunião,
Rogério Greco disse que a comissão adotou o procedimento correto,
ouvindo primeiro os acusadores para depois dar voz ao acusado.
Trata-se, segundo ele, de uma atitude para a própria segurança do
acusado, que poderá ter conhecimento prévio de todas as denúncias
antes de se pronunciar. Durval Ângelo confirmou que as notas
taquigráficas da reunião serão enviadas o mais depressa possível aos
dirigentes da Verbo Vivo, conforme solicitado pelo deputado
Vanderlei Miranda (PMDB).
Porém, pelo menos um pastor da igreja estava
presente. Marcos Manriques, identificado pelos presentes, foi
acusado de estar anotando os nomes dos depoentes. Ele recusou o
convite de se manifestar e foi embora logo que a reunião acabou.
Outra denúncia feita pelos alunos foi em relação
aos métodos educacionais da escola. Segundo eles, são proibidos
temas como educação sexual, genética e literatura, pois "os
escritores são inspirados no demônio". Além disso, trechos de livros
didáticos são cobertos com tinta preta, pois tratam de assuntos não
tolerados pela igreja.
A diretora da Superintendência de Ensino
Metropolitano Rosângela Leonardo da Silva, que representou a
Secretaria de Estado de Educação na audiência pública, informou que
todos os atos autorizativos para o funcionamento da escola estão
dentro da legalidade, no que diz respeito às normas educacionais.
Ela disse também que a secretaria nunca recebeu notícia de agressão
aos alunos e que nada de anormal foi detectado nas visitas regulares
de fiscalização, mas que a metodologia de fiscalização pode ser
mudada a fim de se detectar irregularidades.
Para o delegado Geraldo de Amaral Toledo Neto,
nenhuma providência será tomada pela polícia no que diz respeito a
crenças religiosas. "Nos interessam as questões ligadas à entrada e
saída de estrangeiros (a igreja é dirigida pelo norte-americano John
David Martin), possível envio de dinheiro para o exterior e tortura
física e psicológica". Ele informou que vai analisar os depoimentos
colhidos na reunião e garantiu que tudo será investigado.
Requerimentos - Um dos dez
requerimentos aprovados na reunião pede que os responsáveis pela
Escola Cristã Verbo Vivo sejam ouvidos em uma outra reunião da
Comissão de Direitos Humanos. Seu autor é o deputado Vanderlei
Miranda. A reunião foi agendada para o dia 17 de setembro, às 9
horas.
Os demais requerimentos aprovados são os
seguintes:
* quatro do deputado Durval Ângelo, solicitando o
encaminhamento de ofícios à Corregedoria da Polícia Militar, à
Corregedoria de Polícia Civil, ao chefe da Polícia Civil e ao
promotor de Justiça de Ipatinga para que sejam tomadas as devidas
providências em relação à denúncia de envolvimento de quatro
policiais militares em prática de tortura de Lenon Eduardo Anacleto,
naquele município.
* Dos deputados Carlin Moura (PCdoB) e Durval
Ângelo, pedindo uma audiência pública conjunta das Comissões de
Direitos Humanos e de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática
para discutir a situação salarial dos profissionais da educação no
município de Ibirité. Na ocasião, os deputados pretendem também
debater denúncias de assédio moral sofridas por dirigentes do
Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais
(Sind-UTE) de Ibirité.
* Três do deputado Sargento Rodrigues (PDT),
solicitando o encaminhamento de ofícios ao Comando-Geral da PMMG
pedindo a remoção do soldado Aílson Ferraz de Brito Júnior de
Itabira para Belo Horizonte e a substituição do tenente-coronel
Evandro Jacques de Mendonça do 26º Batalhão da Polícia Militar de
Itabira; e uma audiência pública para esclarecer supostos abusos de
autoridade praticados contra o soldado Aílson pelo tenente-coronel
Evandro e pelo tenente Valter dos Santos. Para isso, o deputado pede
que os oficiais sejam convocados, e não convidados, uma vez que não
compareceram em reunião anterior na qual esse assunto foi
tratado.
* Do deputado Lafayette de Andrada (PSDB), pedindo
o encaminhamento de pedido de informação ao procurador-geral da
Justiça a respeito das providências tomadas pela promotoria
especializada em Defesa da Saúde da comarca de Barbacena em relação
à nomeação do vice-prefeito daquela cidade para o cargo de
diretor-geral do Demasp, autarquia que controla a saúde no
município.
Na fase do "pinga-fogo", Keli Divina Oliveira
Carvalho acusou o ex-namorado, o agente de polícia Franklin Pernes
Vieira, de fazer ameaças e cometer atentados contra ela e sua
família. O acusado negou todas as acusações e disse que Keli
inventou essas histórias por não se conformar com o fim do
relacionamento. Ambos apresentaram documentos sustentando suas
versões. O deputado Durval Ângelo disse que vai repassar o material
para a Corregedoria da Polícia Civil.
Presenças - Deputados
Durval Ângelo (PT), presidente; Vanderlei Miranda (PMDB), Sargento
Rodrigues (PDT), Lafayette de Andrada (PSDB), Inácio Franco (PV),
Antônio Genaro (PSC), Braulio Braz (PTB), Délio Malheiros (PV),
Célio Moreira (PSDB) e Ronaldo Magalhães (PSDB).
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