Estudantes alertam para a desinformação quanto à nova gripe

Pais, alunos e professores do Colégio Marista Dom Silvério cobraram, durante audiência pública da Comissão de Direito...

02/09/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Estudantes alertam para a desinformação quanto à nova gripe

Pais, alunos e professores do Colégio Marista Dom Silvério cobraram, durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, realizada nesta quarta-feira (2/9/09), uma maior divulgação sobre a nova gripe no Estado. A reunião, que também recebeu representantes da direção do colégio e da Secretária Municipal de Saúde, discutiu os constrangimentos e preconceitos enfrentados pelos estudantes e educadores em decorrência da suspensão das aulas determinada pelo surgimento de casos de gripe na instituição, e a proibição da realização da festa do Congado de Oliveira, pela prefeitura daquela cidade, sob a alegação de risco de transmissão da doença.

O diretor do Marista, Roberto Valentim da Silva Gameiro, disse que a suspensão das aulas foi um ato de proteção e defesa da saúde dos educadores, alunos e seus familiares. Segundo ele, em decorrência disso, foram registrados casos de preconceito por parte de empresas prestadores de serviço da escola, que se recusaram a frequentar o estabelecimento, assim como por parte das pessoas que isolam aqueles que usam o uniforme da escola. "Até um taxista se negou a vir buscar uma pessoa que estava no Marista", afirmou.

O aluno do 2o ano do Ensino Médio, Manir Elias Donato Neto, considerou um ato de coragem da escola, que suspendeu as aulas, mas manteve as atividades estudantis, por meio do envio de material e exercícios pela internet a todos os alunos. Para ele, o enfrentamento da doença deve ser fruto de uma parceria entre o conhecimento científico, o bom senso, a solidariedade e, principalmente, a correta divulgação de informações. Ele lembrou que, apesar do preconceito que vem sendo sofrido pelos professores e estudantes, o colégio primou pelo maior bem da sociedade, que é a saúde pública.

O pai de aluno do colégio, Eduardo Gomes Braga Júnior, lembrou que a constante divulgação da informações sobre a doença pela escola deu tranquilidade aos pais. Segundo ele, quando as aulas foram suspensas, houve grande preocupação e até medo, tendo em vista as situações observadas em outros países. Ele considerou a decisão de suspender as aulas acertada, e acredita que o fato mudou o comportamento dos seus filhos, que se tornaram mais conscientes para a necessidade de hábitos de higiene e saúde adequados. "A verdadeira educação se dá pela parceria entre pais e escola, e isso foi feito. Estamos satisfeitos e apoiamos a instituição", finalizou.

Educador ressalta o lado bom da epidemia de gripe A

Para o professor de Biologia do 6o ano do Ensino Fundamental e 1o ano do Ensino Médio, Vinícius Trindade Lopes de Moura, apesar do impacto negativo da epidemia, houve uma mudança de consciência. Para ele, a partir do problema, as pessoas começaram a levar em consideração a importância da higiene, não somente como fator de prevenção contra o vírus H1N1, mas também para outras doenças. O educador alertou, no entanto, para o cuidado com o preconceito. Ele entende que o isolamento domiciliar deve ser entendido como um ato de solidariedade ao próximo e não como discriminação. "Em tempos de gripe suína, precisamos de pesquisa científica, informação e respeito ao outro", colocou.

O psicólogo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Marcelo Ricardo Pereira, lembrou que o preconceito se aprende em casa e, aliado à insegurança e ausência do poder público, torna-se um fenômeno social ainda mais forte. Ele acredita que o sensacionalismo da imprensa e o sistema de saúde inoperante também têm contribuído para o aumento do medo e da discriminação dos doentes.

