Trabalhadores criticam terceirizações na Cemig

A polêmica em torno das terceirizações na Cemig - e as consequências para os trabalhadores e consumidores mineiros - ...

12/08/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Trabalhadores criticam terceirizações na Cemig

A polêmica em torno das terceirizações na Cemig - e as consequências para os trabalhadores e consumidores mineiros - foram o centro das discussões da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais em audiência realizada nesta quarta-feira (12/8/09). Os trabalhadores associam diretamente à terceirização problemas como redução de funcionários próprios, aumento de acidentes fatais e queda na qualidade dos serviços. A empresa se defende alegando questões de mercado, como competitividade e necessidade de atualização tecnológica. Diversos requerimentos foram aprovados para esclarecer pontos da discussão e buscar alternativas para o problema.

Usando dados atribuídos à Fundação Coge - ligada ao setor elétrico brasileiro - o Sindieletro apontou que, em 2008, morreram 13 operários da Cemig, 12 deles terceirizados. O sindicato, que reúne os eletricitários de Minas, afirma ainda que, antes das terceirizações, a média de acidentes fatais na companhia era de uma morte a cada 18 meses. A partir de 1999, o número cresceu, atingindo atualmente a média de uma morte a cada 45 dias. A Cemig, porém, contabiliza quatro acidentes fatais em 2008. Requerimento dos deputados petistas Almir Paraca - autor do requerimento para a audiência - e Weliton Prado solicita à Cemig e ao Sindieletro a lista dos nomes dos trabalhadores terceirizados vítimas de acidentes de trabalho em 2008.

O novo mote para as discussões sobre a gestão da Cemig é um plano de eficiência operacional, em curso na empresa, que prevê o desligamento voluntário de 1.500 empregados. Os sindicatos acusam a empresa de pressionar os trabalhadores com a extinção de postos, que não deixariam alternativa a não ser a transferência para outra cidade. Diversos deputados também receberam e-mails de funcionários preocupados com possíveis mudanças de locais de trabalho. Mas o superintendente de Relacionamento Comercial com Clientes da Cemig, Nelson Fonseca Leite, afirmou repetidas vezes que as transferências serão feitas apenas com a concordância do empregado.

Nesse sentido, a comissão aprovou requerimento de Weliton Prado e Almir Paraca solicitando à Cemig informações sobre o programa de eficiência operacional e uma previsão de corte de pessoal entre 2008 e 2011.

Sindicalistas apontam riscos com a terceirização

De acordo com o coordenador geral do Sindieletro, Wilian Vagner Moreira, a Cemig pagou R$ 8 milhões, sem licitação, a uma empresa de consultoria internacional que recomendou a redução de custo com pessoal e a centralização do atendimento. "A solução apresentada é a terceirização. Mas enquanto o funcionário próprio ganha R$ 1.500,00, o terceirizado tem recebe o mínimo e um adicional por produção, o que é um perigo, porque ele não tem treinamento. Há caso de funcionário dormindo sob ponte para ficar perto do local de trabalho", aponta.

Wilian critica ainda a centralização administrativa da empresa, afirmando que ela aumentará os riscos para os trabalhadores. "Recentemente um trabalhador morreu em Teófilo Otoni porque o poste em que ele trabalhava foi energizado. Com o controle dos serviços centralizado em Belo Horizonte, isso ficará pior", salienta. Marcelo Correia, também do Sindieletro, completou que a qualidade da Cemig, medida pela agência reguladora, a Aneel, já vem declinando. "O objetivo da Cemig é agregar valor aos acionistas. Em cinco anos, ela pagou 40% de seu valor de mercado em dividendos", denunciou. Para ele, a empresa abriu mão de sua função social como estatal.

Os dados do Sindieletro apontam que a empresa tinha 18 mil trabalhadores em 1997, para 3 milhões de consumidores. Agora são pouco mais de 10 mil funcionários para 7 milhões de clientes. Já o presidente do Sindicato dos Eletricitários do Sul de Minas, Everson Alcântara Tardeli, citou como exemplo os prejuízos para Pouso Alegre, onde o fechamento de cem postos de trabalho da Cemig representa uma redução de R$ 500 mil na economia do município. Durante os debates, vários trabalhadores também criticaram a queda na qualidade dos serviços da Cemig, a grande incidência de apagões e os transtornos para os consumidores.

