Multas e fumódromos dividem opiniões na discussão de lei antifumo

A discussão sobre o Projeto de Lei (PL) 3.035/09, que dispõe sobre a proibição do consumo de produtos derivados do ta...

01/09/2009 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Multas e fumódromos dividem opiniões na discussão de lei antifumo

A discussão sobre o Projeto de Lei (PL) 3.035/09, que dispõe sobre a proibição do consumo de produtos derivados do tabaco em ambientes coletivos fechados, realizada nesta terça-feira (1/9/09) pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, dividiu as opiniões dos participantes. Um dos pontos polêmicos diz respeito à aplicação da multa no caso de descumprimento da futura lei. Deputados e especialistas também discutiram se a responsabilidade pelo pagamento da multa deve recair sobre o dono do estabelecimento ou sobre o fumante.

Outra questão que gerou discussões refere-se à possibilidade de instalação de fumódromos, conforme prevê o texto. Uma das representantes da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), a médica Maria das Graças Rodrigues, foi categórica ao afirmar que os fumódromos, mesmo com exautores de ar, não garantem a preservação da saúde dos não-fumantes.

Segundo a médica, há vários artigos científicos publicados que falam da ineficácia dos fumódromos, por isso o PL 3.035/09 precisa ser aperfeiçoado. Maria das Graças disse que é preciso também garantir a saúde de garçons. Segundo ela, essa é categoria profissional com o maior número de ocorrências de câncer de pulmão por insalubridade do ambiente de trabalho.

O presidente do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Estado de Esporte e Juventude, Aloísio Andrade, também fez uma ressalva ao projeto de lei, no que se refere aos fumódromos. Ele acredita que poucos estabelecimentos têm condições de implementá-los, por inviabilidade financeira.

O deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT), que divide a autoria do PL 3.035/09 com o deputado Gilberto Abramo (PMDB), alegou que a alternativa de instalação de fumódromos foi incluída na proposição para garantir sua constitucionalidade, uma vez que a Lei Federal 9.294, de 1996, já prevê essa possibilidade. O parlamentar alegou que a constitucionalidade do projeto dependia de sua adequação à lei federal. Ele disse, entretanto, que pedirá à Comissão de Saúde que faça uma solicitação junto à Câmara dos Deputados para que a lei seja revista com relação aos fumódromos.

O projeto altera a redação do artigo 7º da Lei Estadual 12.903, de 1998, determinando que nos recintos coletivos fechados, somente poderão ser destinadas à prática de tabagismo áreas isoladas por barreira física, com arejamento suficiente ou equipadas com aparelhos que garantam a exaustão do ar para o ambiente externo, em conformidade com a lei federal.

O parecer de 2º turno do projeto deverá ser apresentado pelo relator, deputado Fahim Sawan (PSDB), na próxima reunião da Comissão de Saúde, prevista para esta quarta-feira (2). Uma vez aprovado o parecer, a matéria pode seguir para votação em Plenário.

Para o deputado Fahim Sawan, o assunto merece ser bem discutido por todos os setores envolvidos, para que a lei tenha aplicabilidade. "Esta reunião é importante para que possamos ter uma lei que possa ser cumprida por todas as autoridades do Estado", disse.

Corrobora com essa posição o deputado Carlos Pimenta (PDT), um dos requerentes da reunião, junto com os deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente da comissão, Doutor Rinaldo (PSB) e Adelmo Carneiro Leão (PT). O parlamentar considerou necessária a realização da audiência pelo fato de o assunto suscitar muita polêmica. Para o deputado Carlos Mosconi, a audiência é uma oportunidade de ampliar a discussão sobre um tema com o qual todo cidadão lida, direta ou indiretamente.

Punição também divide opiniões

Outro ponto que provoca polêmica em relação à proibição do cigarro refere-se à aplicação de multas. O deputado Alencar da Silveira Jr. acredita que a multa deve ter um valor elevado, e que a responsabilidade sobre o cumprimento da lei não deve ser apenas do dono do estabelecimento, mas também do fumante que a descumprir.

Para o assessor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sindhorb), Murilo Cautieiro, o estabelecimento não pode ser responsabilizado por uma atitude do fumante. Para ele, não cabe ao dono do estabelecimento "exercer um poder de polícia", ao impedir que um cliente fume.

Já o assessor jurídico do Colegiado dos Secretários Municipais de Saúde, Tadahiro Tsubouchi, disse que não se trata de transferir poder de polícia ao dono do estabelecimento. Para ele, o fato de o proprietário garantir que a lei seja cumprida nas dependências de seu estabelecimento é um ônus próprio do negócio. Tsubouchi lembrou que, em caso de multa, o dono do estabelecimento tem o direito de ingressar com uma ação regressiva contra o fumante que teria provocado a autuação, que passaria a ser responsável pelo pagamento da multa.

Saúde e liberdade - O embate entre o direito à saúde e a garantia das liberdades individuais, garantidos pela Constituição Federal, foi outro ponto que gerou divisões entre os participantes.

O 2º-secretário da Assembleia, deputado Hely Tarqüínio (PV), disse que o "princípio da razoabilidade em qualquer lei é fundamental", e que é necessário que o direito à liberdade seja garantido. Ele considera o projeto uma boa iniciativa, mas lembrou que a lei não pode desrespeitar os fumantes.

O deputado Adelmo Carneiro Leão disse que não se pode lançar mão do argumento de defesa das liberdades individuais para "justificar o uso de um produto que prejudica outras pessoas", e que a garantia à saúde deve prevalecer nessa questão.

Fumo eleva custos com saúde, dizem especialistas

A presidente da Comissão de Controle do Tabagismo, Alcoolismo e Uso de Drogas da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Adriana Gomes Carneiro, disse que os atuais gastos no tratamento de doenças decorrentes do tabagismo poderiam ser investidos em políticas de educação e conscientização. Em sua opinião, parte desses recursos poderiam ser utilizados no combate ao vício. Segundo Adriana, 80% dos fumantes desejam parar de fumar, mas não conseguem por falta de assistência especializada.

O assessor jurídico do Colegiado dos Secretários Municipais de Saúde de Minas Gerais, Tadahiro Tsubouchi, apresentou dados do relatório feito em 2007 pelo Banco Mundial sobre o tabagismo no Brasil. De acordo com o relatório, de 1996 a 2005 o País gastou cerca de R$ 1,1 bilhão para tratamento de doenças relacionadas ao fumo. Tsubouchi afirmou que esse valor representa 1,6% do orçamento para a saúde pública.

O coordenador do Programa de Pneumologia Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Edilson Correia de Moura, declarou apoio à proposição e defendeu abordagens no sentido de evitar a iniciação ao tabagismo. Ele disse que, se intervenções forem feitas antes que as pessoas adoeçam por causa do cigarro, os gastos em saúde serão sensivelmente reduzidos.

A médica Janaína de Araújo, também da AMMG, falou sobre os malefícios do fumo no sistema circulatório. Ela informou que vários artigos científicos mostram que, em países em que vigora a lei antifumo, houve diminuição de casos de infarto em poucos meses. "Nada teria maior impacto positivo se essa lei vigorasse a partir de amanhã", declarou.

Presenças - Deputados Carlos Mosconi (PSDB), presidente; Carlos Pimenta (PDT), vice; Fahim Sawan (PSDB), Adelmo Carneiro Leão (PT), Hely Tarqüínio (PV) e Alencar da Silveira Jr. (PDT).

 

 

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