Estigma - Para a médica e gerente de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Lúcia Maria Miana Mattos Paixão, há uma preocupação do poder público para que as informações cheguem à população. Segundo ela, o estigma vem da má divulgação sobre a doença. Ela fez uma apresentação aos convidados e presentes sobre prevenção, transmissão e tratamento da nova gripe, e alertou para a importância da participação da sociedade no combate ao problema. Em sua fala, atualizou os números da doença, que apontam 557 mortes pela gripe no País. Em Minas Gerais, são 239 casos confirmados e 21 óbitos. Em Belo Horizonte, foram registrados 149 casos, com quatro mortes confirmadas. De acordo com ela, a atitude do Colégio Marista Dom Silvério deve ser usada como exemplo de coerência e cidadania.

Congadeiros de Oliveira denunciam preconceito contra cultura negra

Com a justificativa de suspensão dos eventos e festividades que envolvem grandes aglomerações de pessoas, a Prefeitura Municipal de Oliveira (Centro-oeste) adiou, por tempo indeterminado a festa de Nossa Senhora do Rosário, conhecida também como Festa do Congado naquela cidade. Para a capitã-mor de Moçambique, Pedrina Lourdes dos Santos, a suspensão do evento religioso, que existe há mais de 200 anos, e acontece em Oliveira sempre nos meses de setembro, demonstra discriminação contra a cultura negra, tendo em vista que os demais cultos não foram proibidos no município.

Segundo ela, a comissão de enfrentamento da crise da prefeitura afirmou que não há previsão de autorização para a festa, que pode até nem acontecer este ano. "O prefeito ameaçou convocar até o Exército para impedir a realização do evento, mesmo que seja preciso fazer uso da força", salientou. De acordo com ela, a despeito das ameaças a festa irá acontecer. "Estamos sendo vítimas de preconceito e discriminação. O Congado é uma manifestação cultural e religiosa como qualquer outra, mas foi a única a ser proibida", concluiu. O frei Francisco Van Der Poel, conhecido como frei Chico, reforçou as palavras de Pedrina Lourdes dos Santos, e pediu às autoridades que haja coerência e dignidade, uma vez que a festa de Nossa Senhora do Rosário representa a afirmação da identidade da cultura negra no Brasil.

Providências - O deputado Durval Ângelo afirmou que serão enviadas cópias da transmissão da reunião pela TV Assembleia às escolas do interior do Estado; solicitado à Defensoria Geral do Estado o pedido para que entre com ação judicial com pedido de liminar que permita a realização da festa; pedido ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos (CAO-DH), para que também entre com ação judicial contra o ato da prefeitura de Oliveira; encaminhadas as notas taquigráficas e pedidos de providências à Secretaria de Estado de Saúde sobre o problema; além de solicitação para o Comando Geral da Polícia Militar, para que, ao invés de repressão, haja proteção dos congadeiros durante a festa.

Requerimentos - Foram aprovados ainda sete requerimentos durante a reunião, sendo dois que dispensam a apreciação do Plenário da Assembleia. O deputado Durval Ângelo solicitou a realização de visita ao presidente do Ipsemg, Antônio Caram, para solicitar esclarecimentos sobre o cancelamento da pensão do servidor Gilson Pereira; pediu também uma visita da comissão à Associação de Pais e Amigos de Pessoas Especiais (Apape), com o intuito de conhecer o trabalho desenvolvido pela entidade; a realização de audiência pública para apurar as denúncias de maus tratos e lavagem cerebral a crianças, alunos da Escola Cristã Ministério Vivo, no município de São Joaquim de Bicas (Centro); e o encaminhamento de manifestação de aplauso ao juiz da cidade de Pouso Alegre (Sul), que determinou a transferência de presos da região. O último requerimento, de autoria do deputado Sargento Rodrigues (PDT), solicitou a realização de audiência pública para esclarecer a abertura de procedimento disciplinar contra o soldado Alfred Ferreira, da 16a Cia. de Polícia Militar, que compareceu a audiência da Comissão de Direitos Humanos e criticou atos irregulares de seus superiores.

Presenças - Deputados Durval Ângelo (PT), presidente; e Vanderlei Miranda (PMDB); a deputada Gláucia Brandão (PPS); a cantora Titane; o cantor Maurício Tizumba; e o diretor de teatro João das Neves; além dos convidados citados na matéria.

 

 

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