Políticas ministeriais para emigrantes são apresentadas em audiência

A possibilidade de os emigrantes brasileiros sacarem o Fundo de Garantia (FGTS) do país onde vivem, a criação da Casa...

02/07/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Políticas ministeriais para emigrantes são apresentadas em audiência

A possibilidade de os emigrantes brasileiros sacarem o Fundo de Garantia (FGTS) do país onde vivem, a criação da Casa do Trabalhador Brasileiro e de programas de qualificação dos brasileiros regressos, inclusive com bolsas de estudos, são algumas das medidas que estão em estudo pelo Conselho Nacional de Imigração (CNIg). As informações foram apresentadas à Comissão Extraordinária de Políticas Públicas de Apoio aos Emigrantes Mineiros da Assembleia Legislativa de Minas Gerais pelo suplente do conselho, Rinaldo Gonçalves de Almeida, nesta quinta-feira (2/7/09). Essa foi a primeira reunião de debates da comissão.

O coordenador, deputado Chico Uejo (PV), lembrou que a comissão iniciou seus trabalhos em meio a crise mundial. "Os 3,5 milhões de brasileiros que vivem no exterior são os primeiros a sentir os impactos da crise, sobretudo o desemprego", considerou o parlamentar, que viveu dois anos no Japão, estudando e trabalhando. "Os brasileiros que saem do País são importantes para o Brasil e também para os países que os acolhem", continuou.

O representante do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Rinaldo de Almeida, ressaltou que nesta quinta está marcada a cerimônia de sanção da lei que anistia estrangeiros em situação irregular no Brasil.

Ele disse que também está sendo esperado o envio do projeto do novo Estatuto do Estrangeiro para o Congresso pelo presidente Lula. O projeto atualiza o estatuto em vigor, que data de 1980, e, entre outras medidas, altera o nome do CNIg para Conselho Nacional de Migração. O conselho reúne vários ministérios, além confederações de empregadores, centrais sindicais e sociedade científica. O expositor acredita que, com isso, o governo brasileiro dá um exemplo para os outros países de acolhimento aos estrangeiros.

Tratados beneficiam emigrantes documentados

Rinaldo de Almeida explicou que a maior parte das convenções e tratados internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) garante os direitos dos emigrantes documentados, que são minoria entre os brasileiros. A Convenção Internacional sobre a proteção dos direitos de todos os trabalhadores e suas famílias, de 1993, é a mais abrangente, na opinião do representante do MTE. O documento, que já foi ratificado por 20 países, está em vigor, mas ainda não foi assinado pelo governo brasileiro.

Quanto à Casa do Trabalhador Brasileiro, a primeira deve ser criada no Japão ainda este ano. A segunda, em Foz do Iguaçu. O objetivo é dar apoio e proteção ao migrantes brasileiro, incluindo atendimento jurídico; promover a articulação com instituições financeiras; realizar cursos de qualificação, cidadania e, contato com a cultura brasileira; e, ainda, fornecer informações sobre reinserção dos regressos no mercado de trabalho brasileiro.

O trabalho realizado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) foi apresentado pelo assessor do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior, Ronaldo Rodegher. Segundo ele, os emigrantes brasileiros contam com uma rede de 171 postos de atendimento consular, entre embaixadas (103), consulados-gerais (48), consulados (5) e vice-consulados (15). Entre as atividades realizadas nessas estruturas estão a localização de brasileiros desaparecidos; a assistência a presos, doentes e o auxílio à entrada de brasileiros em outros países. Além dos serviços relacionados com a Polícia Federal, Justiça Eleitoral, cartórios, promoção cultural e industrial.

Rodegher também falou do trabalho da Subsecretaria-Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior, criada a partir da recomendação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Emigração Ilegal, para ser um reforço da assistência consular aos brasileiros que vivem em outros países. Segundo ele, há no mundo entre 2 milhões e 3,7 milhões de brasileiros. Quase um terço desses emigrantes estão nos Estados Unidos. Na Europa são mais de 500 mil e, na América do Sul, cerca de 400 mil. Os 300 mil que vivem no Japão estão todos em situação regular, por isso, esse é o número mais preciso.

Crise econômica - Para o assessor do MRE, o impacto da crise econômica sobre os brasileiros que vivem fora foi significativo, sobretudo em função de seus reflexos na indústria da construção civil da Espanha e de exportação do Japão. No entanto, segundo ele, não foi percebido um movimento de regresso em massa de emigrantes ao Brasil. Outro aspecto da crise seria, de acordo com Rodegher, o recrudescimento das políticas migratórias.

O empenho da Polícia Federal, como braço do Ministério da Justiça, para garantir maior controle dos fluxos migratórios no Brasil foi destacado por Rodrigo de Melo Teixeira, da Delegacia de Migração da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal. Na opinião dele, os investimentos em pessoal e tecnologia resultarão em mais segurança e menos fraudes na migração e, consequentemente, em mais respeito ao brasileiro no exterior.

Entre os investimentos feitos pela Polícia Federal nessa área, ele ressaltou a modernização dos passaportes e o projeto de interligação das secretarias de segurança pública em um único sistema digitalizado de registros de identidade.

