Denúncia de lavagem cerebral em seita será tratada em
comissão
A denúncia de que uma seita estaria retirando
crianças da convivência familiar, por meio de doutrinação, será
discutida pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia
Legislativa de Minas Gerais. A audiência pública, requerida pelo
presidente da comissão, deputado Durval Ângelo (PT), será nesta
quarta-feira (9/9/09), às 9 horas, no Auditório. O parlamentar foi
procurado por um casal que, com seus filhos, pertenceu à Igreja
Ministério Verbo Vivo, sediada em São Joaquim de Bicas (Região
Metropolitana de Belo Horizonte). O casal relatou que abandonou a
seita, mas seus filhos - um rapaz e uma moça - continuaram na igreja
e passaram a renegar os pais.
Segundo informações do gabinete parlamentar, um
dossiê encaminhado ao deputado relata que a Igreja Ministério Verbo
Vivo tem em sua sede uma instituição de ensino, a Escola Verbo Vivo,
na qual faz uma "lavagem cerebral" nos alunos. A igreja é liderada,
em Minas, pelo casal John David Martin (cidadão americano) e
Marialva Pinheiro Martin e segue a doutrina de uma pastora
americana, Jane Whaley, líder da Word of Faith Fellowship. De acordo
com o dossiê, a igreja tem também uma filial na cidade de São
Paulo.
Dossiê - Ainda de acordo
com o dossiê, cerca de 130 crianças, adolescentes e jovens estudam
na escola Verbo Vivo, sendo que muitos teriam deixado suas famílias
para morar na igreja. Lá, eles seriam submetidos a cultos diários e
o ensino seria totalmente deficitário. Os alunos não têm livros de
português, não podem ler obras literárias, não fazem pesquisa, nem
usam a internet, pois segundo os dirigentes, essas seriam formas de
contato com o pecado. Além disso, os estudantes também não podem
usar o celular, não têm intervalo entre as aulas, fazendo lanche na
própria sala, sob a supervisão de um professor, e não podem
conversar entre si. A repressão sexual é total e os pais são
impedidos de ver os filhos, principalmente se os primeiros não são
membros da igreja.
O documento dá conta também de que os alunos são
severamente reprimidos e obrigados a contar seus "pensamentos
impuros", sofrendo humilhações diversas na frente de todos. Os que
"não dão o coração" são submetidos a um "tratamento" ou "disciplina"
e obrigados a ficar por dias e até semanas sozinhos, isolados em uma
sala, impedidos de todas as atividades e podendo somente assistir
aos cultos pela televisão. Outra denúncia é de que jovens da seita
são levados irregularmente para os Estados Unidos, onde trabalhariam
para fiéis da matriz americana ou na própria igreja, por até 15
horas, sem receberem salários.
Convidados - Várias
testemunhas participarão da audiência pública da comissão, entre
elas, pais de alunos da Verbo Vivo que deixaram suas famílias,
ex-alunos e ex-membros da igreja. Foram também convidados: o
coordenador do Conselho Tutelar de Betim, Alessandro Augusto Leite;
a presidente do Conselho Tutelar de São Joaquim de Bicas, Maíze
Cristine Gouveia de Andrade; o prefeito de São Joaquim de Bicas,
Antônio Carlos Resende; o promotor Flávio Silva Júnior, da comarca
de Ibirité; a promotora de Justiça e coordenadora do Centro de Apoio
Operacional (CAO) da Infância e da Juventude, Andrea Mismotto
Carelli; o superintendente regional da Polícia Federal em Minas
Gerais, Jerry Antunes de Oliveira; o delegado de Polícia Civil
Geraldo de Amaral Toledo Neto; o promotor de Justiça da Comarca de
Igarapé, Flávio Silva Júnior; além das testemunhas Jorge Luiz Coelho
Linhares e Eduardo Andrade Gonzaga Júnior.
Conforme informações do gabinete de Durval Ângelo,
vários órgãos representados já teriam recebido denúncias da ação da
Igreja Ministério do Verbo Vivo.
|