Samu e Bombeiros terão central única de atendimento de
emergência
A adoção de um protocolo único para regular as
ações do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) e do Corpo
de Bombeiros e a implantação de uma central única de atendimento de
chamadas em Belo Horizonte estão entre medidas anunciadas nesta
quarta-feira (15/7/09) por representantes da corporação e dos
governos estadual e municipal. O objetivo é integrar a ação dos dois
serviços, tema debatido em audiência pública na Comissão de
Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
O presidente da comissão e autor do requerimento da
audiência, deputado Délio Malheiros (PV), ressaltou a importância de
que a sociedade compreenda o papel dos dois órgãos e de que haja uma
harmonia nas relações entre eles. O parlamentar disse ainda ser
preciso reconhecer que ambos prestam serviços relevantes à
população, mas questionou se não estaria havendo uma superposição de
funções entre os dois órgãos ou divergências de procedimentos, o que
teria culminado na morte de um bebê de oito meses no mês passado, em
Belo Horizonte.
A secretária adjunta de Saúde de Belo Horizonte,
Susana Maria Moreira Rates, disse, contudo, que os dois órgãos já
trocam informações para o atendimento, mas que medidas de curto e
longo prazo estão sendo definidas para estreitar e institucionalizar
essa integração.
Segundo ela, no prazo de 30 dias, as centrais de
atendimento do Samu e do Corpo de Bombeiros deverão iniciar um
processo de comunicação mais integrado, podendo vir a usar
instrumentos via internet, como Skype, de forma mais sistemática. Em
seis meses, disse ainda, deverá estar implantada uma central única
de atendimento e regulação, que vai receber tanto as chamadas feitas
pela população para o 192 (Samu) como para o 193 (Bombeiros), para
definir qual serviço deverá atender o paciente ou se a presença dos
dois é necessária, como ocorre muitas vezes.
Essa central única de atendimento, explicou a
secretária, também deverá ter um comando unificado, sendo abrigado
num mesmo espaço físico a ser implantado. Ela anunciou, ainda, que o
protocolo único de regulação do atendimento já está em fase de
estudo e elaboração, incluindo uma minuta de convênio entre o Samu e
o Corpo de Bombeiros para ação integrada.
Segundo ela, essa parceria entre os dois órgãos vem
sendo construída há cerca de três meses. Sobre a morte do bebê
ocorrida em junho, ela disse que ao chegar ao local, o Samu
constatou que o paciente já estava em parada cardíaca, chegando o
Corpo de Bombeiros logo em seguida, e que as manobras de
ressucitação teriam sido conduzidas corretamente
Samu ressalta que serviços são
complementares
O coordenador estadual do Samu, Rasível dos Reis
Santos, disse que o óbito é constatado em 77% das vezes que o Samu
sai para atender a casos de parada cardiorespiratória, situação em
que cada minuto de demora no atendimento reduz em 15% o tempo de
sobrevida do paciente. Ele observou que o tempo necessário a um
atendimento nessa situação, que teria sido a do bebê lembrado no
debate, é curto, entre quatro e seis minutos.
Rasível apresentou o Plano Diretor de
Regionalização do Samu Estadual como forma de integrar e ao mesmo
tempo descentralizar o atendimento, racionalizando recursos e
melhorando a qualidade e o tempo do atendimento de urgência nas
várias macrorregiões do Estado. Citou como modelo o plano já em
execução na macrorregião Norte, contemplando 86 municípios e com
alocação de ambulâncias em 34 bases, integrando também o Corpo de
Bombeiros.
Segundo ele, de janeiro a abril deste ano, os
atendimentos triplicaram na macro Norte, com 26% das demandas tendo
sido resolvidas no próprio local de atendimento, sem com isso
sobrecarregar a rede hospitalar desnecessariamente. "Isso mostra a
importância de uma central de regulação que defina o melhor tipo de
atendimento para cada chamada recebida", defendeu ele.