O preconceito sofrido por brasileiros fora do País é uma preocupação do deputado Vanderlei Jangrossi (PP). Ele lembrou o episódio dos dentistas brasileiros que foram perseguidos em Portugal, há alguns anos. "O brasileiro recebe bem o estrangeiro que vive aqui, mas o contrário nem sempre acontece", comparou.

Emigrantes mineiros contribuem com desenvolvimento de suas regiões de origem

O conceito de "migração diaspórica", como aquela em que os emigrantes se organizam socialmente nas comunidades de origem nos países de destino, sem ruptura de laços com os países de naturalidade, foi introduzido no debate pelo professor Eduardo Rios Neto, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG. Segundo ele, esse comportamento tem contribuído para a defesa dos direitos humanos dos migrantes e, ainda, para o desenvolvimento comunitário das regiões de origem. Essa seria a situação dos mineiros que vivem fora do País, segundo o pesquisador.

Para ilustrar o argumento, Eduardo Neto apresentou dados das remessas feitas por brasileiros emigrantes. Estima-se que os brasileiros recebem anualmente cerca de US$ 5,4 bilhões em remessas de brasileiros residentes no exterior. De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o valor das remessas em 2003 foi de cerca de U$ 2 bilhões, fazendo com que o Brasil seja o sexto país em remessas na América Latina. As remessas variaram entre 3% e 6% da pauta de exportações brasileiras. O deputado Chico Uejo ficou impressionado com a informação e comparou: "Isso representa metade do orçamento de investimentos de Minas Gerais para 2009".

Sonho frustrado - Dados alarmantes da realidade dos emigrantes da região de Governador Valadares ao retornarem ao Brasil foram transmitidos pela professora da Universidade do Vale do Rio Doce (Univale), Sueli Siqueira. Segundo ela, o sonho dos emigrantes é trabalhar, juntar dinheiro e retornar ao País depois de três ou cinco anos com condições melhores de ingressar no mercado de trabalho. De acordo com a professora, o sonho acaba virando ilusão: 70% dos regressos não são bem-sucedidos em seus empreendimentos.

A explicação para isso, segundo estudo apresentado por ela, seria a falta de aperfeiçoamento profissional enquanto vivem fora do País. Além disso, Sueli Siqueira explicou que essas pessoas retornam para um mundo imaginário, que é a cidade que deixaram há cerca de dez anos. "Eles investem muito, perdem tudo rapidamente e voltam a emigrar", resumiu. As experiências de sucesso acontecem com aqueles que já eram empreendedores e que investiram em áreas que já tinham conhecimento.

Cultura da emigração afeta projetos educacionais

A professora afirma que no Vale do Rio Doce as pessoas vivem a "cultura da emigração", o que significa que a possibilidade de deixar o País perpassa os projetos de vida dos cidadãos. De acordo com os estudos apresentados, isso faz com que as pessoas não invistam em projetos no País, sejam descrentes das políticas públicas e não valorizem a cultura local. "Isso gera um impacto sobre a educação", explicou. Sueli Siqueira também falou que os filhos de emigrantes, sobretudo os nascidos em outros países, também encontram muitas dificuldades de adaptação no sistema escolar brasileiro.

O deputado Sebastião Helvécio (PDT) comentou as explicações da professora Sueli de que os emigrantes querem voltar com status de vencedores. "A pessoa quer ter acesso a um mundo globalizado, mas quer ser reconhecida pela sua comunidade local", afirmou. Algumas medidas estão sendo tomadas para tentar minimizar esses impactos, como um programa lançado no último dia 11 para qualificação de familiares recebedores de remessas. A iniciativa é uma parceria entre Sebrae, Caixa Econômica Federal, Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros. A professora sugeriu, contudo, que sejam pensadas políticas públicas de reinserção dos emigrantes.

O deputado Eros Biondini (PHS) destacou a importância da assistência religiosa aos emigrantes, sobretudo para a autoestima dessas pessoas. A importância da representação parlamentar na defesa daqueles que estão distantes foi destacada pelo deputado Sebastião Helvécio. Para o deputado Wander Borges (PSB), a experiência dos brasileiros fora do País é bastante variável. Alguns são bem recebidos enquanto outros encontram muitas dificuldades. O deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) comemorou o projeto do novo Estatuto do Estrangeiro e a notícia da anistia dos imigrantes que vivem no Brasil, além de elogiar as medidas modernizadoras da Polícia Federal. O deputado também afirmou que é necessário o apoio aos regressos como garantia do direito de ir e vir.

Presenças - Deputados Chico Uejo (PSB), coordenador; Eros Biondini (PHS); Wander Borges (PSB); Sebastião Helvécio (PDT); Vanderlei Jangrossi (PP); Dalmo Ribeiro Silva (PSDB); e Domingos Sávio (PSDB). Além dos convidados citados na matéria, participaram da reunião o cônsul da Espanha em Belo Horizonte, Pedro Cuesta; e o vice-presidente da Associação Mineira de Cultura Nipo-Brasileira, Guenyo Fujii.

 

 

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