Cemig atribui redução de funcionários à evolução tecnológica

Ao rebater os dados de redução do número de trabalhadores, o superintendente de Recursos Humanos da Cemig, Ricardo Luiz Diniz Torres, afirmou que os números precisam ser analisados em relação à evolução da tecnologia. "Hoje, com a digitalização e automação, vários serviços precisam de menos funcionários. Essa é uma evolução que a Cemig não poderia deixar de ter, sob pena de se perder nesse mercado", afirmou. O superintendente disse ainda que, com a regulação do setor, a saúde financeira da empresa tem que ser mantida de forma mais rígida. Daí a necessidade de adequar custos.

Hoje, lembrou Torres, a Cemig não está só em Minas, compete em um segmento industrial privado e tem que ter a menor tarifa, mantendo a qualidade. O superintendente lembrou ainda que a estatal é a empresa do setor com maior número de consumidores com tarifas subsidiadas, e garantiu que a taxa de mortalidade da companhia caiu quatro vezes nos últimos anos. "A terceirização não é exclusiva da Cemig, e todos os terceirizados recebem treinamento do Senai", afirmou. Nelson Leite, também da Cemig, completou lembrando que a modicidade tarifária tem que ser mantida, mesmo quando a tarifa é reduzida no processo de revisão tarifária, como ocorreu no ano passado.

Leite deu ainda algumas explicações sobre o plano de eficiência operacional. Segundo ele, enquanto alguns processos serão centralizados na companhia, outros serão descentralizados. "Hoje temos postos de atendimento em 128 municípios e passaremos a ter em 774. Tínhamos 80 agentes de relacionamento com o poder público. Agora temos 102", afirmou. Segundo ele, os setores centralizados seriam, por exemplo, financeiro ou contábil.

Legalidade das terceirizações também é discutida

Ao abordar a fiscalização feita pelo Ministério do Trabalho, o representante da Superintendência Regional do Trabalho, Airton Marinho, afirmou que, pela legislação brasileira (CLT), a terceirização é proibida, sobretudo na atividade-fim da empresa. "Às vezes há uma legalização do ponto de vista do FGTS, do INSS etc. Mas a relação é precária", disse. Segundo ele, o Enunciado 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) permite a terceirização apenas para serviços de vigilância, conservação e limpeza. Ação contra a terceirização na Cemig tramita no TST.

O deputado Domingos Sávio (PSDB) questionou a informação dizendo que todos os Poderes e suas empresas têm terceirizados. Para ele, é preciso aguardar uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto à interpretação da CLT. De acordo com informações dos sindicatos e da Cemig, houve decisões de instâncias superiores contrárias à terceirização em Goiás e favoráveis no Ceará. Na mesma linha, Elmiro Nascimento (DEM) questionou a ilegalidade das terceirizações. Para ele, seria impossível atender as metas de universalização da energia elétrica sem recorrer a esse mecanismo.

Domingos Sávio teve aprovado dois requerimentos: pedindo ao STF prioridade no julgamento de ações sobre a legalidade de contratação de terceirizados por companhias elétricas; e solicitando à Cemig que ponha em prática todas as ações possíveis para melhorar as condições de trabalho de seus funcionários e que encaminhe à ALMG um relatório sobre as providências tomadas em relação à meta de acidente zero no trabalho.

A presidente, deputada Rosângela Reis (PV), afirmou que a comissão está empenhada em buscar soluções para os problemas dos acidentes de trabalho e da terceirização, tendo, inclusive, solicitado ao Ministério do Trabalho que recorra ao Judiciário para gerar um posicionamento. Mesmo considerando o debate inconcluso, o deputado Almir Paraca disse confiar que a transferência de trabalhadores pela Cemig não será feita de forma compulsória. Ele também pediu a vigilância dos sindicatos. "A questão é importante não só para os trabalhadores, mas para a sociedade mineira", afirmou.

Já Weliton Prado (PT) voltou a criticar a baixa qualidade dos serviços da Cemig e a pressão sobre trabalhadores para mudança de local de trabalho. Foi aprovado requerimento da deputada Rosângela Reis e dos deputados Célio Moreira (PSDB) e Domingos Sávio para encaminhar à Câmara dos Deputados pedido para agilizar a votação do PL 3.299/08, que modifica fórmula de cálculo da Previdência, extinguindo o fator previdenciário. Rosângela Reis leu correspondência da Aneel justificando ausência na reunião.

Presenças - Deputada Rosângela Reis (PV), presidente; e deputados Elmiro Nascimento (DEM), Almir Paraca (PT), Domingos Sávio (PSDB), Weliton Prado (PT), Antônio Carlos Arantes (PSC), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) e Padre João (PT).

 

 

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