O coordenador estadual do Samu defendeu ainda a
compreensão para o papel técnico de cada serviço, afirmando que a
integração deve levar em conta que eles têm competências distintas,
cabendo ao Corpo de Bombeiros atuar em casos como de feridos em
acidentes presos em ferragens, afogamentos, salvamento em alturas,
entre outros, e ao Samu casos de cunho mais clínico. Ele defendeu
que, no caso de unificação, o comando seja exercido por autoridade
sanitária onde houver Samu instalado, e pelo Corpo de Bombeiros onde
não houver.
A gerente do Samu de Belo Horizonte, Maria Silvia
Mascarenhas Martins de Lucena, informou que o serviço na capital
conta com 700 funcionários, sendo que 84 médicos permanecem a postos
na central de atendimento. São cerca de 50 mil ligações por mês para
o 192, que são transferidas aos médicos para a regulação do caso.
Das chamadas, 30% são de casos que necessitam de envio de
ambulância, 20% requerem apenas orientação médica, 30% são para
transporte inter-hospitalar e as 20% restantes são de trotes, dos
quais 15% são identificados. Em veículos, o serviço conta com 18
unidades básicas e cinco unidades avançadas.
Ingresso de médicos no Corpo de Bombeiros gera
divergência
Frisando que a integração com o Samu já ocorre,
embora precise melhorar, o diretor de Assuntos Institucionais do
Corpo de Bombeiros, coronel Alexandre Marcelo Costa, destacou que
uma central única de atendimento é uma das exigências para que a
cidade possa sediar jogos da Copa de 2014 e frisou que a corporação
e a Prefeitura de Belo Horizonte já estão trabalhando nessa
direção.
O coronel informou, ainda, que foi aberta
sindicância no Corpo de Bombeiros para apurar se houve
irregularidade no atendimento prestado ao bebê que veio a falecer em
junho, em Belo Horizonte.
O representante do Corpo de Bombeiros anunciou, por
outro lado, que o sistema de atuação da corporação no atendimento de
urgência está sendo revisto, tendo sido encaminhada proposta ao
governo para o ingresso de 80 médicos reguladores em seus quadros.
O coordenador do Samu Estadual, contudo, criticou a
proposta dizendo que não via a iniciativa como avanço, uma vez que
esse encaminhamento poderia partir para uma duplicidade de atuação.
Mas o coronel defendeu a proposta dizendo que era uma maneira de a
corporação contribuir com a integração dos serviços, de forma que os
médicos de ambos os órgãos possam discutir os casos no mesmo nível
de conhecimento.
Deputados sugerem melhorias para o atendimento
O deputado Sargento Rodrigues (PDT) lembrou que a
integração das forças de segurança pública em Minas já resultou em
melhorias importantes para o Estado, como o acesso rápido da Polícia
Militar aos bancos de dados da Polícia Civil, e defendeu que o
protocolo nesse sentido para o atendimento de emergência seja
agilizado.
O deputado Carlos Pimenta (PDT) ressaltou a
credibilidade dos dois órgãos e disse que a experiência de
integração e regionalização do atendimento de urgência na
macrorregião Norte deve servir de modelo para todo o Estado por ser
um dos projetos-pilotos mais bem elaborados no caminho da
integração. "Sem o envolvimento de todas as esferas de governo
nenhum programa de emergência e urgência dará certo".
Já o deputado Neider Moreira (PPS) ressaltou que o
Samu e o serviço de emergência dos Bombeiros funcionam de forma
complementar e assim devem continuar, embora necessitem de uma
regulação única, que tenha à frente do comando um profissional
médico.
Presenças - Deputados Délio
Malheiros (PV), presidente; Ivair Nogueira (PMDB), vice; Domingos
Sávio (PSDB); Neider Moreira (PPS); Carlos Pimenta (PDT) e Sargento
Rodrigues (PDT). E ainda o tenente coronel BM Jedial Alves Costa,
chefe da 3ª Seção do Estado Maior.
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