Projeto popular de reforma política vai ser encaminhado à Câmara

Um projeto de reforma política mais ampla e participativa, como alternativa à proposta encaminhada pelo Governo Feder...

02/07/2009 - 00:02
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Projeto popular de reforma política vai ser encaminhado à Câmara

Um projeto de reforma política mais ampla e participativa, como alternativa à proposta encaminhada pelo Governo Federal, estará tramitando em breve na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados. A informação foi divulgada pela deputada federal Luíza Erundina (PSB-SP), ex-prefeita de São Paulo, que coordena a Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular. Ela participou nesta quinta-feira (2/7/09) da audiência pública na Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que discutiu propostas para uma reforma política no País. A reunião foi requerida pelos deputados André Quintão (PT), presidente da comissão, e Carlin Moura (PCdoB).

A proposta alternativa tem como autores a Frente Parlamentar pela Reforma Política e mais 11 entidades da sociedade civil, entre elas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O projeto traz medidas que visam ao fortalecimento da democracia direta e participativa, o aperfeiçoamento da democracia representativa e a democratização da comunicação e do Poder Judiciário.

A deputada Luíza Erundina informou que a reunião é a primeira de várias que serão realizadas pelo Brasil para debater o assunto. "Se, como tem dito a imprensa, o Congresso enterrou a reforma política, aumenta a responsabilidade da sociedade civil no sentido de pressionar os parlamentares para que a façam", reforçou. A deputada propôs a criação de frentes parlamentares pela reforma política nas Assembleias Legislativas. Ela ainda avalia que a democratização dos meios de comunicação é um requisito para que se faça a reforma política e outras de que o País necessita.

Complementando essa fala, Eliana Magalhães, do Instituto de Estudos Socio-Econômicos (Inesc), disse que "se a reforma política não for retirada dos muros do Congresso, será de fato enterrada". Para ela, a proposta do governo não pode ser chamada de reforma política, mas de um arremedo com alterações pontuais na legislação eleitoral e partidária. "Precisamos é de democratizar a democracia; senão, continuaremos a ver escândalos sucessivos", defendeu ela, lembrando que o fórum está coletando assinaturas de apoio ao projeto, para lhe dar maior legitimidade.

Ampliação da democracia direta

Na sequência, foi apresentada com mais detalhes a proposta, que aborda dois grandes eixos relacionados com o exercício do poder: de um lado, instrumentos de democracia direta e participativa, e de outro, institutos de democracia representativa. A ideia é fortalecer e ampliar as consultas à população através dos instrumentos atuais - plebiscito, referendo, projeto de lei de iniciativa popular. Outra medida seria a criação de uma comissão de fiscalização das eleições, que atuaria em todos os pleitos com o objetivo de fiscalizar seu andamento e denunciar irregularidades.

No terreno da democracia representativa, a reforma política defendida pela frente parlamentar lida com os institutos das coligações, federações partidárias, listas pré-ordenadas, financiamento público exclusivo, financiamento partidário e fidelidade partidária. Pelo projeto, ficariam vedadas as coligações nas eleições proporcionais. Uma novidade é a criação das federações partidárias, que reuniriam dois ou mais partidos, mas preservando registro e identidade de cada um. Nessas federações, os partidos terão que atuar como uma única agremiação partidária, tanto no nível parlamentar quanto no eleitoral, por um período mínimo de três anos.

Em relação às lista partidárias, postula-se o voto em listas pré-ordenadas, com alternância de sexo na totalidade da lista. A definição de cada lista se daria em convenção partidária, com escolha mediante voto direto e secreto de pelo menos 15% dos filiados. Sobre financiamento público, a frente parlamentar defende o veto ao uso de recursos do Fundo Partidário em campanha eleitoral. Doação irregular ou para uso de recursos em campanha será punida com multas e outras sanções.

Quanto ao financiamento dos partidos, o projeto defende a proibição aos partidos de receberem qualquer contribuição de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, com exceção do financiamento pelo Fundo Partidário e pelos filiados. Em todos esses casos, fica vedada a utilização dos recursos em campanhas eleitorais. Por fim, em relação à fidelidade partidária, a proposta prevê uma janela para mudanças de partido sempre entre 10 de maio e 10 de junho. Mas a migração só poderá ocorrer se for configurada mudança de orientação partidária essencial, perseguição partidária ou no caso de coligação, fusão e incorporação partidárias. Neste último caso, a mudança será permitida somente se houver alteração essencial de orientação em relação à agremiação originária.

Reforma é a mais discutida mas avança menos

Para o deputado André Quintão, a proposta de reforma política está entre as mais discutidas, mas é a que menos avança. Ele defende que a proposta não seja um mero remendo, mas uma reforma ampla, que aperfeiçoe também os meios de comunicação, amplie a democracia participativa e seus mecanismos de controle, além de proceder também a uma reforma eleitoral. Robson Sávio Reis Souza, assessor do Núcleo de Estudos Sócio-Políticos da CNBB, também destacou que a entidade apoia projetos de reforma política abrangente, e não remendos.

Nessa mesma linha, o deputado Carlin Moura acrescentou que a plataforma popular coloca a discussão sobre a reforma política no seu devido lugar. Concordando com a proposta da frente parlamentar, ele defendeu o uso mais frequente de instrumentos como o plebiscito e o referendo, além de criticar o atual modelo de financiamento de campanha. "As grandes crises que o País viveu nos últimos anos advêm de problemas com financiamento de campanha", constatou.

O deputado Fábio Avelar (PSC) disse que a reforma política deve contemplar a organização dos partidos. Segundo ele, a instabilidade das legendas nas pequenas cidades, com a presença de comissões provisórias no lugar de diretórios, torna difícil o exercício da fidelidade partidária.

O integrante da Coordenação do Fórum Mineiro pela Reforma Política Ampla, Democrática e Participativa, Edmo Luiz da Cunha Pereira, disse que a democracia vem crescendo no mundo, ao contrário do que acontece no Brasil. "Em 120 anos de República, fizemos apenas dois plebiscitos e um referendo", lamentou, lembrando que, somente na última eleição presidencial dos Estados Unidos, foram realizados simultaneamente mais de 150 referendos. "A reforma política tem que visar à radicalização da democracia, erradicando a desigualdade e a exclusão", afirmou o presidente da CUT-MG, Marco Antônio de Jesus.

Concordando com a deputada Luíza Erundina, o conselheiro fiscal Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Luiz Carlos Bernardes, afirmou que o aprofundamento da democracia brasileira só se dará com a democratização da comunicação. Ele disse ainda que as instituições da democracia representativa existem desde a Revolução Francesa e estão atrasadas em relação ao avanço da sociedade - daí a necessidade de uma ampla reforma política.

Requerimento - Foi aprovado requerimento dos deputados André Quintão e Carlin Moura, para que seja realizada audiência pública para o lançamento da Frente Trabalhista Mineira em prol da Competência Penal da Justiça do Trabalho.

Presenças - Deputados André Quintão (PT), presidente; Eros Biondini (PSC), vice; Carlin Moura (PCdoB), Fábio Avelar (PSC), Adelmo Carneiro Leão (PT), Vanderlei Jangrossi (PP), Sebastião Helvécio (PDT) e Almir Paraca (PT).

 

 

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